A Fé Antiga e Perene Falando ao Mundo Atual: Temas Teológicos, Notícias, Reportagens, Comentários e Entrevistas à luz da Fé Ortodoxa.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Por Uma Sérvia Pacífica

 

Patriarca Paulo, da Sérvia

"Se o caminho para se criar uma grande Sérvia for o do crime, isto eu não aceito, melhor será que não exista esta Grande Sérvia. E, se a sobrevivência da Sérvia depender da violência, melhor será que ela desapareça. E se todos os sérvios morrerem e apenas eu sobreviver e, para permanecer vivo, precise lançar mão da violência, para mim será melhor a morte".

Paulo, Patriarca Sérvio (Conferência no Mosteiro em Gracanica)

Natal da Igreja Sérvia

Paróquia Sérvia da Santíssima Trindade

A Igreja Ortodoxa Sérvia no Brasil celebrou no último dia 06, na Paróquia da Santíssima Trindade, situada em Camaragibe (Grande Recife) o Natal do Senhor Jesus Cristo.

A Igreja Sérvia usa o Calendário Juliano (Velho Calendário), onde se verificam treze dias em atraso em relação ao Calendário Gregoriano (Novo Calendário).

O Vigário Geral para o Brasil e América Latina é o Arcipreste Aléxis Peña-Alfaro, o qual é também o Reitor da Paróquia da Dormição da Mães de Deus em Recife-PE. As paróquias do Brasil fazem parte da Diocese do Leste da América, cujo eparka é o bispo Dom Mitrophan.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Atualização do Blog

 

Caros amigos,

Durante este mês de janeiro este blog não estará sendo atualizado sistematicamente, em razão de uma pausa em minhas atividades.

Permitindo Deus, retornaremos no próximo dia 10 de fevereiro.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Festa da Teofania

Tanto os fiéis de tradição constantinopolitana como os de tradição romana conservaram, para o dia 6 de janeiro, uma festa cristológica muito antiga, a primeira em que se sintetizavam todos os mistérios do Senhor ao manifestar-se ao mundo. Mas quando no século IV, a data do nascimento do Senhor foi colocada no dia 25 de dezembro, por iniciativa romana, e logo em seguida aceita também pelos orientais, o conteúdo da festa do 6 de janeiro se diversificou. Para os católicos latinos o dia 6 de janeiro é o dia da Epifania, a manifestação de Cristo "luz das nações" considerada a partir da vinda dos Reis Magos em Belém. Esse evento, para os cristãos bizantinos, está incluído na comemoração global do dia 25 de dezembro. Ao passo que no dia 6 de janeiro eles celebram a "Santa Teofania" do Deus que se encarnou. É a segunda manifestação do Salvador, no início de sua vida pública, por ocasião do seu batismo no rio Jordão, que se deu num contexto trinitário, em que Deus Pai fez ouvir sua voz e o Espírito Santo apareceu em forma de pomba.
Era um dia em que os catecúmenos recebiam solenemente o batismo, como na Páscoa. Os textos litúrgicos da festa da Teofania resumem bem os mistérios fundamentais da fé cristã: encarnação do Verbo, com muitas alusões ao nascimento, e a unidade de Deus na Trindade. Os textos do "próprio" são abundantes, também porque a pré-festa começa no dia 2 de janeiro e a pós-festa prolonga-se até o dia 14 do mesmo mês. O tropário principal, por isso o mais repetido, assim reza:

Em teu batismo no Jordão, Senhor,foi manifestada a adoração da Trindade;pois a voz do Pai te testemunhouao chamar-te Filho bem-amado;e o Espírito, em forma de pomba,confirmou a verdade dessa palavra.ó tu, que manifestaste e iluminaste o mundo,Cristo Deus, glória a ti!

O Kondakion da festa, também ele muito repetido, é de Romanós, o Melode.

Hoje, Senhor, te manifestaste ao universo,e tua luz brilhou sobre nós;reconhecendo-te, a ti cantamos:vieste, apareceste, o luz inacessível!

A manifestação, a "teofania," ocorreu nas águas do Jordão na hora em que Cristo foi batizado; é o que confirma também o ícone da festa, no qual vemos Cristo Jesus, despido das vestes habituais, imerso na água. À sua direita vemos João Batista, humildemente curvado, que por obediência lhe dá o batismo. A cena de fundo mostra um deserto estilizado com uma amostra de vegetação.
Do lado oposto estão uns anjos, atônitos, considerando o admirável evento. Suas mãos estão encobertas pelas extremidades dos mantos, sinal de respeito habitual, nesse caso também sinal de disponibilidade em servi-lo quando sair das águas. No alto do ícone, além do nome "Teofania do nosso Salvador Jesus Cristo," escrito em caracteres abreviados, notamos um semicírculo que indica os céus abertos e do qual desce um raio que, após a figura da pomba, torna-se tríplice, clara alusão à Trindade. No nimbo cruciforme do Cristo notam-se as três letras gregas significando "Aquele que é."
Voltemos aos textos litúrgicos nos quais encontramos a explicação da festa. Num dos textos das Vésperas, São João Damasceno (†749) afirma:
Querendo salvar o homem perdido, Senhor Deus,não desdenhaste assumir a forma de um escravo,pois a ti convinha assumir a nossa natureza em nosso favor.De fato, enquanto eras batizado na carne, ó Libertador,nos tornavas dignos do perdão.A ti clamamos, pois:Benfeitor, Cristo nosso Deus! Glória a ti"
São Cosme de Maiúma (†760), no Cânon Matutino explica:
«O Senhor que tira a impureza dos homens, purificando-se por eles no Jordão, fez-se voluntariamente semelhante a eles, permanecendo contudo o que era; e ilumina os que estão nas trevas, porque recobriu-se de glória.»
E evoca o ensinamento profético:
«Isaías proclama: Lavai-vos, purificai-vos, despojai-vos da vossa malícia perante o Senhor; vós que tendes sede aproximai-vos da água viva. Cristo de fato vos asperge com a água renovando os que se aproximam com fé, e batiza no Espírito para a vida eterna.»
Por fim, nas Laudes, assim se expressa o Patriarca Germano (†733):
Luz da luz, Cristo nosso Deus, resplandece ao mundo;Deus se manifesta, povos, adoremo-lo.
Ao ser batizado no Jordão, Salvador nosso,santificaste as águas,aceitando a imposição das mãos de um servo,e sanaste as paixões do mundo.Grande é o mistério da tua economia!Senhor, amigo dos homens, glória a ti!
A verdadeira luz apareceu e a todos ilumina.Cristo, superior a toda pureza, é batizado conosco;infunde a santidadena água que se torna purificação para as nossas almas.Tudo o que vemos é terrestre,tudo o que contemplamos é mais sublime que os céus.Mediante a ablução vem a salvação,mediante a água vem o Espírito,mediante a descida na água vem a nossa subida a Deus. Admiráveis são tuas obras, Senhor! Glória a ti!
Uma cerimônia muito antiga, a bênção da água, caracteriza a festa do dia 6 de janeiro. Após o ofício das Vésperas, ou depois da Liturgia eucarística, celebrantes e fiéis dirigem-se a um curso de água, uma fonte, ou então a uma bacia de água colocada no meio da igreja, enquanto o coro canta:
A voz do Senhor ecoa sobre as águas dizendo:Vinde, recebei todos do Cristo que se manifestou:o Espírito de sabedoria, o Espírito de inteligência,o Espírito do temor de Deus.
E acrescenta o tropário da festa (já apresentado na p. 49). Seguem as leituras bíblicas, entre as quais Mc. 1:9-11, uma longa prece litânica, na qual se pede também para que a água sirva para a "cura da alma e do corpo."
O sacerdote acrescenta uma antiga e longa oração e mergulha por três vezes a cruz na água dizendo:
Tu mesmo, Senhor,santifica agora esta água com o teu Santo Espírito.Concede a todos aqueles que a usama santificação, a bênção, a purificação e a salvação.
A água é bebida em parte pelo povo e, com ela, o sacerdote asperge os fiéis e suas casas. Aqui não se trata da bênção da água para o batismo, embora se encontrem referências bíblicas comuns.
O tema do Cristo, luz do mundo, que insistentemente aparece nos textos litúrgicos da festa, explica o porquê da denominação "Festa das luzes" dado às vezes a essa solenidade. Nela vibra também um sentido cósmico: "Hoje resplandece toda a criação..." "as criaturas celestes fazem festa unidas às terrestres..." e o convite se estende até nós, para que possamos "tomar parte na alegria do mundo" redimido e iluminado pelo nosso Senhor Jesus Cristo.
Fonte:
O ANO LITÚRGICO BIZANTINO Madre Maria Donadeo

