A Fé Antiga e Perene Falando ao Mundo Atual: Temas Teológicos, Notícias, Reportagens, Comentários e Entrevistas à luz da Fé Ortodoxa.

domingo, 8 de agosto de 2010

Idolatria

 
Olá, bom dia !
 
Eu gostaria de saber se a Igreja Ortodoxa também adora imagens como é feito na Igreja Romana ?
Sou evangélico, e não suporto Idolatria.
Abraço.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Oração Para Os Momentos de Calamidade

Ventos causados por ciclone extratropical causa ondas altas na orla do Rio de JaneiroA Liturgia e os ofícios da Igreja Ortodoxa oferem constantes orações em favor do povo e suas autoridades. Pedimos, também que Deus nos livre de toda “ira, perigo e necessidade”, e, também, que nos ampare, salve e proteja-nos por Sua graça.

Estamos solidários a toda dor que milhares de pessoas no Rio de Janeiro estão padecendo pela perda de parentes e amigos, em consequência das fortes chuvas que se abatem sobre a capital e diversas cidades do Estado.

Convocamos os cariocas a buscar conforto e direção rezando o Salmo 45(46), e também nesta oração:

“Senhor dos Exércitos, tem misericórdia de nós!

Deus Onipotente, Pai das misericórdias e Deus de todo consolo, vem em meu socorro e livra-me da dificuldade que me assedia. Creio, Senhor, que a minha vida está sob os Teu cuidado e que todas as coisas ocorrem para o bem dos que Te amam.

Afasta de mim a ansiedade e a dor. Ajude-me a enfrentar este momento com fé, valor e sabedoria. Dá-me que esta prova me leve a estar mais perto de Ti, pois Tu És a minha Rocha e o meu Refúgio, meu consolo e minha esperança, meu deleite e minha alegria. Eu confio em Teu amor e compaixão para comigo e, assim, bendigo o Teu Nome, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e sempre, e pelos séculos dos séculos. Amém!”

Também pode ser feita a seguinte petição à Mãe de Deus:

Ó admirável Protetora dos cristãos e nossa medianeira ante o Criador, não desprezes as súplicas de nenhum de nós, pecadores; mas, apressa-te a auxiliar-nos como Mãe Bondosa que és, pois te invocamos com fé: roga por nós junto de Deus, tu que defendes sempre àqueles que te veneram!

 

Foto: Rony Maltz/Folha Imagem

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quinta-Feira Luminosa

Epístola
Atos dos Apóstolos 2:38-43

Leitura do Evangelho
João 3:1-15

Santos e Festas
Agavos, Rouphos, Asynkritos, Flegonte, Herodion, e Hermes dos 70 Apóstolos
Rufus, o obediente das Cavernas de Kiev,
Celestino,  Papa de Roma

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Os Santos Mártires Agatopodus e Teodulus, 5 de Abril

agatopodos_teodulus_05_04 Agatopodus foi diácono e Teodulus leitor na igreja em Tessalônica. Agatopodus era ancião e Teodulus muito jovem. No tempo da perseguição de Diocleciano aos Cristãos estes dois foram chamados perante o tribunal. respondiam com alegria às perguntas que lhe faziam e confessam em alta voz: "Nós somos cristãos!" Todas as advertências que os juízes lhe faziam para que negassem a Cristo e adorassem os deuses romanos foram ignoradas por eles.

Após um longo período de prisão, Agatopodus e Teodulus foram sentenciados à morte por afogamento no mar.

Logo depois, o mar lançou seus corpos afogados de volta à costa e cristãos sepultaram seus corpos com honra. São Teodulus apareceu para seus conhecidos como um reluzente anjo e pediu-lhes para distribuir tudo o que restava de sua propriedade para os pobres. Estes gloriosos e fantásticos soldados de Cristo padeceram honoravelmente durante o reino de Diocleciano e do príncipe Faustinus, de Tessalônica, no ano 303.

segunda-feira, 29 de março de 2010

GRANDE SEGUNDA-FEIRA SANTA

MATINS: Mateus 21:18-43  

HORA SEXTA: Ezequiel 1:1-20     

VÉSPERAS: Êxodo 1:1-20; Jó 1:1-12

LITURGIA DOS DONS PRÉ-SANTIFICADOS: Mateus 24:3-35

  

Comparação entre Cristo e José, Filho de Jacó

nymphios Neste dia começa a comemoração da Santa Paixão do Salvador. O Patriarca José, do Antigo Testamento, e símbolo de Cristo, era o décimo primeiro filho de Jacó. Porque seu pai o amava muito, seus irmãos –movidos por ciúmes – lhe vendera para mercadores estrangeiros, que por sua vez, venderam-no como escravo aos egípcios. Insultado por sua castidade foi jogado na prisão.

Assim como José foi rejeitado por seus irmãos, Cristo foi rejeitado pelo seu povo. José foi vendido por 30 moedas de prata pelos seus irmãos; também Judas, o discípulo de Cristo, traiu o Senhor pela mesma quantidade. Como José foi deixado para morrer em uma vala, assim também, Jesus foi sepultado. José, da humilhante escravidão fora exaltado, tornando-se um poderoso governante no Egito; assim, também, Cristo foi vitorioso sobre a morte através de sua ressurreição.

Portanto, José simbolizada em si a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua grande glória. (Gn 11:41).

Na Grande Segunda-Feira Santa também se faz menção da figueira estéril que foi amaldiçoada pelo Senhor.

Após sua entrada triunfal em Jerusalém, Jesus viajou para Betânia. Cansado e com fome, viu de longe uma figueira. Ao chegar à árvore, viu que não tinha frutos. A figueira representa a sinagoga dos judeus, a qual não possuía os frutos necessários da virtude e da justiça, por isto, o Senhor os despiu de toda a graça espiritual. (Mateus 21:18-20). Cristo compara o figo ao pecado. Tal como o figo é doce, assim, o pecado é atraente e desejado.

O ofício da Grande Segunda-Feira Santa, tem início ao anoitecer do Domingo de Ramos  com a celebração das Matinas. Na Igreja Ortodoxa os ofícios seguem a ordem da Criação, cuja cronologia conclusiva se dá a partir do entardecer: “houve tarde e noite...”, a qual norteia a prática litúrgica do Velho Testamento.

 

Tradução e adaptação: Pe. Mateus

domingo, 21 de março de 2010

V Domingo da Grande Quaresma – Domingo de Santa Maria do Egito

Epístola: Hebreus 9, 11-14

Evangelho: Marcos 10, 32-45

 

Santa Maria do Egito

maria_do_egito2 A biografia desta maravilhosa santa foi escrita por São Sofronius, o Patriarca de Jerusalém.

Uma vez, durante o honorável jejum quaresmal, o ancião Hieromonge Zosimus, retirou-se ao deserto além do Jordão, numa jornada de vinte dias. De repente, ele viu uma pessoa com um corpo murchado e nu cujo cabelo era tão branco como a neve e que começou a fugir da visão de Zosimus. O ancião correu por um tempo até esta pessoa que se agachou em um riacho e gritou:

"Abba Zosimus perdoe-me pelo amor do Senhor. Eu não posso olhar porque eu sou uma mulher nua".

Zosimus então lançou sua roupa exterior para ela que, após se vestir, se apresentou perante ele. O ancião ficou temeroso ao ouvir seu nome falado pela boca desta mulher que ele não conhecia.

Seguindo sua prolongada insistência, a mulher relatou sua história de vida. Ela nasceu no Egito e com a idade de vinte anos começou a viver uma vida de prostituição em Alexandria onde ela passou dezessete anos nesta forma pervertida de vida. Guiada por uma chama adúltera da carne, um dia ela tomou um barco que estava indo para Jerusalém. Chegando à Cidade Santa, quis entrar na igreja de modo a venerar a Honrável Cruz, mas alguma força invisível a conteve e lhe impediu de entrar na igreja. Em grande temor, a mulher contemplou o ícone da Toda Santa Mãe de Deus no vestíbulo e orou para que lhe fosse permitido entrar na igreja para venerar a Honrável Cruz, de uma só vez confessando seus pecados e impurezas e prometendo que ela iria onde quer que fosse que a Toda Pura a dirigisse. Então foi-lhe permitido entrar na igreja.

Tendo venerado a Cruz, novamente entrou no vestíbulo e, perante o ícone, deu graças a Mãe de Deus. Naquele exato instante ela ouviu uma voz dizendo:

"Se você passar além do Jordão irá encontrar o lugar real!"