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sábado, 05 de Janeiro

Paramonia da Teofania, Santos Teopento e Teonas, mártires († fim do séc. III)

Vésperas: Gênesis 1:1-13; Êxodo 14:15-18, 21-23, 27-29; Êxodo 15:22-27; 16:1; Josué 3:7-8, 15-17; 2 Reis 2:6-14; 2 Reis 5:9-14; Isaías 1:16-20; Gênesis 32:1-10; Êxodo 2:5-10; Juízes 6:36-40; 1 Reis 18:30-39; 2 Reis 2:19-22; Isaías 49:8-15

Liturgia de São João Crisóstomo
1 Coríntios 9:19-27; Lucas 3:1-18; 1 Timóteo 3:14-4:5; Mateus 3:1-11

Liturgia de São João Crisóstomo
1 Coríntios 9:19-27; Lucas 3:1-18; 1 Timóteo 3:14-4:5; Mateus 3:1-11



Vida dos Santos
Os mártires São Theopemptus e Theonas sofreram em Nicomídia no ano 303. São Theopemptus era bispo em Nicomedia na época de Diocleciano. Pregou contra a idolatria e defendeu a fé em Cristo. Por causa disto, transformou-se numa das primeiras vítimas da perseguição de Diocleciano. O santo se recusou obedecer à ordem do Imperador para adorar a estátua de Apollo. São Theopemptus foi jogado em uma fornalha muito quente, mas pelo poder de Deus permaneceu vivo. O Imperador veio à fornalha pela noite com um destacamento de soldados, e lá viu o santo vivo e orando a Deus. Atribuindo tal milagre a artes mágicas, Diocleciano então submete São Theopemptus a exaustão, privando-o do alimento e da bebida por vinte e dois dias; mas o mártir foi preservado pela vontade de Deus. O Imperador trouxe o famoso bruxo Theonas para superar o suposto poder mágico do Bispo Theopemptus. Theonas preparou um veneno para São Theopemptus, posto em um bolo pequeno, e oferecido para ele comer. O veneno não fez nenhum dano a São Theopemptus. Então Theonas tentou um veneno ainda mais forte. Vendo que o São Theopemptus permanecia invulnerável, converteu-se a Cristo. Jogou-no na prisão junto com o santo bispo, que o catequizou e o batizou, dando lhe o nome de Synesios (o qual significa “cheio de entendimento”). Já no amanhecer, Diocleciano chamou São Theopemptus, e mais uma vez tentou converte-lo ao paganismo. Vendo que o Bispo permanecia firme em sua fé, submeteu-lhe a muitas graves torturas, depois das quais lhe decepou a cabeça. O santo mártir Theonas também se recusou a oferecer sacrifício aos ídolos, e assim foi lançado vivo em uma cova e enterrado vivo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Do Meu Bloco de Notas (II) - A Verdadeira Fé

 

Nada tenho a ensinar a quem quer que seja, mas partilho com todos as riquezas por mim descobertas no imensurável Tesouro do Depósito da Fé, pelo qual, procuro sempre pautar minhas opiniões pessoais.

 

mateus

A Epístola de Tiago, o irmão do Senhor, é desde os tempos mais primitivos do Cristianismo um grande desafio de vida e um termômetro perfeito da fé da Igreja, posto que ela não permite a alma raciocinar os mistérios de Deus e entorpecer a consciência nos corredores da razão investigativa e discursiva. Ela nos põe diante das situações do cotidiano onde somos chamados a viver a fé. Penso que a síntese da carta esteja contida na afirmação de Tiago 1:27:

“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”.

Contudo, em tempo politicamente correto, cuja ênfase está na consciência social e as questões do ser reduzidas às compreensões psicologizantes, esta Epístola pode ser muito mal entendida ou servir de esteio para o pensamento pragmático que exclui o valor da mística. No Ocidente Cristão somos confrontados por esta mentalidade e por ela julgados. Para escapar da total condenação e parecer relevante aos olhos do mundo, muitos cristãos se valem de alguns ícones da Igreja latina, como Dom Hélder Câmara e Madre Tereza, de Calcutá, que são venerados na perspectiva de símbolos do ativismo social, sem se aperceber que a seiva que gerava os seus preciosos frutos era a mística de uma Vocação (voz que chama). De quem era a voz que eles ouviam?

A religião pura em Tiago não se resume em ser solidário com os que sofrem a exclusão social, mas, também, o cuidado pessoal do ser (guardar a si mesmo da corrupção que há no mundo). Abstrair qualquer uma destas duas dimensões é macular a pureza da religião de Tiago. Ela, assim como Deus a Caim, nos questiona: “O teu irmão, onde está? (Gn. 4:9). E, como Deus a Abraão, ela nos conclama: “Anda em minha presença e sê perfeito” (Gn. 17:1).

Onde está precisamente a corrupção do mundo? Cristo e os Apóstolos nos dizem: na alma, pois tudo o que contamina o homem (inclusive as injustiças) procede da alma (Mt. 15:18,19). O ativismo de dimensão horizontal é incapaz de curar os males sociais e gerar perspectivas duradouras, posto que negligência dimensões maiores e mais profundas da existência.

Os caminhos do ativismo puramente humanista contêm solos escorregadios, pois facilmente podemos ser enganados pelo narcisismo da alma, posto que, mesmo que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se me aproveitará (I Cor. 13:3). Este amor nada tem a ver com o ego.

Como guardar a alma? Tiago nos diz: submetendo-se a Deus, resistindo ao Diabo (desagregador da vida em Deus) e preservando a esperança cristã (4:7,8; 5:7,8).

Uma nova ordem social é demandada por todos, mas, uma nova estrutura da alma é cobiçada por poucos. Esta é a razão pela qual, recentemente, muitos dos corifeus de uma nova ordem e da consciência social vêm sendo flagrados em práticas contraditórias, gerando crise de referência naqueles que os tinham como ponta de lança do futuro.

Somos desfiados por Tiago a fugir do egoísmo de uma fé alienada do seu semelhante e da alienação da jornada mística da alma.

Comemorações de Hoje

 

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Sexta-feira, 04 (22-12)

Pré-Festa da Teofania; Sinaxe dos 70 apóstolos.

Horas Reais

Hora Prima: Isaías 35:1-10; Atos 13:25-32; Mateus 3:1-11

Hora Tércia: Isaías 1:16-20; Atos 19:1-18; Marcos 1:1-8

Hora Sexta: Isaías 12:3-6; Romanos 6:3-11; Marcos 1:9-15

Hora Nona: Isaías 49:8-15; Tito 2:11-14, 3:4-7; Lucas 3:1-18

Liturgia: 1 Pedro 1:1-2, 10-12; 2:6-10; Lucas 19:12-28

 
Synaxis dos Setenta Apóstolos

A Synaxis dos setenta Apóstolos foi estabelecido pela igreja Ortodoxa para indicar a honra igual de cada um dos setenta. Foram enviados dois por dois pelo senhor Jesus Cristo a ir adiante d’Ele nas cidades que visitaria (Lc 10:1). Além da celebração da Synaxis dos Santos Discípulos, a igreja comemora a memória de cada um deles durante o ano:

São Tiago, o irmão do senhor (outubro, 23); Marcos, o Evangelista (abril 25); Lucas o Evangelista (outubro 18); Cleófas (outubro, 30), irmão de São José, e Simão seu filho (abril 27); Barnabé (junho 11); José, ou Joseph, nomeado Barnabé ou Justus (outubro 30); Tadeu (agosto 21); Ananias (outubro 1); Protomartir Estêvão o Arquidiácono (dezembro 27); Felipe, o diácono (outubro 11); Prochorus o diácono (28 julho); Nicanor o diácono (julho 28 e dezembro 28); Timon o diácono (julho 28 e dezembro 30); Parmenas o diácono (julho 28); Timóteo (janeiro 22); Tito (agosto 25); Filemon (novembro 22 e fevereiro 19); Onésimo (fevereiro 15); Epafras e Arquipo (novembro 22 e fevereiro 19); Silas, Silvano, Crescente (julho 30); Crispus e Epênetos (julho 30); Andronicus (maio 17 e julho 30); Stachys, Amplias, urbano, Narcissus, Apelles (outubro 31); Aristobulus (outubro 31 e março 16); Herodion ou Rodion (abril 8 e novembro 10); Agabus, Rufus, Asyncritus, Flegon (abril 8); Hermas (novembro 5, novembro 30 e maio 31); Patrobas (novembro 5); Hermes (abril 8); Linus, Gaius, Filologus (novembro 5); Lucius (setembro 10); Jason (abril 28); Sosipater (abril 28 e novembro 10); Olympas ou Olympanus (novembro 10); Tertius (outubro 30 e novembro 10); Erastos (novembro 30), Quartus (novembro 10); Euodius (setembro 7); Onesiphorus (setembro 7 e dezembro 8); Clemente (novembro 25); Sóstenes (dezembro 8); Apollos (março 30 e dezembro 8); Tychicus, Epafrodito (dezembro 8); Carpo (maio 26); Quadratus (setembro 21); Marca (setembro 27), chamada John, Zeno (setembro 27); Aristarchus (abril 15 e setembro 27); Pudens e Trophimus (abril 15); Marcos, o primo de Barnabé, Artemas (outubro 30); Áquila (julho 14); Fortunatus (junho 15) e Achaicus (janeiro 4).

Com a descida do Espírito Santo os setenta Apóstolos pregaram em várias terras. Alguns acompanharam os doze Apóstolos, como Timothy, companheiro dos Santos Evangelistas Marcos e Lucas e de São Paulo, ou Prochorus, o discípulo do Santo Evangelista João, o Teólogo. Muitos deles foram jogados na prisão por causa de Cristo, e muitos receberam a coroa do martírio. Existem mais dois Apóstolos dos setenta: São Cefas, a quem o Senhor apareceu após a ressurreição (1 Cor. 15:5 - 6), e Simão, chamado Niger (atos 13:1). Eram também glorificaram a pregação apostólica.

Há umas discrepâncias e uns erros em algumas listas dos setenta Apóstolos. Em uma lista atribuída a St Dorotheus de Tiro (junho 5) alguns nomes são repetidos (Rodion, ou Herodion, Apollos, Tychicus, Aristarchus), quando outros forem omitidos (Timothy, Titus, Epaphras, Archippus, Aquila, Olympas). São Demetrius de Rostov empreendeu uma correção pesquisando as Sagradas Escrituras, a Tradição e historiadores.

A igreja venera os setenta Apóstolos porque eles nos ensinaram honrar essencialmente Indivisível Trindade. No século IX, São José, o Hinógrafo, compôs o Canon para a Synaxis dos setenta Apóstolos de Cristo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Encontro Ecumênico em Taizé

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Com o tema "Peregrinação de Confiança Sobre a Terra" a Comunidade Ecumênica de Taizé realizou de 28 de dezembro de 2007 a 1 de janeiro de 2008, na cidade de Genebra-Suíça, um grande encontro de oração (30º Encontro) com a presença de milhares de jovens vindos da Europa e de outros continentes.

As orações comuns e as trocas por ocasião desta nova etapa do "Peregrinação de Confiança Sobre a Terra", “são um convite a pôr-se a caminho para procurar caminhos de paz e de confiança, e comprometer-se onde vivemos.

Os Patriarcas Bartolomeu I  e Aléxis II enviaram mensagens de congratulações e apoio à iniciativa de Taizé.

Mensagem de SS. Bartolomeu I aos Participantes de Taizé.

bartlomeu I Sua Santidade Patriarca Ecumênico e de Constantinopla Bartolomeu I, e Sua Beatitude Patriarca de Moscou, Aléxis II, enviaram mensagens de congratulaçlões e recomendações aos jovens participantes do 30º Encontro de Oração da comunidade ecumênica de Taizé.

Eis a mensagem do Patriarca Ecumênico:

“Caros jovens cristãos,

Com alegria, informamo-nos do 30º Encontro Europeu de jovens, organizado em Genebra. Através de nosso representante, o Metropolita da Suíça, Mgr Jérémie, cumprimentamos a todos os participantes com o desejo que o nosso Senhor vos abençoe.

O lugar dos jovens que desejam viver o Evangelho na sociedade contemporânea não é fácil. Vivemos numa época onde reina um relativisme dos valores. Frequentemente os jovens são confrontados à mentira, o desrespeito da dignidade humana, à injustiça e a desigualdade sociais, à dureza da exploração, a violência pela qual um grupo de homens impõe-se ao outro e uma nação sobre a outra. Para nós, não existe outro caminho senão o de seguir Cristo. É o único a dar uma resposta aos problemas que atormentam o mundo. Mas, é necessário lembrar que Cristo não é simplesmente um reformador social. A fé em Jésus como Messias é a fé nele como Deus e Senhor. Por tal fé, o ser humano nasce de Deus, dado que vive realmente em Deus: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus, e todo aquele que ama Ao que O gerou, ama ao que d'Ele é nascido” (1 João 5,1).

Não existe vida, de verdade e justiça fora de Cristo. Se estivermos em Cristo e se ele estiver em nós, então a verdade e a justiça residirão estarão conosco, e o amor de Deus fará de nós os Seus filhinhos para que, tal como os filhos devem ser livres perante seus pais, também sejamos nós livres perante Deus, O qual respeita infinitamente a liberdade humana e, na sua abundante misericórdia, a concedeu esta liberdade ao humanos como um dos seus dons mais inestimáveis. Não é possível que uma verdadeira justiça existe sem Cristo. Se o homem não renunciar o seu desejo de dominar sobre os outros, nunca poderá viver a justiça de Deus; mas continuar-lhe -á a ser estrangeiro. Com estes pensamentos, cumprimentamos a iniciativa de Taizé, esta comunidade abençoada. Oramos para que o encontro deste ano se constitua para todos os participantes uma faísca que transfigure a vossa vida e vos ponha de acordo com o desejo do Pai das Luzes.”

Mensagem de Sua Beatitude Aléxis II aos Jovens de Taizé

alexis II "Caros irmãos e irmãs, cumprimento-os cordialmente, a todos vocês  que estão reunidos neste 30° encontra de jovens que tem lugar este ano em Genebra.

Cada ano, a comunidade de Taizé reune jovens cristãos da Europa, fazendo-os um na oração e propondo diferentes temas à sua reflexão. Para vocês, os jovens, a maior parte das perguntas que tocam à vida são particularmente novas e escaldantes. Isto é inevitável, quando nos encontramos no início da sua vida. Quando falta-se a experiência, é fácil enganar-se no caminho procurando respostas. Mas vocês, cristãos, tem uma enorme vantagem. Continua na fonte “de água viva” (João 7, 38), a enorme riqueza que é a herança da Igreja, para a qual vocês podem se voltar quando sentirem a solidão espiritual... diz o Apóstolo “Examinai de tudo e retende o que é bom. Guardai-vos de qualquer espécie de mal. ” (1 Th. 5, 21-22) contudo, a vida cristã têm um valor específico que dá uma orientação à investigação, confere-lhe um sentido, ela ajuda a evitar erros que poderiam ser impossíveis rectificar. A ajuda com a qual um jovem cristão pode sempre contar não estriba-se somente na experiência das gerações passadas, nos conselhos dos mais idosos, mas está na relação viva com Deus, que “é o mesmo ontem hoje, e nos séculos dos séculos” (Heb. 13,8) e que continua pronto para dar uma resposta liberatória a todas as perguntas vitais mais complexas, mesmo às que poderia parecer sem solução. Desejo que todos os caminhos, todas as investigações e todas as esperanças sejam dirigidos para a fonte de todos os bens, para Deus. Recordem que “o que crê nele não será confundido (Ro 10,11).