Imediatamente a mulher comprou três pães e começou a jornada para o Jordão aonde chegou naquela mesma noite. No dia seguinte recebeu a Santa Comunhão no Mosteiro de São João e atravessou o rio Jordão.

A mulher permaneceu no deserto por quarenta e oito anos em grande tormento, medo e luta com pensamentos apaixonados como se com bestas selvagens. Ela se alimentava de vegetação.

No encontro entre o Padre Zosimus e Santa Maria do Egito, o ancião a viu levitar durante a oração. Ao se despedirem, ela pediu para que ele lhe trouxesse a Santa Comunhão no próximo ano na costa do Jordão, aonde ela viria, então, para receber.

No ano seguinte, Zosimus chegou na costa do Jordão à noite com a Santa Comunhão. Ele desejava saber como esta santa iria atravessar o Jordão. Naquele momento, na luz da lua, ele a avistou de longe e, ao chegar próxima do rio, fez o sinal da cruz sobre ele e andou sobre as águas como se sobre terra seca. Depois de Zosimus administrar a Santa Comunhão, ela lhe pediu para vir no próximo ano ao mesmo riacho.

No ano seguinte, ao chegar ao local do encontro marcado, Zosimus encontrou o corpo da Santa já sem vida. Sobre sua cabeça na areia estava escrito:

"Abba Zosimus, enterre o corpo da humilde Maria neste sitio; faça o pó voltar ao pó. Eu morri em 1 de abril, à mesma noite do sofrimento de Cristo, o salvador, logo após receber a Comunhão dos Divinos Mistérios".

Assim, Zosimus enterrou o corpo desta maravilhosa santa, Maria do Egito. Quando ele retornou ao mosteiro relatou a história da vida dela e os milagres que ele mesmo pessoalmente presenciou. Assim, o Senhor sabe como glorificar os pecadores penitentes.

Santa Maria é também comemorada no Quinto Domingo da Quaresma. A Igreja mantém Santa Maria do Egito como um exemplo e incentivo para os fiéis ao arrependimento durante estes dias de jejum. Maria adormeceu por volta do ano 530.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Os Santos Mártires Crisantus e Daria e os outros com Eles.

crisantus Crisantus era o filho único de Polemius, um distinto patrício, que se estabeleceu em Roma vindo de Alexandria. Como filho de pais ricos, Crisantus estudou todos os assuntos seculares, tendo os mais estudados homens como instrutores. Mas a sabedoria secular o confundiu e o deixou na incerteza sobre o que é a verdade. Como resultado disto entrou em crise. Mas Deus, que planeja tudo, aliviou sua aflição. Uma cópia escrita dos Evangelhos e do Atos dos Apóstolos veio às mãos do jovem Crisantus. Tendo-os lido, Cristantus foi iluminado com a verdade, e ele desejou um mestre e encontrou um na pessoa de certo padre, Carpoforus, que o instruiu e o batizou.

Isto não agradou ao seu pai, que tentou tudo para o dissuadir de crer em Cristo. Não tendo sucesso, seu pai tentou lhe corromper o colocando sozinho com uma mulher imoral. Nisto, Crisantus foi vitorioso sobre si mesmo e perseverou em castidade.

Seu pai, então, o coagiu a casar com Daria, uma jovem pagã. Crisantus aconselhou Daria a abraçar a Fé em Cristo e viver juntos como irmão e irmã, apesar de fingirem serem casados. Quando seu pai morreu, Crisantus começou a confessar Cristo abertamente e a viver como um cristão, tanto ele como sua casa inteira. Durante o reinado do imperador Numeriano, ele e Daria foram cruelmente torturados por sua fé. O torturador Claudius, testemunhando a paciência destes honráveis mártires e os milagres que eram manifestos durante a agonia deles, abraçou a Fé de Cristo com toda a sua casa. Por isto, Claudius foi afogado. Ambos os seus filhos foram decapitados. Sua esposa, depois de recitar orações, morreu nas forcas. Daria era tão firme em sua fé que os pagãos clamaram, "Daria é uma deusa!".

Finalmente, foi decretado que Crisantus e Daria fossem enterrados numa cova funda e coberto com pedras. Depois uma igreja foi eregida neste sítio. Havia uma caverna perto desta cova onde alguns cristãos se reuniam para a oração e comunhão em memória dos Santos Crisantus e Daria. Ouvindo disto, os pagãos atacaram e trancaram esta caverna. Por uma tal morte, os pagãos retiram estes cristãos deste mundo para um mundo melhor onde Cristo reina eternamente. Estes gloriosos mártires, Crisantus

e Daria e os demais, entre o quais estavam Diodorus, o padre, e Marianus, o diácono, sofreram por Cristo em Roma no ano 284.

quinta-feira, 11 de março de 2010

IV Quinta-Feira da Grande Quaresma

S. Sofrônio, patriarca de Jerusalém († 638).

Jejum

Matinas: Is 28, 14-22;
Vésperas: Gn 10, 32-11, 9; Pr 13, 20-14, 6

São Sofronius, Patriarca de Jerusalém, 11 de Março

sofronio_11_03 Sofronius nasceu em Damasco de pais distinguidos. Apesar de haver adquirido sabedoria terrena, ele foi, não obstante, não vivia satisfeito e foi procurar adquirir sabedoria espiritual.

No mosteiro [Lavra] de São Teodósio, ele se encontrou na companhia de um monge, João Moschus, quem ele escolheu para ser seu professor, e com quem visitou mosteiros e  ascetas no Egito. Sua palavra de ordem "Cada dia aprender mais a respeito da sabedoria espiritual". Tudo o que eles aprenderam escreveram e publicaram em dois livros sob o título, "Prado espiritual".

Depois,  viajaram para Roma, onde Moschus morreu deixando um testamento para Sofronius para ter seu corpo levado, ou para o Sinai ou para o Mosteiro de São Teodósio. Sofronius cumpriu as vontades e desejos de seu professor e transladou seu corpo para o Mosteiro de São Teodósio e depois permaneceu em Jerusalém, que naquele tempo, foi liberta dos persas.

Sofronius esteve presente no Translado da Santa Cruz da Pérsia para Jerusalém e viu como o Imperador Heráclius levou a Cruz seus ombros para dentro da Cidade Santa. O idoso Patriarca Zacarias, que havia também retornado da escravidão, não viveu muito tempo depois. O Patriarca Zacarias foi substituído por Modestus que morreu em 634. Modestus foi substituído pelo Bem-aventurado Sofronius.

Este santo governou a Igreja por dez anos com sabedoria e zelo excepcionais.  levantou-se em defesa da Ortodoxia contra a heresia do Monotelismo, a qual foi condenada pelo Concílio em Jerusalém antes de ser condenada no Sexto Concílio Ecumênico [Constantinopla, 680].

Sofronius escreveu a vida de Santa Maria do Egito, compilou a Ordem da Grande Benção da Água, e introduziu diversos novos hinos e canções em vários serviços litúrgicos.

Quando o califa árabe capturou Jerusalém, Sofronius lhe implorou que poupasse as vidas dos cristãos que Omar insinceramente prometeu. Quando Omar começou a saquear e maltratar os cristãos em Jerusalém, Sofronius, com lamentação, orou à Deus para levar a si mesmo dentre os vivos na terra, de modo que não testemunhasse a profanação dos santos santuários. Deus ouviu sua oração e tomou Sofronius para si mesmo em sua mansão celeste no ano 644.

quarta-feira, 10 de março de 2010

IV Quarta-Feira da Quaresma

S. Quadrato de Corinto e cc., mártires († 258).

Jejum

Matinas: Is 26, 21-27, 9;
Vésperas: Gn 9, 18-10, 1; Pr 12, 23-13, 9

O Santo Mártir Codratus de Corinto e Outros Consigo

ALLSAINT Durante o tempo da perseguição aos cristãos, muitos dos fiéis fugiram para as montanhas e para as cavernas. Assim fez a mãe de Codratus. Ela estava grávida na época e deu à luz a Codratus em na floresta e morreu logo depois. Codratus foi cuidado, alimentado e guiado pela Divina Providência e por seu Anjo da Guarda. Codratus cresceu na natureza e em solidão.

Quando ele tinha doze anos de idade, entrou na cidade e lá alguns homens benevolentes se ligaram a ele e lhe proveram uma educação. Estudou medicina e curou os doentes, muitos com curas naturais e mais ainda pelo poder do espírito e oração, ao que era acostumado desde sua infância.