Com o meu amor em Cristo.”

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Pré-Festa da Teofania, São Serafim de Sarov

Tiago 3:11-4:6; Lucas 18:15-17, 26-30

VIDA DO SANTO

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São Serafim de Sarov,Também conhecido como Prokhor Moshnin, Nasceu em 1759 em Kursk, na Rússia. Filho de um construtor, ele teve uma educação de classe média. Estudioso quando rapaz ele foi capaz de se candidatar a monge em Sarov com o nome de Seraphim, e passava os dias estudando as Escrituras e outros escritos antigos da Igreja. Ficou muito doente e acamado de 1780 a 1783, mas continuou seus estudos mesmo na cama e recebeu varias aparições da Virgem Maria em 1793. Ele celebrava a Divina Liturgia diariamente, o que era não comum no seu tempo.

Em 1794, ele se tornou por 16 anos, um eremita na floresta perto do monastério de Sarov. Em 1804 ele apanhou muito, com o seu machado, de ladrões que o deixaram para morrer. Ele se arrastou por horas até o mosteiro, e ficou 5 meses se recuperando e passou o resto de sua vida se apoiando em uma bengala para caminhar. Ele viveu no topo de uma pedra e, mais tarde, passou a morar numa cela construída por ele com paredes sem janelas. Indicado para ser o Abade da Abadia de Sarov, em 1807, ele não aceitou e passou 3 anos sem falar uma palavra em ato de disciplina pessoal.

Em 1810 sua saúde deteriorou a ponto de não conseguir viver na floresta, tendo que retornar a Abadia de Sarov e lá viveu como ermita em sua cela. Em 1832 ele recebeu uma visão da Vigem Maria que dizia a ele para retornar ao seu mundo e oferecer aos outros o benefício de sua sabedoria. São serafim atraiu seguidores e discípulos, e passou a ser chamado de "Starets" que em russo significa "Professor Espiritual". Ensinou monges e monjas. Vários dos seus ensinamentos foram publicados no Convento de Diveyev e também no Ocidende Cristão. São Seraphim teve uma visão que foi presenciada pelas monjas do Mosteiro. Entre um sem número de curas que ele efetuava apenas com sua benção ele curou Nicholau Motovilov. Esta cura foi notável porque fez com que Motovilov escrevesse suas conversas que ele teve com São Serafim, uma delas na presença do Divino Espirito Santo:

– "Uma radiação espiritual que se manifestava como uma luz cegante, o rodeava" - um fenômeno presenciado por homens e mulheres santas tanto no Ocidente como no Leste.

Este trabalho foi publicado em inglês em varias edições.

Nos seus ensinamentos, São Serafim enfatizava ser o Espirito Santo a fonte de luz que transfigurava a alma dos místicos. Ele também ensinava a importância do servir e da pobreza.

Em janeiro de 1833 ele foi encontrado morto no chão de sua cela com suas roupas queimadas por uma vela que havia caído de suas mãos e com a face voltada para o icone da Virgem na parede de sua cela.

Foi canonizado em 1903 pela Igreja Ortodoxa Russa.

Tropário de São Serafim, Tom 4

Tu amaste a Cristo desde a tua juventude, Ó Bendito, e desejando somente a Ele servir, no deserto tu lutastes com trabalho e oração constantes. Com coração penitente e grande amor a Cristo, tu foste escolhido como favorito pela Theotokos. Por este motivo nós clamamos a ti: salva-nos com tuas preces, Ó Serafim nosso bondoso pai.

Kondákion de São Serafim, Tom 2

Tendo deixado a beleza da terra e o que há de corrupto nela, Ó santo, tu te estabeleceste no Mosteiro de Sarov, e ali viveste uma vida angélica, fostes para muitos o caminho para a salvação. Por isto Cristo te glorificou, Ó Pai Serafim, e te enriqueceu com o dom da cura e milagres. E então nós clamamos a ti: Alegra-te, Ó Serafim, nosso bondoso pai.

Diálogo de São Serafim com Motovilov

«São Serafim de Sarov»

Explicação Inicial

Muitos anos atrás, em 1832, em uma floresta da Rússia central, nas proximidades do mosteiro de Sarov, travou-se um notável diálogo entre um sacerdote e um leigo, preservado até os dias de hoje. O sacerdote, que era também monge, chamava-se Serafim; hoje padre Serafim está no céu, e é um dos santos mais conhecidos da Igreja Russa.

Muito antes de ser sacerdote, Serafim se preocupou, como nos ensina o Evangelho, em buscar em primeiro lugar ao Reino de Deus; e foi para poder dedicar-se mais completamente a Deus que ingressou aos dezenove anos no mosteiro de Sarov, onde se tornou monge, depois diácono e sacerdote, entregando-se profundamente à vida de oração.

Padre Serafim morreu aos 74 anos, em 1883, mas dois anos antes de seu falecimento encontrou um leigo, na época um homem casado, chamado Nicolas Motovilov, o qual em sua juventude também havia sido tocado pela graça divina. Deus lhe havia concedido perceber, durante algum tempo, que parecia haver algo de muito profundo atrás da aparente simplicidade das palavras do Evangelho. Nicolas Motovilov começou então a perguntar às autoridades da Igreja qual era a essência e a finalidade do ideal de vida ensinado por Jesus, mas não recebeu por parte destas pessoas nenhuma resposta mais precisa. Alguns chegaram a aconselhar ao jovem que parasse de se preocupar com estas questões e se limitasse a freqüentar a Igreja como todas as demais pessoas. Porém mais tarde as preocupações da vida engolfaram Motovilov e ele acabou se esquecendo da busca de Deus. Viveu como se vive na sociedade. Pecou e sofreu.

Os anos foram se passando. Motovilov foi então atingido por uma doença na época incurável. Lembrou-se por causa disso de procurar conforto e auxílio junto a um certo sacerdote de que tinha ouvido falar, o qual vivia num local muito distante, nas proximidades de um mosteiro perdido em meio à floresta russa. Por causa de sua doença Motovilov já não podia andar e nem mesmo ficar de pé. Teve que ser carregado, em sua penosa viagem, por cinco empregados, mas ficou inteiramente curado depois de uma conversa com o monge Serafim.

No ano seguinte, um ano antes do falecimento do Padre Serafim, ambos mantiveram um diálogo de cujo registro transcrevemos algumas partes. Este diálogo nos fala do Espírito Santo que foi prometido por Cristo aos que cressem em seu nome, e com a sua leitura nos vamos ocupar por algum tempo.

Condensado do Diálogo

"Era uma quinta feira. O céu estava cinza. A terra estava coberta de neve e espessos flocos continuavam a turbilhonar, quando o padre Serafim começou a nossa conversa na clareira perto de sua `Pequena Ermida', em frente ao rio Sarovka que deslizava ao pé da colina.

fez-me sentar no tronco de uma árvore que acabava de derrubar e ele se acocorou em minha frente.

`O Senhor me revelou', disse o grande staretz, `que desde a vossa infância
desejáveis saber qual a finalidade da vida cristã e que tínheis muitas vezes
interrogado a este respeito mesmo a altas personagens na hierarquia da Igreja'.

Devo dizer que desde a idade de doze anos essa idéia me perseguia e que, efetivamente, havia proposto a questão a várias personalidades eclesiásticas, sem nunca receber resposta satisfatória. O staretz ignorava-o.

`Mas ninguém', continuou o padre Serafim, `vos disse nada de preciso;
vos aconselhavam a ir à igreja, a rezar, a viver segundo os mandamentos de Deus, a fazer o bem, e tal, diziam, era o objetivo da vida cristã.

Alguns até desaprovavam a vossa curiosidade, julgando-a descabida e ímpia. Mas estavam errados. Quanto a mim, miserável Serafim, vos explicarei agora em que consiste realmente esse objetivo'.

A verdadeira meta da vida cristã

A oração, o jejum, as vigílias e outras atividades cristãs, tão boas quanto possam parecer em si, não constituem a finalidade da vida cristã, ainda que ajudem a chegar a ela.

O verdadeiro objetivo da vida cristã consiste na aquisição do Espírito Santo de Deus. Quanto à oração, ao jejum, às vigílias, à esmola, e qualquer outra boa ação feita em nome de Cristo, são apenas meios para a aquisição do Espírito Santo.

A aquisição do Espírito Santo.

É pois na aquisição desse Espírito de Deus que consiste a verdadeira finalidade da vida cristã, enquanto a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras ações virtuosas, feitas em nome de Cristo, são apenas meios para adquiri-lo.

`Como a aquisição?', perguntei ao padre Serafim. `Não compreendo muito bem'.

A aquisição é a mesma coisa que a obtenção. Sabeis o que é adquirir dinheiro? Em relação ao Espírito Santo é semelhante. Para as pessoas comuns, o objetivo da vida consiste na aquisição do dinheiro, o ganho. Os nobres desejam, além disso, obter honras, sinais de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado. A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno, dispensador de graças; muito parecido aos capitais temporais e que se obtém pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus homem, compara a nossa vida a um mercado e a nossa atividade na terra a um comércio. Recomenda-nos a todos nós:

`Negociai até que eu volte,`remindo o tempo, porque os tempos são maus'; (Lc 19, 12-13; Ef 5, 15-16) o que quer dizer: "Apressai-vos em obter bens celestes, negociando com mercadorias terrenas".

Essas mercadorias terrestres não são senão as ações virtuosas feitas em nome de Cristo e que nos trazem a graça do Espírito Santo.

Ver a Deus

`Padre', disse-lhe eu, `falais sempre da aquisição da graça do Espírito Santo como a finalidade da vida cristã. Mas, como posso reconhecê-la? As boas ações são visíveis. Mas o Espírito Santo pode ser visto? Como posso saber se Ele está ou não em mim?'

Na época em que vivemos, respondeu o staretz, chegou-se a uma tal tibieza na fé, a uma tal insensibilidade para com a comunicação com Deus, que as pessoas se afastaram totalmente da verdadeira vida cristã. Há passagens da Escritura que nos parecem estranhas hoje, como, por exemplo, quando o Espírito Santo pela boca de Moisés diz:

"Adão via Deus passeando no Paraíso" (Gn 3) ou quando lemos no apóstolo Paulo que foi impedido pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia, mas que o Espírito o acompanhou quando ele se dirigia para a Macedônia (At 16, 6-9). Em muitas outras passagens da Sagrada Escritura ele é, por várias vezes, assunto da aparição de Deus aos homens.

Então alguns dizem: Estas passagens são incompreensíveis. Pode- se admitir que homens possam ver a Deus de maneira tão concreta? Esta incompreensão vem do fato de que sob o pretexto da instrução, da ciência, mergulhamos numa tal obscuridade de ignorância, que tudo achamos incompreensível, tudo de quanto os antigos tinham uma noção bastante clara para poderem falar entre eles das manifestações de Deus aos homens como de coisas conhecidas e, de forma alguma, estranhas. Assim Jó, quando os seus amigos o reprovavam por não blasfemar contra Deus, respondia:

`Enquanto em mim houver um sopro de vida e o alento de Deus nas narinas, meus lábios não dirão falsidades'. (Jó 27, 3)

Em outras palavras, como posso blasfemar contra Deus, quando o Espírito Santo está em mim? Se blasfemasse contra Deus, o Espírito Santo me deixaria, mas sinto sua respiração em minhas narinas. Abraão e Jacó conversaram com Deus. Jacó lutou mesmo com Ele. Moisés viu Deus e todo o povo com ele, quando recebeu as tábuas da Lei, no Sinai. Uma coluna de nuvens de fogo, a graça visível do Espírito Santo, servia de guia ao povo hebreu no deserto. Os homens viam a Deus e seu Espírito não em sonho ou êxtase, fruto de uma imaginação doentia, mas na realidade.

Desatentos, como nos tornamos, compreendemos as palavras da Escritura contrariamente ao que se deveria. E tudo isso porque, em lugar de buscar a graça, nós a impedimos, por orgulho intelectual, de vir habitar em nossas almas e de nos esclarecer como são esclarecidos aqueles que de todo coração buscam a verdade.

A criação

Muitos, por exemplo, interpretam as palavras da Bíblia: `Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida', (Gn 2, 7) como querendo dizer que até então não havia em Adão nem alma, nem espírito humano, mas somente uma carne criada do barro do solo. Esta interpretação não é correta, pois o Senhor Deus criou Adão do barro do solo no estado do qual fala o apóstolo Paulo quando afirma:

`Que vosso espírito, vossa alma e vosso corpo sejam guardados de modo irrepreensível para o dia da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo'. (1 Tes 5, 23)

Todas estas três partes do nosso ser foram criadas do barro do solo. Adão não foi criado morto, mas criatura animal atuante, semelhante às outras criaturas que vivem na terra e são animadas por Deus. Mas eis o importante. Se Deus não tivesse insuflado na face de Adão este alento de vida, isto é, a graça do Espírito Santo que procede do Pai e repousa no Filho e, por causa deste não o tivesse enviado ao mundo, por mais perfeito e superior às outras criaturas que Adão fosse, teria permanecido privado do Espírito deificante e seria semelhante a todas as outras criaturas que possuíssem carne, alma e espírito segundo a sua espécie, mas privados, no interior, do Espírito que estabelece parentesco com Deus. A partir do momento em que Deus lhe deu o sopro de vida, Adão tornou-se, segundo Moisés: `uma alma vivente', o que quer dizer, em tudo semelhante a Deus, eternamente imortal. Adão havia sido criado invulnerável. Nenhum elemento tinha poder sobre ele. A água não podia afogá-lo, o fogo não podia queimá-lo, a terra não o podia engolir e o ar não lhe podia ser nocivo. Tudo lhe era submisso, como ao proferido de Deus, como ao proprietário e rei das criaturas. Ele era a própria perfeição, a coroa das obras de Deus e admirado como tal. O alento de vida que Adão recebeu do Criador, o encheu de sabedoria a tal ponto que jamais houve sobre a terra, e provavelmente jamais haverá, um homem tão repleto de conhecimento e de saber quanto ele. Quando Deus lhe ordenou que desse nomes a todas as criaturas, ele as denominou de acordo com as qualidades, as forças, e as propriedades de cada uma, conferidas por Deus.

Este dom da graça divina supranatural, que veio do alento de vida que havia recebido, permitia a Adão ver a Deus passeando no paraíso e compreender as suas palavras bem como a conversa dos santos anjos e a linguagem de todas as criaturas, dos pássaros, dos répteis que vivem sobre a terra, de tudo o que nos é dissimulado, a nós, pecadores, desde a queda, mas que antes era perfeitamente claro para Adão.

A graça do Espírito Santo é luz

Ainda é preciso que vos diga, a fim de que compreendais o que é preciso entender por graça divina, como ela se manifesta nos homens que ilumina: a graça do Espírito Santo é Luz.

Toda a Sagrada Escritura fala disso. Davi, o antepassado do Deus homem, disse:

`Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho'. (Sl 118, 105)

Em outros termos, a graça do Espírito Santo, que a lei revela na forma dos mandamentos divinos, é minha luminária e minha luz e, se não fosse essa graça do Espírito Santo, "que com tanto trabalho me esforço por adquirir, me interrogando sete vezes ao dia de sua verdade', (Sl 118, 164) como, entre as numerosas preocupações inerentes à minha condição real, poderia encontrar em mim uma só chispa de luz para me iluminar acerca do caminho da vida enegrecida pelo ódio de meus inimigos?