Quando uma nova perseguição começou sob Décio, Codratus foi levado a julgamento e posto em prisão. Cinco companheiros se juntaram a ele e confessaram o nome de Cristo. Eles eram Cipriano, Dionísios, Anectus, Paulo e Crescens. Todos estes foram arrastados pelas estradas pelos pagãos. Eles foram batidos com varas e apedrejados até que eventualmente foram levados ao andaime. Lá, os mártires oraram a Deus e foram decapitados.

Neste local uma fonte jorrou água do chão a qual até hoje é chamada pelo nome de Codratus e, é uma lembrança da heróica morte destes seis santos inocentes por Cristo.

Eles honorificamente sofreram pela verdade no ano 250 em Corinto durante o reinado do imperador Décio e seu governador, Jason.

terça-feira, 9 de março de 2010

IV Terça-Feira da Grande Quaresma

Ss. Quarenta Mártires de Sebaste († 322).

Jejum

Matinas: Is 25, 1-9
Vésperas: Gn 9, 8-17; Pr 12, 8-22

Os Quarenta Santos Mártires de Sebástia

Todos estes mártires foram soldados no exército romano e possuíam fé no Senhor Jesus.

Quando a perseguição dos cristãos começou durante o reino de Licinius, oram levados à corte ante o comandante. Quando este lhes ameaçou tira-lhes a honra de soldados, um deles, São Candidus, respondeu:

"Não apenas a honra de ser soldado, mas leva, também, nossos corpos, porque nada é mais querido e honrável, para nós que Cristo, nosso Deus".

Depois disto, o comandante ordenou aos seus servos apedrejar os santos mártires. Enquanto os servos estavam lançando pedras nos cristãos, as pedras voltaram e atingiram os servos, lhes golpeando severamente. Uma das pedras atingiu a face do comandante, arrancando-lhe os dentes dele. Os torturadores, raivosos como bestas selvagens, amarraram todos os santos mártires e os lançaram num lago e colocaram um guarda ao lado do

mesmo para prevenir uma possível fuga. Houve um terrível frio e o lago congelou em volta dos corpos dos mártires. Assim a dor e o sofrimento deles forma intensificados.

Tirando proveito da situação, no intento de persuadir os mártires a negar Cristo e reconhecer os ídolos de Roma, os torturados aqueceram um banho ao lado do lago à vista dos mártires congelados. De fato, um deles foi convencido. Ele saiu da água e entrou no banho. De repente, uma luz extraordinária apareceu do céu que aqueceu a água no lago e os corpos dos mártires. Com esta luz, trinta e nove grinaldas desceram do céu sobre suas cabeças. Ao ver isto, um guarda na costa removeu toda suas roupas, confessou o Nome do Senhor Jesus e entrou no lago, de modo que ele se tornou digno da quadragésima grinalda no lugar do traidor. De fato, a ultima grinalda desceu do céu sobre ele.

No outro dia a cidade inteira ficou admirada quando viram que os mártires estavam ainda vivos. Então, o juiz ordenou que a parte de baixo de suas pernas fossem quebradas e seus corpos afundados na água de modo que os cristãos não os pudesse recuperar.

Ao terceiro dia os mártires apareceram a Pedro, o bispo local, e o chamaram para juntar suas relíquias e as remove-las da água. O bispo com seus clérigos saiu na escuridão da noite e viu as relíquias dos mártires lustrando brilhantemente na água. Cada osso que foi separado dos seus corpos flutuava ao topo e ardiam como uma vela. O bispo Pedro os reuniu e os sepultou honradamente. Eles sofreram honradamente e foram coroados com glória imarcescível no ano 322.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O Santo Mártir Conon de Isauria († 275)

 

Conon foi levado a Fé em Cristo e Batizado em nome da Toda Santa Doadora da Vida Trindade pelo Arcanjo Miguel, o Comandante das Hostes Angélicas de Deus. Até sua morte, o arcanjo de Deus invisivelmente o observou. Conon foi iluminado e agraciado com a Graça do Espírito Santo tal que seu coração não foi guiado por nada mundano, mas apenas pelo espiritual e celeste. Quando os seus pais o forçaram a casar, na primeira noite ele tomou uma vela e colocou-a debaixo de um utensílio e perguntou a sua noiva, "O que é melhor, luz ou escuridão?" Ela replicou, "Luz". Ele então começou a conversar com ela a respeito da Fé em Cristo e da vida espiritual como sendo muito superior e mais atraente que a física. Nisto ele teve sucesso. Depois Conon converteu sua esposa e os pais dela à Fé em Cristo. Conon e sua esposa viveram como irmão e irmã. Logo após, sua esposa e pais morreram, e ele se retirou completamente desta vida mundana e se devotou completamente à oração, jejum e pensamentos pios. Ele realizou grandes milagres através dos quais ele converteu muitos à cristandade. Entre outros exemplos, Conon compeliu espíritos malignos para servir a ele. Durante o tempo da perseguição, ele foi capturado, torturado e atravessado com faças. Os doentes ungiram a si próprios com seu sangue e foram curados. Depois disto, ele viveu por mais dois anos na cidade de Isauria e se apresentou diante do Senhor. Este glorioso santo viveu e foi martirizado no segundo século.

terça-feira, 2 de março de 2010

Teodotus, Bispo de Cirenia da Ilha de Chipre

teodotos_02_03 Por causa de sua sabedoria e bondade, Teodotus foi eleito para o episcopado e governou a Igreja de Deus com amor e zelo. Quando a perseguição aos cristãos começou durante o reinado do imperador Licinus, este homem divino foi levado para julgamento e submetido a muitas torturas. Quando o torturador lhe aconselhou negar o Cristo e se prostrar perante os ídolos pagãos e os adorar, Teodotus replicou.

"Se você conhecesse a divindade de meu Deus em Quem eu espero, que por causa destes sofrimentos temporários, irá me fazer digno da vida eterna, você também desejaria sofrer do mesmo jeito que eu".

Os torturadores começaram a golpear o corpo dele com pregos, e ele orou à Deus com gratidão. Pensando que seu fim estava perto, Teodotus aconselhou e ensinou os cristãos que estavam ajuntados em volta dele.

Pela Providencia de Deus, o Imperador Constantino naquele tempo proclamou a liberdade aos cristãos e ordenou que todos os sentenciados fossem libertados pelo amor de Cristo. E então, este santo foi libertado e retornou a sua posição prévia em Cirenia. Torturado como foi, Teodotus viveu muitos mais anos. Depois disto, ele encontrou repouso no Senhor, a Quem fielmente serviu e para Quem ele sofreu. No ano 302 sua vida terrena terminou e foi transladado para as mansões de nosso Senhor.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A Virgindade Perpétua da Santíssima Mãe de Deus – Diálogo com um Adventista Parte I

      Pe. Mateus
Ao ler uma postagem publicada no blog do Sr. Clacir Virmes Júnior, Bacharel em Sistemas de Informação e estudante de Teologia no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, sobre os irmãos de Jesus, diga-se de passagem um dos mais lúcidos que eu já li na linha atual do pensamento protestante no Brasil, resolvi postar um comentário. A este meu comentário, o Sr. Clacir fez algumas observações, refutando a teologúmena sobre a virgindade perpétua da Santa Mãe de Deus, com base em uma hermenêutica bíblica. Percebi, então, neste diálogo, que lhe faltava uma percepção Ortodoxa e que todos os seus conceitos transitam no universo bipolar do Ocidente, ou seja, a tensão entre Católico-Romanos e Protestantes, o que é muito comum em nossa sociedade. Isto não significa que ao conhecer o mundo Ortodoxo, o Sr. Clacir e outros protestantes venham a concordar conosco, o que se acontecer nos trará grande regozijo, mas, com certeza se constituirá num enriquecimento teológico, pois, na medida de minha pouca capacidade, tentarei transmitir os tesouros que vêm do Oriente, útero e berço da Igreja.
O meu primeiro texto e os textos do Sr. Clacir podem ser acessados clicando nos "links" acima postados. Segue abaixo a minha abordagem à resposta do Sr. Clacir.
……………
Caro Sr. Clacir,

Obrigado pela publicação do comentário e abertura para o diálogo.

Quero, também, parabenizá-lo pela publicação do ícone do Batismo do Senhor Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador.