De fato, o Senhor muitas vezes mostrou, na presença de numerosas testemunhas, a ação da graça do Espírito Santo sobre os homens que ele havia iluminado e ensinado através de grandiosas manifestações. Lembrai-vos de Moisés, depois de sua conversa com Deus sobre o Monte Sinai (Ex. 34, 30-35). Os homens não podiam olhá-lo de tal modo seu rosto brilhava com uma luz extraordinária. Era mesmo obrigado a se mostrar ao povo com a face recoberta com um véu. Lembrai-vos da transfiguração do Senhor no Tabor.

`E ali foi transfigurado diante deles. O seu rosto resplandeceu como o Sol, e suas vestes se tornaram brancas como a luz [...] Os discípulos ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no chão'.

Quando Moisés e Elias apareceram revestidos da mesma luz `uma nuvem os encobriu para que não ficassem cegos'. (Mt. 17, 1-8; Mc 9, 2-8; Lc 9, 28-37)

É assim que a graça do Espírito Santo de Deus aparece numa luz inefável àqueles a quem Deus manifesta a sua ação.

Presença do Espírito Santo

`Como poderei então', perguntei ao padre Serafim, `reconhecer em mim

a presença do Espírito Santo?'

É muito simples, respondeu ele. Deus disse: `O saber é fácil para o inteligente'. (Prov 14, 6)

Nossa desgraça é que nós não procuramos essa sabedoria divina que, não sendo deste mundo, não é presunçosa. Cheia de amor por Deus e pelo próximo, ela molda o homem para sua salvação. Foi falando dessa sabedoria que o Senhor disse: `Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade'. (1 Tim. 2, 4) A seus apóstolos, que não tinham esta sabedoria, ele disse: `Ó insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram!' (Lc 24, 25-27)

E o Evangelho diz que ele `lhes abriu a inteligência a fim de que pudessem
compreender as Escrituras'.

Tendo adquirido essa sabedoria, os apóstolos sabiam sempre se o Espírito de Deus estava ou não com eles e, cheios desse Espírito, afirmavam que sua obra era santa e agradável a Deus. Por isso em suas epístolas podiam escrever: `Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós...', (At 15, 28) e somente persuadidos como estavam de sua presença sensível, enviavam suas mensagens. Então, amigo de Deus, vede como é simples.

Respondi: `Apesar de tudo, não compreendo como posso estar absolutamente certo de me encontrar no Espírito Santo. Como posso eu mesmo
descrever em mim a sua manifestação?'

O padre Serafim respondeu:

Já vos disse que é muito simples e vos expliquei com detalhes como os homens se encontravam no Espírito Santo e como se deve compreender a sua manifestação em nós... Que vos falta ainda? `Eu preciso', respondi, `compreendê-lo verdadeiramente bem... '

A luz incriada

Então o padre Serafim me tomou pelos ombros e, apertando-os fortemente, disse: Estamos ambos, vós e eu, na plenitude do Espírito Santo. Por que não me olhais? `Não posso, padre, olhar-vos. Brotam raios de vossos olhos. O vosso rosto tornou-se mais luminoso do que o Sol. Os olhos me doem... '

O padre Serafim disse: Não tenhais medo, amigo de Deus. Também vos tornastes tão luminoso quanto eu. Vós também estais agora na plenitude do Espírito Santo, de outro modo não teríeis podido me ver.

Inclinando a sua cabeça para mim, disse-me ao ouvido: Agradecei ao Senhor por vos ter concedido esta graça indizível. Vistes, nem mesmo fiz o sinal da cruz, no meu coração, em pensamento somente, rezei: `Senhor, tornai-me digno de ver claramente, com os olhos da carne, a descida do Espírito Santo como a teus servidores eleitos quando te dignaste aparecer-lhes na magnificência de tua glória!'

E imediatamente Deus atendeu a humilde oração do miserável Serafim. Como não agradecer-lhe por esse dom extraordinário que a nós dois ele concede? Não é também sempre aos grandes eremitas que Deus manifesta assim a sua graça. Como mãe amorosa, essa graça se dignou consolar o vosso coração desolado, a pedido da própria Mãe de Deus. Mas, por que não me olhais nos olhos? Ousai olhar-me sem temor, Deus está conosco.

Depois destas palavras, levantei os olhos para o rosto e um medo maior ainda tomou posse de mim. Imaginai-vos no meio do Sol, na claridade mais forte de seus raios de meio dia, o rosto de um homem que vos fala. Vedes o movimento de seus lábios, a expressão cambiante de seus olhos, vós ouvis o som de sua voz, sentis a pressão de suas mãos, mas, ao mesmo tempo, não percebeis nem as suas mãos, nem o seu corpo, nem o vosso, nada senão uma esplendorosa luz se propagando ao redor, a uma distância de muitos metros, iluminando a neve que recobria a campina e caía sobre o grande staretz e sobre mim. Pode-se representar a situação na qual me encontrava então?

`Que sentis agora?', perguntou o staretz.

`Sinto-me extraordinariamente bem'.

`Como "bem"? Que quereis dizer por "bem"?'

`Minha alma está cheia de um silêncio e de uma paz inexplicável'.

Aí está, amigo de Deus, esta paz da qual o Senhor falava quando ele dizia a seus discípulos: "Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas porque não sois do mundo e minha escolha vos separou do mundo, o mundo por isso vos odeia. Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim. Tende coragem, eu venci o mundo". (Jo 14,27; 15,19; 16,33)

É a esses homens eleitos por Deus, mas odiados pelo mundo, que Deus dá a paz que sentis agora, `a paz de Deus', diz o apóstolo, `que excede toda a compreensão'. (Fil 4, 7)

O apóstolo denomina-a assim porque nenhuma palavra pode exprimir o bem estar espiritual que ela faz nascer nos corações dos homens em que o Senhor a implanta. Ele mesmo a chama sua paz (Jo. 14, 27). Fruto da generosidade de Cristo e não deste mundo, nenhuma felicidade terrena a pode dar. Enviada do alto pelo próprio Deus, ela é a paz de Deus... Que sentis agora?

`Uma delícia extraordinária'.

É a delícia de que fala a Escritura: `Eles ficam saciados com a gordura de tua casa, tu os embriagas com um rio de delícias'. (Sl 35, 9)

Ela transborda do nosso coração, derrama-se em nossas veias, traz-nos uma sensação de delícia inexprimível... Que sentis ainda?

`Uma extraordinária alegria em todo o meu coração'.

Quando o Espírito Santo desce sobre o homem com a plenitude de seus dons, a alma humana fica cheia de uma alegria indescritível. É dessa alegria que o Senhor fala no Evangelho quando diz: `Quando uma mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, nasce a criança, ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem.

Também vós, agora, estais tristes; mas eu vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria'. (Jo 16, 21-22)

Por grande e consoladora que ela seja, a alegria que sentis neste momento nada é, em comparação com aquela da qual o Senhor disse através de seu apóstolo: `O que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam'. (1Cor 2, 9)

O que nos é concedido presentemente é apenas uma antecipação dessa alegria suprema. E, se desde agora, nós sentimos deleite, júbilo e bem estar, que dizer desta outra alegria que nos está reservada no céu, depois de ter, aqui na terra, chorado? Já haveis chorado bastante em vossa vida e vede que consolação na alegria o Senhor vos dá aqui na terra. Cabe a nós, agora, amigo de Deus, trabalhar com todas as nossas forças para subirmos de glória em glória `até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado do homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo'. (Ef 4, 13)

`Os que põe sua esperança em Javé renovam as suas forças, formam asas como as águias, correm e não se fatigam, caminham e não se cansam'. (Is 40, 31)

`Eles caminham de terraço em terraço e Deus lhes aparece em Sião'. (Sl 83, 8

É então que a nossa alegria atual, pequena e breve, se manifestará em toda a sua plenitude e ninguém nos poderá arrebatá-la, repletos como estaremos de indizíveis gozos celestes. Que sentis, ainda, amigo de Deus?

`Um calor extraordinário'.

Como, um calor? Não estamos na floresta, em plena neve? A neve está sob os nossos pés, estamos cobertos dela e ela continua caindo... De que calor se trata?

`Um calor semelhante ao de um banho de vapor'.

E o cheiro é como no banho?

`Oh, não! Nada sobre a terra se pode comparar a esse perfume. No tempo em que a minha mãe vivia, ainda gostava de dançar e quando eu ia a um baile,
ela me aspergia perfumes que comprava nas melhores lojas de Kasan e pagava muito caro. O seu odor não é comparável a estes aromas'.

O padre Serafim sorriu.

Eu sei, meu amigo, tanto quanto vós, e é de propósito que vos interrogo. É bem verdade, nenhum perfume terreno pode ser comparado ao bom odor que respiramos neste momento, o bom odor do Espírito Santo. O que pode, sobre a terra, ser-lhe comparado? Dissestes, ainda há pouco, que fazia calor, como no banho. Mas olhai, a neve que nos cobre, a vós e a mim, não se derrete, assim como a que está aos nossos pés. O calor não está no ar, mas no nosso interior. É este calor que o Espírito Santo nos faz pedir na oração: `Que teu Espírito Santo nos aqueça'.

Este calor permitia aos eremitas, homens e mulheres, não temerem o frio do inverno, envolvidos, como estavam, como que num manto de peles, numa veste tecida pelo Espírito Santo.

É assim que, na realidade, deveria ser, habitando a graça divina no mais profundo de nós, em nosso coração. O Senhor disse: `O Reino de Deus está dentro de vós'. (Lc 17, 21)

Por Reino de Deus ele entende a graça do Espírito Santo. Este Reino de Deus está em nós, agora. O Espírito Santo nos ilumina e nos aquece. Enche o ar de perfumes variados, alegra os nossos sentidos, sacia o nosso coração com alegria indizível. O nosso estado atual é semelhante àquele do qual fala o apóstolo: `Porquanto o Reino de Deus não consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo'. (Rom 14, 17)

A nossa fé não se baseia em palavras de sabedoria terrena, mas na manifestação do poderio do Espírito. Trata-se do estado em que estamos atualmente e que o Senhor tinha em vista quando dizia: `Em verdade vos digo
que estão aqui presentes alguns que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus chegando com poder'. (Mc 9, 1)

Eis aí, amigo de Deus, a alegria incomparável que o Senhor se dignou conceder-nos. Eis o que é estar `na plenitude do Espírito Santo'.

É isto o que entende São Macário, o Egípcio, quando escreve: `Eu mesmo estive na plenitude do Espírito Santo'.

Humildes quanto somos, o Senhor nos encheu da plenitude de seu Espírito. Parece-me que, a partir deste momento, não tereis de me interrogar mais sobre a maneira como se manifesta, no homem, a presença da graça do Espírito Santo.

Esta manifestação permanecerá para sempre em vossa memória.

`Não sei, padre, se Deus me tornará digno de me lembrar dela sempre com tanta nitidez como agora'.

Difusão da mensagem.

E eu, respondeu o staretz, julgo que, pelo contrário, Deus vos ajudará a guardar todas estas coisas para sempre, em vossa memória. De outro modo ele não teria sido tão rapidamente tocado pela humilde oração do miserável Serafim e não teria atendido tão depressa o seu desejo. Além do mais, não é somente a vós que é dado ver a manifestação desta graça mas, por vosso intermédio, ao mundo inteiro. Vós mesmo assegurai-vos, sereis útil a outros.

Monge e leigo

Quanto a nossos estados diferentes, de monge e leigo, não vos preocupeis. Deus procura acima de tudo um coração cheio de fé nele e em seu Filho único, em resposta à qual envia do alto a graça do Espírito Santo. O Senhor procura um coração repleto de amor por Ele e pelo próximo; aí está um trono sobre o qual Ele gosta de sentar-se e onde ele aparece na plenitude de sua glória.

`Meu filho, dá-me o teu coração, e o resto eu te darei por acréscimo'. (Pr 23, 26)

O coração do homem é capaz de conter o Reino dos Céus.

`Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça', diz o Senhor a seus discípulos, `e todas estas coisas vos serão acrescentadas, pois Deus, vosso Pai, sabe do que precisais'. (Mt 6, 33)

Legitimidade dos bens terrenos

O Senhor não nos proíbe o gozo dos bens terrenos, e diz ele próprio que, dada a nossa situação aqui na terra, deles precisamos para dar tranqüilidade às nossas existências e tornar mais cômodo e fácil o caminho para a nossa pátria celeste. E o apóstolo Pedro acha que nada há melhor no mundo do que a piedade unida ao contentamento. A Santa Igreja pede que isso seja dado. Apesar das penas, as desgraças, e as necessidades serem inseparáveis da nossa vida na terra, o Senhor jamais quis que os cuidados e as misérias constituíssem toda a trama dela. E, por isso, pela boca do apóstolo nos manda carregar os fardos uns dos outros, a fim de obedecer a Cristo que pessoalmente nos deu o preceito de nos amarmos mutuamente. Reconfortados por esse amor, a caminhada dolorosa pela via estreita que leva à nossa pátria celeste nos será facilitada. Não desceu o Senhor do céu não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida pela redenção de muitos? (M. 20, 28; Mc 10, 45).

Atuai do mesmo modo, amigo de Deus, e, consciente da graça da qual fostes visivelmente objeto, comunicai-a a todo homem desejoso da sua salvação.

Atividade missionária

`A colheita é grande', diz o Senhor, `mas poucos os operários'. (Mt 9, 37-38; Lc 10, 2)

Tendo recebido os dons da graça, somos chamados a trabalhar colhendo as espigas da salvação do nosso próximo, para os recolhermos no celeiro, em grande número, no Reino de Deus, a fim de que produzam seus frutos, uns trinta, outros sessenta, e outros cem. Estejamos atentos para não sermos condenados com o servo preguiçoso que enterrou o dinheiro a ele confiado, mas tratemos de imitar os servos fiéis que devolveram ao Mestre um, em vez de dois talentos, quatro, e o outro, em vez de cinco talentos, dez. Quanto à misericórdia divina, não se pode duvidar dela: vede vós mesmo como as palavras de Deus, ditas por um profeta, se realizaram por nós.

`Sou, por acaso, Deus apenas de perto'. (Jr 23, 23)

"Quando foi a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher" (Ga 4,4)

S. Proclus de Constantinopla (c. de 390-446), bispo
Sermão n° 1 ; PG 65, 682

Que a natureza estremeça de alegria e que exulte todo o gênero humano, uma vez que as mulheres também são chamadas a esta honra. Que a humanidade cante em coro...: «Onde o pecado abundou, superabundou a graça» (Rm 5,20). A santa Mãe de Deus reuniu-nos aqui, a Virgem Maria, tesouro puríssimo de virgindade, paraíso espiritual do segundo Adão, ponto de união das duas naturezas, lugar de troca onde se concluiu a nossa salvação, câmara nupcial em que Cristo desposou a nossa carne. Ela é essa sarça ardente que o fogo do parto de um Deus não consumiu, a nuvem ligeira que transportou Aquele que tem o trono acima dos querubins, o velo puríssimo que recebeu o orvalho celeste... Maria, serva e mãe, virgem, céu, ponte única entre Deus e os homens, tear da encarnação em que se achou admiravelmente confeccionada a túnica da união das duas naturezas - e o Espírito Santo foi o tecelão.    
Na sua bondade, Deus não desdenhou nascer de uma mulher, mesmo se Aquele que dela ia ser formado era Ele mesmo a vida. Mas, se a mãe não tivesse permanecido virgem, esta gestação não teria nada de espantoso; seria simplesmente um homem que teria nascido. Mas, uma vez que ela permaneceu virgem mesmo após o parto, como poderia não se tratar de Deus e de um mistério inexprimível? Nasceu de uma maneira inefável, sem mancha, Aquele que mais tarde entrará sem obstáculo, com todas as portas fechadas, e diante de quem Tomé exclamará, contemplando a união das duas naturezas: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20,28)
Por nosso amor, Aquele que por natureza era incapaz de sofrer expôs-se a numerosos sofrimentos. Cristo não se tornou Deus pouco a pouco; de modo nenhum! Mas, sendo Deus, a sua misericórdia levou-o a tornar-se homem, tal como a fé nos ensina. Não pregamos um homem que se tornou Deus, proclamamos um Deus feito carne. Tomou por mãe a sua serva, Ele que pela sua natureza não conhece mãe e que, sem pai, encarnou no tempo.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Comemorações