Ao ler o seu “Comentando o Comentário”, apesar do tempo escasso, me dediquei a apreciar os argumentos que o senhor tomou como base de suas posições; mas, o meu texto ficou excessivamente grande e, então, me dediquei a sintetizá-lo (o que não foi fácil). Mesmo assim, o texto ficou longo para o espaço que disponho, por isto, decidi publicá-lo no Observatório Ortodoxo. Caso o senhor ou algum dos seus leitores tenha interesse em ler a minha tréplica, é só acessar.

Como eu falei, a perpétua virgindade da Santa Mãe de Deus, não é um dogma[1]. E por não ser um dogma, na Igreja não costumamos polemizar, mas guardar silêncio sobre temas que dizem respeito a um sentir da Igreja que não se traduziu em dogma.

Qual a razão, portanto, de minha insistência nesta abordagem? É a de contribuir para o conhecimento de nossa Santa Tradição Teológica, da qual, segundo o nosso entendimento, o Ocidente Cristão se afastou. Acreditamos piamente que a crise teológica na qual vive o Ocidente, é essencialmente uma crise de referência, causa primeira da profunda fragmentação que marca os cristãos ocidentais.

A Ortodoxia não é restrita ao Oriente. O Grande Cisma ocorrido na Igreja (tendo início em meados do século XI, 1054, encontrando seu desfecho no início do século XIII, 1204, com a Quarta Cruzada que saqueou Constantinopla), provocou muitos prejuízos a Igreja, arcando o Ocidente com ônus muito maior do que o Oriente. A prova disto foi a grande confusão teológica que se estabeleceu no Ocidente com a ruptura do cordão umbilical, cujos amargos frutos estamos colhendo: Uma apostasia geral na Europa Ocidental já desembocando em anti-cristianismo (a princípio com igrejas sendo vendidas para boates e bares, por falta de fiéis, hoje com um projeto de Constituição Européia que simplesmente procura abolir a memória do cristianismo de suas raízes históricas). Na Europa Ocidental graça o ideário da sociedade prevista por John Lennon em sua música “Imagine”, ou seja, um planeta que aboliu expressões religiosas e se alimenta de uma consciência pautada por uma ética de natureza humanista-horizontal. Isto sem falar na profunda crise moral resultante desta postura, defendida, inclusive, por muitas Igrejas Protestantes que se alinharam a esta“nova” moral, concebendo a legitimação teológica de práticas homossexuais e lhes dando dignidade sacramental. Já na Europa Oriental, o mundo assiste admirado o “ressurgimento” das cinzas da Igreja Ortodoxa, que dá testemunho de uma fé viva, indivisa, que faz parte não somente de uma cultura, mas, prioritariamente, da alma do povo, trazendo toda a beleza do Cristianismo primitivo e enfrentando os desafios dos tempos hodiernos. A Igreja fustigada desde 1453 pelos turcos e, pela quase totalidade do século XX pelos comunistas, dá provas de tenacidade e torna-se sinal de Deus no mundo. Por isto, nós, Ortodoxos no Ocidente, lutamos para que a fé que nos anima possa restaurar a Igreja que aqui se estabeleceu e voltarmos a ser um, a fim de enfrentarmos unidos a grande prova que sobrevirá sobre todas as nações. Nós entendemos ser esta a vontade de Deus.

Por isto achei muito oportuno argumentar sobre a virgindade perpétua da Toda Santa Theotokos, porque certamente este diálogo proporcionará plataforma para que os cristãos que a ele tiverem acesso, possam conhecer como sentimos, cremos e praticamos a fé que uma vez foi dada aos santos (Jd 1:3).
Sei que nesta tarefa existe um alto risco de incompreensão, mas também a possibilidade de comunhão e crescimento. A mente moderna é muito hostil ao que possa parecer apologético, monopólio da verdade, que se apresente com caráter exclusivo e coisas semelhantes, para dar muito valor ao “livre” pensar, a individualidade, ao caráter relativo de todas as compreensões. Nós não desprezamos as dimensões pertinentes contidas nestes paradigmas, mas, privilegiamos a mente cativa a Cristo (2 Cor. 10:5), o pensamento consensual e o saber coletivo (1 Cor. 1:10), o valor da sabedoria que emerge do despojamento da razão natural (Mt. 11:25; Fp 3:8; Ap. 2:7) e o grande valor em preservar o coração puro (Mt. 5:8; 6:22;).

Sei que muitas incompreensões surgem da falta de diálogo e da incapacidade de transcendência pessoal (a de se elevar acima do horizonte que enxergamos). Imagine o esforço que um peixe - para quem todo o universo é água - terá de fazer para entender discurso de um anfíbio que se refira a terra como porção seca.

Até bem pouco tempo as pessoas no Ocidente costumavam a pensar o Cristianismo como uma realidade bipolar, tendo de um lado os Católicos Romanos e do outro o Protestantismo. Hoje, com a globalização, as pessoas começam a tomar consciência da Igreja Ortodoxa, mas, à semelhança do peixe da metáfora acima citada, procuram-nos “enquadrar” no seu paradigma aquático. Exemplo disto está na concepção e uso do termo “dogma” e de que a defesa da perpétua virgindade da Santa Mãe de Deus esteja apoiada em paradigmas de moral sexual que foram utilizados nas duas postagens “Perguntas e Respostas: Os Irmãos de Jesus” e “Comentando o Comentário”.

Os seres da porção seca, embora, tenham ciência do mundo das águas, não possuem fisiologia para respirar nele, e por isto, classificam o tal como letal à sua sobrevivência. Muitos ortodoxos do Oriente olham com desconfiança os cristãos ocidentais por causa do seu caos teológico e suas práticas diferentes do que nos ensinaram os Pais, afinal de contas, foi lá, no Oriente, que nasceu e se desenvolveu a Igreja e a Teologia. Por isto, nós, Ocidentais e Ortodoxos ao mesmo tempo, nos consideramos o anfíbio da parábola, ou seja, os que por natureza têm a capacidade de estabelecer uma ponte entre os dois mundos. Espero em Deus, cumprir a parte que me cabe.

Aguardo sua visita no Observatório Ortodoxo.

Atenciosamente,

Pe. Mateus (Antonio Eça)

Leia abaixo ou clique aqui para acessar a Parte II.

[1] A palavra “dogma” do grego “dogmata” (do,gmata), tem sido usada pela Igreja, desde os dias dos Apóstolos como definição de uma verdade a ser seguida. Nos Atos dos Apóstolos nós lemos sobre os Apóstolos Paulo e Timóteo que"quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos (Dogmas) que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém" [At. 16:4 (~Wj de. dieporeu,onto ta.j po,leij( paredi,dosan auvtoi/j fula,ssein ta. do,gmata ta. kekrime,na u`po. tw/n avposto,lwn kai. presbute,rwn tw/n evn ~Ierosolu,moij)Å Aqui a referência é para os decretos do Concílio Apostólico que é descrito no capítulo quinze dos Atos dos Apóstolos]. Entre os antigos gregos e romanos a palavra “dogmata” era usada para se referir a conceitos filosóficos ou às diretivas que deveriam ser precisamente atendidas. Dogma, portanto, é uma verdade proclamada por um Concílio Ecumênico (universal), pois somente este pode expressar a consciência da Igreja, guiada pelo Espírito Santo. Isto era um conceito comum, tanto para o Oriente, como para o Ocidente. Somente a partir do século XIX, mais precisamente em 1870, com a realização do Concílio Vaticano I, Roma assume a postura de conferir ao seu Bispo, quando este falar “ex-catedra” o caráter de infabilidade, portanto, uma verdade a ser seguida (dogma). Os leigos, de forma imprópria, passaram a classificar todo pronunciamento ou crença da Igreja como sendo dogma. A rigor, no Ocidente, são apenas dois os dogmas de natureza mariana: o da Imaculada Conceição e o da “Assunção de Maria aos Céus”. No Oriente, nós não temos nenhum dogma de natureza mariana. As duas vezes que a figura da Santa Theotokos aparece nos dogmas do Oriente estão inseridas numa perspectiva Cristológica: a do nascimento virginal do Senhor, o que lhe propiciou o título de Mãe de Deus (Theotokos), conforme declaram (dogmas) os I e III Concílios Ecumênicos (Nicéia e Éfeso), bem como o testemunho das Santas Escrituras (Lc 1:26-43)

A Virgindade Perpétua da Mãe de Deus – Diálogo com um Adventista – Parte II




Em sua abordagem ao meu comentário (“Comentando o Comentário”) o Sr. Clacir procura esclarecer as bases de seu raciocínio. E é exatamente aí onde se encontra o ruído de comunicação. Por isto, antes de aprofundar os argumentos sobre a virgindade perpétua da Toda Santa Mãe de Deus, necessário se faz uma análise das nossas bases de abordagem.
AS BASES DA ABORDAGEM DO SR. CLACIR
Uma primeira questão a ser revista é o conceito de tradição. No mundo Protestante se faz uma dicotomia entre Santa Tradição e Sagradas Escrituras. Neste conceito, em geral, a Tradição não passa de “coisa dos homens”, e por isto passível de erros. As Escrituras, ao contrário, são infalíveis, porque são inspiradas pelo Espírito Santo; e via de regra, segundo esta concepção, a Tradição se encontra em oposição às Santas Escrituras. Este tipo de raciocínio é desenvolvido porque comumente se ignora o que vem a ser a Santa Tradição, identificando-a como apenas uma elucubração pautada em digressões de uma mentalidade mítica, ou como lendas habilmente engendradas por um clero inescrupuloso, ávido por manter o povo na ignorância a fim de perpetuar o seu poder (do clero) sobre as massas. Logo mais farei uma consideração sobre isto.
Como veículo de “libertação” desta realidade “obscurantista” surge um conceito confuso e contraditório como o é a “Sola Scriptura”.
Confuso, porque em geral se confunde uma compreensão pessoal com aquilo que a Bíblia diz, e contraditório porque cada Denominação Protestante interpreta a Bíblia pela hermenêutica de uma confissão de fé, ou seja, uma tradição particular. E é por este entendimento (tradição hermenêutica) que cada uma pauta suas compreensões dos temas teológicos.
Como fruto dessa confusão e contradição conceitual, o movimento que procurava restaurar a fé primitiva no Ocidente, tendo a Bíblia como a bússola, se vê fragmentado desde o céu nascedouro com os seus líderes discordando entre si em questões como lista do Cânon Sagrado, natureza dos sacramentos, forma de governo, liturgia e etc.; sendo esta fragmentação aprofundada na medida em que a história avançava. Hoje são mais de 80.000 denominações protestantes, todas elas afirmando ser sua teologia a legítima expressão do que a Bíblia diz.
Isto é muito estranho, porque o Espírito que inspirou as Santas Escrituras (conferindo uma harmonia entre tantos textos e autores diversos e distantes um dos outros às vezes em séculos) não consegue produzir uma interpretação igualmente harmoniosa, ou seja: Ele inspira a redação, mas não consegue inspirar a compreensão destes textos, contradizendo o que se revela no ensino apostólico, segundo a Bíblia: (Mt. 13:11; 1 Tm 3:15, Ef. 4:4-6). Nesta experiência, a “Sola Scriptura” se apresenta muito mais como uma nova Babel do que um outro Pentecostes. Parafraseando Tiago, de uma mesma fonte não pode jorrar tipos diferente de água (Tg 3:11,12).
Alguns, tentando encobrir este triste realidade, procuram classificar tal fragmentação na dimensão da diversidade natural da Igreja.
A diversidade da qual falam as Escrituras não pode ser confundida com fragmentação. Os Textos Sagrados modelam a diversidade denominando a Igreja de Corpo de Cristo; portanto, se utilizando da representação iconográfica do corpo humano, o qual consiste de uma diversidade de membros formando uma unidade orgânica na qual todos os membros subsistem nesta unidade e em função dela, e não como unidades isoladas e auto-existentes por si mesmas. Não podemos confundir uma colcha de retalhos com um tecido único que foi tingido por cores diversas.
Coexistindo com esta fragmentação externa existem, numa mesma denominação, fragmentações internas. Isto porque a maioria dos pastores e líderes de cada Denominação – além da Confissão de Fé das Denominações as quais pertencem, têm, individualmente, a sua maneira particular de enxergar determinado ensino bíblico. Quando esta consciência individual se conflita com a da Denominação, então, gera-se um cisma, e surge mais uma Denominação que crer na infalível Palavra de Deus, rasgando mais ainda o retalho da colcha. Portanto, as Denominações, além de cada uma já ser, em si mesma, um fragmento da Reforma em nome da “Sola Scriptura”, torna-se internamente fragmentária, em nome da “Sola Scriptura”. E assim, cada qual acusa a outra de “heresia” ou melhor falando, de ser “anti-bíblica”.
Tomemos, por exemplo, a própria Igreja Adventista no cenário das Igrejas da Reforma: Os Adventistas têm o mesmo princípio de todos os outros grupos Protestantes (o da “Sola Scriptura”), e além das cisões internas, fruto das divergências hermenêuticas, o Adventismo sofre a rejeição das denominações mais antigas, que o acusa de distorção das Escrituras por ensinar a guarda do Sábado. Por outro lado, os Adventistas acusam as outras denominações de desobediência e desonra do que a Bíblia ensina. Mas todos se julgam fiéis a Bíblia.
Isto acontece porque no mundo Protestante se confunde “o que eu interpreto que a Bíblia diz” com o que está registrado no Texto Sagrado. E é com esta confusão conceitual que o Sr. Clacir argumenta. Se não, vejamos:
SOBRE O QUE “A BÍBLIA DIZ”:
O artigo do Sr. Clacir, pautado em inferências bíblicas construídas a partir do texto de Mateus 1:25 afirma que a virgindade da Santa Mãe de Deus encerrou-se com o nascimento do seu Filho, sustentando categoricamente que este é o ensino da Bíblia. O desconcertante para esta suposição, é que os pais da Reforma e da “Sola Scriptura” (Lutero, Calvino e Zuwinglio), analisando o mesmo texto chegam a uma compreensão diferente da dele, tendo a Tradição como certíssima em seu ensino.
Eis o comentário de Calvino (o mais radical dos Reformadores) sobre este texto de Mateus 1:25

João Calvino
“And knew her not. This passage afforded the pretext for great disturbances, which were introduced into the Church, at a former period, by Helvidius. The inference he drew from it was, that Mary remained a virgin no longer than till her first birth, and that afterwards she had other children by her husband. Jerome, on the other hand, earnestly and copiously defended Mary’s perpetual virginity. Let us rest satisfied with this, that no just and well-grounded inference can be drawn from these words of the Evangelist, as to what took place after the birth of Christ. He is called first-born; but it is for the sole purpose of informing us that he was born of a virgin. It is said that Joseph knew her not till she had brought forth her first-born son: but this is limited to that very time. What took place afterwards, the historian does not inform us. Such is well known to have been the practice of the inspired writers. Certainly, no man will ever raise a question on this subject, except from curiosity; and no man will obstinately keep up the argument, except from an extreme fondness for disputation. 
"E não a conheceu". Esta passagem, em um período anterior, serviu de pretexto para que grandes perturbações fossem introduzidas  por Helvídio na Igreja. Ele inferia que Maria permanecera virgem não mais do que até seu primeiro parto, e que depois ela teve outros filhos com seu marido. Jerônimo, em contrapartida, empreendeu uma sólida e rica defesa da virgindade perpétua de Maria. Devemos nos dar por satisfeitos com isto: que com estas palavras do Evangelista, não se pode chegar a uma bem fundamentada conclusão sobre o que ocorreu após o nascimento de Cristo. Se Ele é chamado de primogênito, isto se dá tão somente com o propósito de nos informar que ele nasceu de uma virgem.  O texto diz que José não a conheceu até que deu à luz o seu filho primogênito: mas isto está circunscrito a um tempo limitado. O que aconteceu depois, o historiador não nos informa. Este é um notório estilo dos escritores inspirados. Certamente, que ninguém levantaria uma questão sobre este assunto, a não ser por curiosidade, e nenhum homem se obstinará em tal argumentação, exceto por uma afeição exacerbada por contendas.
Assim, o grande sistematizador da Reforma, não só se inclina para a crença na virgindade perpétua de Maria, como classifica de perturbadores da Igreja os que querem inferir, desta passagem, que Maria teve outros filhos com José. Calvino entende que a Tradição tem copiosos argumentos para se crer na virgindade perpétua de Maria e, que esta expressão “e não a conheceu até (kai. ouvk evgi,nwsken auvth.n e[wj)”utilizada por São Mateus, nada mais objetiva senão afirmar o nascimento virginal de Cristo, não podendo ser utilizada para se especular o que aconteceu depois, classificando estas especulações como nocivas, posto que são movidas pelo espírito de contenda. 
Veja a que situação nos leva a “Sola Scriptura”: usando o mesmo instrumento, a Bíblia, Calvino afirma o que o Sr. Clacir nega. E até desqualifica a posição por ele assumida.