 

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Circuncisão de Nosso Senhor Jesus Cristo;

São Basílio, o Grande, arcebispo de Cesaréia

Vésperas: Gênesis 17:1-7, 9-12, 14; Provérbios 8:22-30; Provérbios 10:31-11:12

Matinas: João 10:1-9

Liturgia de São Basílio: Colossenses 2:8-12; Lucas 2:20-21, 40-52

 

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São Basílio Grande

São Basílio Grande (329-379), arcebispo da Cesaréia de Capadócia recebeu a base da sua educação no seu lar. A sua família era muito pia. A sua avó, a sua irmão, a sua mãe e o seu irmão foram canonizados. O seu pai era professor de eloqüência e advogado. Terminando os seus estudos em Cesaréia, Basílio estudou nas famosas escolas de Atenas. Voltando para a Cesaréia, ele foi batizado e assumiu o posto de leitor na igreja. Depois disto, ele passou muito tempo junto com os eremitas de Síria, Mesopotâmia, Palestina e Egito, onde aprendeu tudo sobre a vida monástica. Basílio gostou da vida no deserto e escolhendo um lugar afastado, ele construiu lá uma morada, onde habitava junto com ele também o amigo da sua juventude — são Gregório (Teólogo). O arcebispo da Cesaréia, Eusébio, chamou são Basílio do seu retiro e ordenou-o (364). Após a sua ordenação, o padre Basílio foi designado assistente mais próximo de Eusébio e o tempo todo trabalhou exaustivamente, pregando diariamente, às vezes até duas vezes por dia, fundando em Cesaréia e nas suas proximidades hospitais, orfanatos e asilos.

Após a morte de Eusébio (370), são Basílio foi elevado para a cátedra de Cesaréia e quase todos os anos de seu arcebispado passou na luta acirrada contra os arianos, os quais eram muito fortes durante o reinado de imperador Constantino e receberam mais força ainda durante o reinado do imperador Valente (os arianos rejeitam a essência Divina do Nosso Senhor Jesus Cristo). Nesta luta com os arianos, são Basílio continuava a obra de Atanásio Grande, e igual a ele, era considerado um pilar indestrutível da Ortodoxia. Os conselheiros do imperador Valente lhe diziam, que se são Basílio ceder, os arianos vencerão uma vez por todas. Valente mandava para Cesaréia o prefeito Modesto, que era conhecido por sua crueldade na perseguição dos ortodoxos. Modesto era muito arrogante e chamou a si são Basílio, no começo tentando convencê-lo de entrar em entendimento com os bispos arianos, prometendo-lhe muitos benefícios que viriam a ele do imperador; depois, percebendo a sua firmeza, começou a ameaçar-lhe com o seqüestro de seus bens, o exílio e até com a morte. São Basílio lhe respondeu: “Não tenho medo do exílio, pois toda a terra pertence a Deus: é impossível seqüestrar os bens daquele, que nada possui; a morte seria um grande favor para mim: ela me unirá ao Cristo, por Quem eu vivo e trabalho aqui na terra.” Esta grandeza surpreendeu o prefeito. “Até agora ninguém falou assim comigo,” disse ele. — “Provavelmente, ainda não tiveste a oportunidade de falar com um bispo,” retrucou modestamente São Basílio.

Depois disto, o próprio imperador chegou até a Cesaréia e no dia da Teofania foi para a igreja, onde o santo celebrava a missa. Valente ficou surpreso com a piedosa celebração do santo e pela enorme multidão rezando. Mas, mesmo assim, ele usou todos os meios para persuadir Basílio a fazer pelo menos algumas concessões aos arianos. Não conseguindo convencê-lo, Valente decretou o seu exílio, mas o filho dele ficou de repente muito doente, e não achando nenhum outro recurso, Valente era forçado a revogar o seu decreto e pedir ajuda ao santo. Mesmo assim, depois disto os arianos conseguiram pelo menos diminuir a região do arcebispo. A sua região foi dividida em duas partes e um dos seus antigos assistentes, que antigamente era subordinado a ele (Anoim — bispo da nova região da cidade de Tiana) se transformou no seu maior rival e inimigo.

Para guardar a sua região dos arianos, são Basílio fundou um episcopado especial na cidade de Sasima, que se encontrava na fronteira com a região dos arianos, e designou para esta cátedra, tão importante o seu amigo Gregório, que ele havia ordenado um pouco antes. Porém, são Gregório se recusou a assumir o cargo numa província tão conturbada, pois isto não correspondia a sua vocação espiritual.

Além de defesa abnegada da Ortodoxia contra os arianos, o arcebispo Basílio prestou outros valiosos serviços à Igreja: toda a vida dele e principalmente os últimos nove anos eram repletos de trabalhos incessantes. As muitas cartas dele mostram como ele sofria com as confusões que conturbavam a vida da Igreja e como ele se empenhava na restauração da paz no meio episcopal. Ele fundava asilos para doentes e para pobres, parcialmente com os seus próprios recursos que herdou dos seus pais, parcialmente com a ajuda de outras pessoas, e estes asilos eram tão numerosos, que na sua totalidade representavam como que uma cidade. Durante a fome, os habitantes da Cesaréia encontraram nele um generoso benfeitor. Ele era o fundador de famosos mosteiros e redigiu as regras da vida e da conduta dos monges, e estas regras dele são observadas até hoje.

O piedoso serviço de são Basílio surpreendeu Valente, mas temos também um outro testemunho de uma outra pessoa, mais competente apreciador da beleza espiritual, são Efraim Sírio. São Efraim Sírio, guiado pela revelação celestial, veio à igreja, onde são Basílio celebrava a missa e pregava. Ele ficou tão admirado por tudo, que ele presenciou lá, que mencionou a sua admiração à voz alta na sua língua síria e desta maneira chamou a atenção a si de todo mundo. Este foi o começo da sua amizade com são Basílio, como atestam inúmeras cartas deles. Preocupando-se com a uniformidade da missa litúrgica, são Basílio redigiu a liturgia apostólica na sua ordem, que até hoje é conhecida como a liturgia de são Basílio. Esta liturgia é celebrada aos domingos da Grande Quaresma e mais em alguns outros dias. Ele redigiu também várias orações, rezadas na Igreja, das quais as mais conhecidas são as orações de Pentecostes, que são rezadas, genuflexas, após a liturgia.

As obras de são Basílio são muito respeitadas na Igreja, particularmente as suas “Palestras sobre os seis dias da criação,” onde ele se mostra não só como um grande teólogo, mas também um grande cientista no campo de ciências naturais. Temos também 13 palestras sobre os salmos, 25 palestras sobre diversos assuntos, 5 livros contra arianos e um livro sobre a divindade do Espírito Santo.

Porém, os muitos afazeres e muitas mágoas minaram a saúde de são Basílio e ele veio a falecer aos 50 anos de idade (1 de janeiro de 379).

Tropário:

Os teus ensinamentos são divulgados em todo mundo, pois foram aceitas as tuas palavras, pelas quais ensinavas as verdades divinas: explicaste a essência da via, adornaste os costumes, dignidade real, padre reverendo: ora a Cristo Deus que salve as nossas almas.