As Afirmações de Outros Líderes Protestantes



"O Filho de Deus fez-se homem, de modo a ser concebido do Espírito Santo sem o auxílio de varão e a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem."
Martinho Lutero, "Artigos da Doutrina Cristã".







"Firmemente creio, segundo as palavras do Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o Filho de Deus e que, tanto no parto quanto após o parto, permaneceu virgem pura e íntegra."

Zwinglio, em "Corpus Reformatorum".




"Creio que (Jesus) foi feito homem, unindo a natureza humana à divina em uma só pessoa; sendo concebido pela obra singular do Espírito Santo, nascido da abençoada Virgem Maria que, tanto antes como depois de dá-lo à luz, continuou virgem pura e imaculada."


John Wesley, fundador da Igreja Metodista, 

"Carta aberta a um Católico Romano" de 18 de julho de 1749.




Quem está com a razão?
O que realmente a Bíblia diz?
Como podemos saber que a interpretação do Sr. Clacir é o que a Bíblia realmente diz e a dos Reformadores, não?
Portanto, melhor seria o Sr. Clacir dizer que sua crença está pautada numa compreensão particular das Escrituras do que classificá-la como sendo aquilo que a Bíblia diz, dando caráter autoritativo ao seu posicionamento.
Embora, ainda não seja o momento para entrar no mérito dos textos bíblicos, quero tecer uma pequena apreciação da expressão contida em Mateus: 1:25.
É fato que “atétem o sentido primeiro de delimitação de tempo. Porém, usando uma regra protestante básica de hermenêutica (a de comparar Escritura com Escritura), vemos que ela também pode ser usada como ênfase a uma realidade que se queira destacar, mas não necessariamente delimitá-la temporalmente. Este é o caso de Mat. 28:28, “e eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século . Com o emprego do termo “até, o Evangelista mostra querer enfatizar que a ausência física de Cristo não implica em uma ausência de fato, real. Se aplicarmos o raciocínio do Sr. Clacir para interpretar Mat. 1:25, então chegaremos à conclusão de que depois da consumação dos séculos, Cristo não estará mais conosco. Isto seria um absurdo. Portanto, Mateus, tanto no início como no fim do seu Evangelho, usa o termo “até (e[wj)” para dar ênfase a uma realidade, e não para delimitá-la[1]. Ele queria dar ênfase ao fato de que em Maria cumpria-se a profecia da Virgem Parturiente de Isaías 7:14. E esta é a interpretação da Tradição, com a qual todos os Pais da Reforma (os mesmos que criaram a “Sola Scriptura”), concordam.

Tal realidade nos leva a refletir:

Por que será que homens que reviraram a doutrina da Igreja Romano-Católica de cabeça para baixo, na tentativa de depurá-la dos ensinos que não estavam de acordo com a Bíblia (condenando a venda das indulgências, o culto aos santos e as relíquias, a adoração das imagens e etc.), preservaram intacto o ensino sobre a virgindade perpétua de Maria?


  1. Desconhecimento bíblico? Claro que não. Martinho Lutero traduziu a Bíblia inteira para o alemão.
  2. Uma mente ainda dominada pela cultura católica romana? Como? Calvino escreve um verdadeiro tratado "As Institutas" passando a limpo todo o ensino papal e concebe uma organização eclesiástica e uma liturgia depurada de qualquer vestígio das "heresias" de Roma.
  3. Os Reformadores discordaram de quase tudo entre si (governo da Igreja, Sacramentos, Cânon Sagrado, Liturgia, etc.), mas, apenas quatro coisas falavam a uma só boca: Os "Solas" (Gracia, Fide e Scriptura) e a Virgindade Perpétua da Santa Mãe de Deus. Não é isto intrigante?
Assim, para surpresa e espanto de muitos que pensam as Escrituras Sagradas segundo a mentalidade racionalista e secular do mundo moderno, a virgindade perpétua de Maria, se apresenta, se contrapondo à categoria absurdo e se revelando a mais forte e consensual crença do Cristianismo, pois, absolutamente nenhum dos grandes mestres que a história revela como colunas e baluartes da Fé, todos, sem exceção, quer no Oriente ou no Ocidente, todos, absolutamente todos confessam: "Maria, Mãe de Deus e sempre virgem".

SOBRE A SANTA TRADIÇÃO E AS SAGRADAS ESCRITURAS
A palavra “Tradição” (do grego “paradossei”) aparece diversas vezes nos Textos Sagrados que compõem o Novo Testamento, e literalmente aponta para um conjunto de ensinamentos que são preservados por um grupo e transmitidos sucessivamente de geração em geração. Estes tesouros devem ser guardados por fiéis depositários (do grego “paratheken”, aquilo que é confiado aos cuidados de alguém). O escriba que é versado no reino dos Céus (teólogo) deste tesouro “tira coisas novas e velhas” (Mt. 13: 52).
Ao citar o texto de Mat. 15: 26 como condenatório da Tradição, se faz violência ao ensino bíblico sobre o tema, pois, conforme o ensino de Jesus, devemos distinguir entre tradições e tradições (as coisas velhas e as novas); expressão esta que no Evangelho de Mateus se refere a uma distinção entre as tradições antigas: “ouviste o que foi dito aos antigos” (as coisas velhas) e aos novos ensinamentos de Cristo, “eu, porém, vos digo... (coisas novas). Assim, é que Paulo nos ensina a guardar as tradições que vem de Cristo por meio dos Apóstolos:
“Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2 Tess. 2:15).
Ou seja, a Igreja deve preservar tanto as tradições orais quanto as escritas, as quais, juntas, formam a Santa Tradição. E, falando a Timóteo, diz:
“E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros… Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm. 2:2; 3:16,17).
Timóteo deve zelar e transmitir as tradições orais, cuidando para que elas se perpetuem, ao mesmo tempo em que se alimenta das Santas Escrituras.
Quando Cristo enviou seus Apóstolos ao mundo não lhes ordenou que eles escrevessem uma Bíblia, mas, sim, que transmitissem (tradição) a todos os povos os seus ensinamentos (Mt 28: 19). A compilação deste Tesouro em um documento textual (Bíblia) é uma ferramenta eficaz na transmissão (tradição) desses ensinamentos. A Igreja Ortodoxa não vê distinção entre Tradição (Depósito da Fé) e Escritura. Tudo é Tradição. As Santas Escrituras constituem as peças mais valiosas do grande tesouro deixado por Cristo para a Sua Igreja (Depósito da Fé). 

Alguém ao afirmar que a Bíblia é maior do que a Igreja, assim o faz porque possui um conceito limitado ou equivocado sobre o que vem ser a Igreja. Esta concepção tem em sua base a ideia de que a Igreja sofreu uma espécie de descontinuidade histórica, estando hoje, e desde cedo, apartada dos Apóstolos e da Igreja Primitiva. Isto sim, contraria frontalmente todo o ensino das Santas Escrituras. A Igreja, em comunhão e guiada pelo Espírito da Verdade (João 16:13,14) não somente gerou a Bíblia, como também, pelo mesmo Espírito a preservou de erros em sua transmissão (Tradição) e por meio do mesmo Espírito em comunhão com Ele, interpreta corretamente a vontade de Deus (Santa Tradição):
“Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras e transtornaram a vossa alma (não lhes tendo nós dado mandamento), pareceu-nos bem, reunidos concordemente, eleger alguns varões e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que já expuseram a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais de boca vos anunciarão também o mesmo. Na verdade, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias…”. Atos 15:24-28
Vemos neste texto a Igreja definindo matéria de prática da fé por meio de um Concílio, e vendo em seu consenso a manifestação da vontade do Espírito Santo. E esta prática, iniciada pelos Apóstolos se perpetuou na História (Concílios Ecumênicos ou Locais) para dirimir questões de fé e prática (cânones). E, entre estes cânones consta a definição dos livros que são sagrados (Bíblia).
Antes de se tornar um livro (tradição documental), o testemunho da Revelação é transmitido oralmente (tradição oral). A Bíblia é, portanto, fruto do labor da Igreja, do seu consenso, guiada pelo Espírito Santo.
O Cânon não tem a mesma história das Tábuas da Lei. Ele não desceu dos céus, escrito pelo dedo de Deus. Nem tampouco é auto-existente, como o É o Verbo de Deus. A Igreja, por meio dos seus concílios, definiu que livros eram e os que não eram sagrados, usando a tradição apostólica preservada pelos bispos como critério de aferição (cânon). O Sr. Clacir até lançou mão de um deles para julgar os apócrifos: o critério da apostolicidade. Pois, bem, este critério não está na Bíblia, mas foi estabelecido pela Igreja. Outro critério usado para avaliar um livro, era a ortodoxia do seu conteúdo, ou seja, se estava consoante ou não com a Tradição ensinada e preservada pelos Bispos. Portanto, para definir o Cânon, a Igreja julgou as Escrituras (o termo “cânon” significa “vara de medir”). As Escrituras que temos, hoje são tidas por Sagradas porque a Igreja disse que Elas são sagradas.
Ou seja, foi a Tradição que gerou a Bíblia. Ora, se os Concílios não foram guiados pelo Espírito Santo, então, o cânon que nós temos tem uma boa probabilidade de conter erros e equívocos, o que faria cair por terra a tese da “Sola Scriptura”.
No Oriente, embora não tenhamos esta tradição de “Sola Scriptura” pelas razões já alegadas, não temos muitas formas de interpretação. Isto só é possível porque preservamos a Santa Tradição. Se o Espírito Santo inspirou uma redação harmoniosa dos Textos Sagrados, também sua interpretação deve ser harmoniosa, se esta provém do mesmo Espírito, pois:
“Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef. 4:4-6).

Septuaginta - Velho Testamento

Os Quatro Evangelhos
Portanto, se a peça mais preciosa do Depósito da Fé (As Santas Escrituras) são o testemunho fiel da Revelação, da mesma forma, a Santa Tradição, constitui-se na Fiel interpretação (vivência) dos Mistérios do Reino dos Céus (Mt. 13:11), posto que provém de um só e mesmo Espírito. Assim, a Bíblia é, em suma, a natureza documental da Tradição e, os atos (vivência) da Igreja no Espírito Santo, a natureza experimental da Tradição; mas, ambas as naturezas, provém de um só e mesmo Espírito. Tentar dissociar as Sagradas Escrituras da Santa Tradição, é a mesma coisa que tentar separar as naturezas humana e divina de Cristo (A Verdadeira Palavra de Deus e Fiel Testemunha), posto que elas (as Sagradas Escrituras) nada mais são do que o reflexo (ícone) do Verbo Eterno de Deus, do qual, a Igreja, coluna e baluarte da verdade (1 Tm. 3:15) é corpo indivisível.
A Igreja é maior testemunha da revelação do que a Bíblia; e embora nesta se encerre tudo o que o homem precisa saber para ser perfeito diante de Deus (2 Tm 3:16,17), foi à Igreja (e não na Bíblia) que se revelou a plenitude dos atos de Cristo. E disto testifica o Apóstolo João, o Teólogo, dizendo:
Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém. (João 21:25). Ou seja, a Igreja testemunhou muito mais coisas do que está escrito. E podemos dizer que esta experiência se perdeu? Claro que não. Elas serviram para interpretar tudo que foi dito na Lei, nos Profetas e nos Salmos e, assim, formar o texto do Novo Testamento.
  1. 1. A Tradição e A Preservação das Santas Escrituras
Eu tenho a absoluta certeza de que se o povo protestante conhecesse a história das muitas edições da Bíblia que são publicadas e aceitas por suas Igrejas, entrariam em crise de fé, porque os dados relativos às suas compilações os levariam a duvidar substancialmente da inspiração da Bíblia. Que dados são estes?
  1. Que nenhuma Bíblia, seja Ortodoxa, Romana ou Protestante, é traduzida dos originais gregos e hebraicos porque estes, simplesmente, não existem. Todas as versões da Bíblia são cópias de cópias que distam séculos dos textos originais. O texto grego mais antigo data do séc. IV e o texto hebraico mais antigo – o texto massoreta – adotado tanto por Protestantes como por Católico-Romanos, data do fim do século IX;
  2. Que além dos textos não serem originais, apresentam enormes divergências entre si. Por isto as muitas edições (corrigidas, revistas, atualizadas, revisadas, etc.), pois a cada achado arqueológico de textos, se veem praticamente na obrigação de avaliar o texto. Por exemplo, o texto que lhe serve de base (Mt. 1:25) em alguns manuscritos “originais” não traz a palavra primogênito. Se esta fonte for uma cópia fiel dos originais, parte das bases daqueles que dele se utilizam para dizer que Maria gerou outros filhos cai por terra.
  3. Que as edições Protestantes não são feitas a partir de um mesmo códice (família de textos). Quando uma editora decide publicar uma versão da Bíblia, ela também tem que definir o códice em que baseará sua edição. A maioria das Bíblias protestantes em português se baseia no “Aparato Crítico” produzido no fim do século XIX por dois eruditos britânicos, Brooke Foss Westcott e Fenton John Anthony Hort; aparato que ficou mais conhecido como Westcott-Hort, os quais abandonaram o texto bizantino e fizeram uma edição crítica baseada nos Códices Ocidentais e nos “últimos” achados arqueológicos (da época) que apontavam para textos supostamente mais antigos do que o bizantino. Esta mudança sofreu forte oposição de grupos fundamentalistas e, recentemente, os eruditos protestantes têm criticado o trabalho de Westcott-Hort por desconsiderar as inumeráveis contradições internas deste aparato, e têm defendido a volta ao texto bizantino, o qual, embora tenha redação posterior aos textos adotados por Westcott-Hort, no entanto evidenciam uma tradição bem mais antiga do que a redação deles e da dos textos de Westcott-Hort, além de uma quase perfeita harmonia interna. Assim, os editores da Bíblia King James, logo se apressam a publicar uma Nova Edição (a New King James Version), adotando novamente o texto bizantino.
  4. Que existem muitas dificuldades para se traduzir com precisão vários textos, ficando o sentido destes comprometido com a posição doutrinária dos editores. Temos como exemplo o célebre (entre os protestantes)“Mulher, que tenho eu contigo” de João 1:4. Literalmente, o texto grego diz: “mulher, o que a mim e a ti?” Então, retornando, assim, a Nova Versão Internacional da Bíblia (NVI) em sua edição inglesa, revisando a citada passagem, diz:
“Cara Senhora, por que você me envolve neste assunto?”
E a versão espanhola da mesma Bíblia, diz:
“Mulher, o que tem isto a ver comigo?”
Já a versão em português, assim traduz:
“Mulher, o que temos nós em comum?”
Em uma conferência promocional desta Bíblia realizada aqui em Recife, perguntei ao Dr. Luiz Sayão, um dos seus editores e palestrante do dia, o porquê desta diferença entre a versão portuguesa e a dos outros idiomas. Ele respondeu que como o texto tinha sentido incerto, eles (os editores) optaram por uma tradução coerente com as suas posições doutrinárias. Isto quer dizer que quando um leigo ler as Santas Escrituras, não imagina que além de não estar lendo uma tradução dos originais, também não pode ter certeza de que o texto reflita fielmente o que diz as cópias nas quais se baseou a edição que ele possui; ele simplesmente pode estar lendo uma adulteração do texto original, como também tomando a compreensão do seu tradutor como a expressão fiel do que a Bíblia diz. Percebemos que na base desta compreensão inocente, está uma plena confiança nos editores da Bíblia. O que no fundo é uma crença na autoridade eclesiástica para definir o texto e o seu sentido.
Diante destes dados, podemos de sã consciência, dizer que a nossa compreensão dos Textos Sagrados é o que a Bíblia diz, sem a mediação da Igreja?
Por isto, uma parte crescente dos hodiernos eruditos protestantes, vem defendendo a tese de que só os textos originais é que são inspirados, pois eles se aperceberam que defender a inspiração dos textos que se possuem, implica, necessariamente, reconhecer a Tradição como também inspirada, contrariando toda tese Protestante. Mas, eles têm sofrido oposição, pois, admitir a inspiração somente dos originais é, também, admitir a fabilidade das Bíblias que se possuem. Veja a que beco sem saída nos leva a “Sola Scriptura”.
O Evangelho de Tiago
A critica de certos eruditos ao Evangelho de Tiago não é justa e nem coerente; porque se aplicadas aos Evangelhos Canônicos a mesma medida, nem um deles subsiste. Por quê?
  1. Cientificamente não podemos identificar a autoria de nenhum deles. Foi a Tradição que atribuiu autoria de Mateus, Marcos, Lucas e João aos quatro Evangelhos Canônicos;
  2. A Crítica reconhece que cada um dos Quatro Evangelhos teve redações complementares ou adicionais aos textos originais e que refletiam disputas doutrinárias nas comunidades aos quais eles foram originalmente destinados (kümmel, Joaquim Jeremias, Culmman, C.H. Dodd e etc). Portanto, a redação final de cada um deles não pertence aos autores originais. No caso do Evangelho de Mateus, por exemplo, alguns estudiosos afirmam que a data da sua redação final se deu por volta do final do segundo século, ou seja, em data posterior ao do Evangelho de Tiago.
Este processo de uma redação posterior ou complementar de uma tradição antiga é característica de quase todos os livros do Cânon da Bíblia. O Maior exemplo disto é o Livro de Jó (que a crítica acredita ser uma redação pós-exílica de uma tradição que remonta aos tempos abraãmicos. Assim, a história de Jó é uma tradição que vinha sendo transmitida oralmente por cerca de 2.000 anos (?), a qual, somente no período pós-exílico recebe de um redator anônimo uma forma textual.
Muitas tradições em torno da vida e dos ensinamentos de Cristo foram preservadas oralmente, as quais, logo cedo se transformaram em texto. Disto dá testemunho São Lucas no prólogo de seu Evangelho. Lucas (que não foi testemunha ocular dos ditos e feitos de Jesus), relata a existência de outras redações anterior à dele, baseada na tradição (transmissão das testemunhas oculares); redações esta que também ele utilizou como fonte (Lucas 1:1-3).

Tiago, o Irmão do Senhor
Maria e Tiago, o irmão do Senhor e primeiro Bispo de Jerusalém, certamente foram muitas vezes entrevistados por líderes da Igreja e fiéis que não conheceram a Jesus fisicamente, acerca de sua infância e vida familiar etc. Todos, provavelmente, queriam saber tudo sobre Ele. Os autores destas fontes anônimas que Lucas cita dispensariam consultar a Mãe e o Irmão do Senhor? Portanto, se Tiago não é o redator final do Evangelho que leva o seu nome (assim como os autores dos Canônicos), certamente ele está na base destas tradições que depois seriam preservadas de forma textual (assim como, segundo a crítica, se deu com os Evangelhos Canônicos e quase todos os outros Textos Sagrados). Portanto, uma possível redação posterior não seria empecilho para que constasse entre os Canônicos, se isto pesasse, nenhum dos Evangelhos que temos por Canônicos poderiam ser considerados (também seus autores são textualmente anônimos. Ele, o Evangelho de Tiago, de fato, não se tornou canônico por omitir os ensinos e os eventos pascais, base do kerigma primitivo. E isto é testemunhado pela Igreja de Jerusalém, a qual existe até os dias de hoje. Esta Igreja está sob o Patriarcado de Jerusalém. O Livro de Tiago goza de grande autoridade (embora não seja canônico), não só na Igreja de Jerusalém, como de Antioquia e Alexandria. Convém lembrar que a tradição que atribui a Mateus e Marcos autoria dos Evangelhos que levam seu nome procede destas Igrejas, e são elas mesmas que testificam sobre o Livro de Tiago.
Conclusão
Quanto a Uma Base Bíblica
Um parecer histórico de cunho teológico que busque se estribar no que “a Bíblia diz” desconsiderando a mediação da Tradição, se apoia em bases muito frágeis, pois todos os dados da história da formação do Cânon Sagrado e de sua manuscritologia nos revelam ser esta uma pretensão baseada numa ilação falaciosa. Pois:
  1. A Bíblia que hoje temos não veio dos céus, como as Tábuas da Lei que foram dadas a Moisés ou Cristo que desceu dos Céus, mas é fruto de um longo processo histórico;
  2. Este processo não foi e não é consensual, pois cada Igreja possui cânon próprio que se mostra divergente em relação ao Velho Testamento, mas convergente em relação ao Novo Testamento.
  3. Esta convergência em relação ao Novo Testamento é fruto de uma decisão de Concílios, os quais, mediante a Tradição, arbitraram os diversos manuscritos que eram tidos como sagrados ou se apresentavam como sendo escritos por um apóstolo ou algum dos seus discípulos. A uns aprovou e a outros rejeitou, e mais uma vez a Tradição se apresenta como mediadora do texto bíblico;
  4. Os textos que possuímos não são os originais, mas cópias das cópias, que foram preservadas (tradição) de formas distintas e contendo discrepâncias entre si;
  5. Para solucionar estas discrepâncias se faz necessário o arbítrio humano, o qual é mediado por uma crença teológica (tradição);
  6. Para que o produto final deste labor (a Bíblia como hoje a temos) mereça credibilidade, é necessário acreditar que não somente os autores originais foram inspirados, mas também os seus copistas, os críticos que determinam quais textos refletem o original e os tradutores para poder determinar o sentido exato de termos e expressões obscuras; ou seja, é preciso crer na inspiração da Igreja.
Por tudo isto, estabelecer uma tensão entre a Santa Tradição e as Escrituras Sagradas e uma escala de valores que as distingam é provocar um falso conflito e uma valoração improcedente, fruto de uma compreensão reducionista da natureza ontológica da Igreja.
O Oriente Cristão não concebe esta tensão e a escala de valores que graça nos meios Protestantes. Para a Igreja Ortodoxa a Santa Tradição e as Sagradas Escrituras estão tão unidas entre si como a alma e o corpo, formando as duas (Tradição e Bíblia) uma unidade composta e indivisível, assim como marido e mulher, como a natureza humana e divina em Cristo. Todas elas têm como fonte a Igreja, Corpo de Cristo, a Ele unida indivisivelmente, Templo e Habitação do Espírito que a guia em toda a verdade.
Toda esta tensão e confusão teológica é fruto da “Sola Scriptura”, que não é outra coisa senão uma compreensão fragmentária (individual) da letra dos Textos Sagrados, não alcançando o espírito que os anima, posto que a este só se tenha acesso pelo Espírito que está em todos (a Igreja), age por meio de todos (o consenso da Igreja) e é sobre todos (Guia a Igreja na verdade).
Quanto Aos Irmãos de Jesus
Uma tradição (ensino) proveniente de Tiago, o Irmão do Senhor e primeiro Bispo de Jerusalém, que mais tarde tomou forma redacional em um documento conhecido como o Proto-Evangelho de Tiago, considerado como o primeiro relato evangélico, revela que José, o pai de Jesus, ao desposar Maria, era um ancião viúvo que tinha filhos do primeiro casamento, sendo um deles, Tiago. Portanto, os irmãos de Jesus mencionados nos Evangelhos Canônicos, eram na verdade, irmãos por parte de pai, não sendo eles filhos da Virgem.
Esta tradição preservada pelo Patriarcado de Jerusalém, sucessor histórico da cátedra de São Tiago, o Irmão do Senhor, e pelas Igrejas irmãs de Antioquia e Alexandria, corroboram com a teologúmena (opinião teológica, diferente de dogma), profundamente arraigada na alma da Igreja Ortodoxa como da Igreja Latina (Católica Romana), de que a Mãe do Senhor permaneceu Virgem, não tendo relações maritais com José, seu esposo, mesmo depois de dar à luz o Filho de Deus. As bases teológicas desta teologúmena, pelo fato de abordar um mistério incomum (uma virgem que concebe sem esperma humano), busca apoiar suas percepções narazão incomum e não na razão comum; por isto não está estribada em percepções de natureza sociológica, biológica e da mora sexual, como alguns erroneamente pensam, que nesta posição, se concebe as relações sexuais conjugais como sendo impuras. Portanto, não tem por base nem a razão científica e muito menos o preconceito moral.
Desta razão falarei na próxima postagem que será publicada, possivelmente, na segunda-feira, dia 1 de fevereiro.
Com atenção, fraternidade e zelo pelo Depósito da Fé,
Padre Mateus

[1] Existem pelo menos outras duas passagens em que o Evangelista Mateus utiliza a expressão “até que” como ênfase a uma realidade, mas sem delimitá-la: é o caso de Mateus 12: 18-20 onde se lê:
“Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu Espírito, e anunciará aos gentios o juízo. Não contenderá, nem clamará, nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz; não esmagará a cana quebrada e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo”. Isto quer dizer que depois que o juízo triunfar, o Messias poderá contender, gritar, e esmagar a cana quebrada? E em Mateus 20:44 lemos:
“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés”. Podemos deduzir que após os inimigos serem vencidos o Filho não mais exercerá o Governo junto com Seu Pai?