A Fé Antiga e Perene Falando ao Mundo Atual: Temas Teológicos, Notícias, Reportagens, Comentários e Entrevistas à luz da Fé Ortodoxa.

sábado, 11 de novembro de 2017

Meditação Para a Morte




“Lembra-Te de Mim, Senhor, e Perdoa a Este Réu”

«Cristo Rei, reparador de nossa salvação: dai-me, concede-me a graça de que à Tua vinda eu saia vivo do sepulcro, e que quando Tua Majestade se manifestar, me coloques à Tua destra.

Adoramos, Senhor, Tua cruz, na qual está depositada toda a nossa esperança de salvar-nos, porque será ela que dará aos nossos corpos a imortalidade e a claridade. Meus olhos esperam a Tua redenção, e meus ouvidos também esperam a palavra de Teu juízo Salvador. Não me deixes abandonado no sepulcro, porque Tu És a esperança dos mortos enterrados. A Adão sepultado lhe ressuscitará a voz do Filho de Deus e, como em outro tempo aos hebreus, o levará, não para a terra da promissão, mas conduzido ao céu, lhe revestirá de glória imortal.

Mas, enquanto não nos é concedido subir até ali, não cessam de ressoar em nossos ouvidos, como trovões, as vozes dos santos. Teus apóstolos gritam aos pecadores chamando-os à penitência, admoestando-lhes que trabalhem na consecução da verdadeira glória, pois a vida deste mundo é uma fábula.

Nossa ressurreição futura nos é anunciada pelos Profetas; pelos Apóstolos, o prêmio para a virtude, e o Evangelho do Senhor nos mostra o caminho pelo qual se vai ao reino. Que o mundo inteiro, os homens todos, caindo de joelhos, Te adorem, Senhor, e que toda a terra louve o Teu nome, Tu que És restaurador daqueles que jazem mortos e esperança derradeira de todos os mortais...

Não permitas, Senhor, que nossas culpas nos arrastem à perdição, pois És Tu mesmo Quem perdoa os pecados; não deixes órfãos a estes Teus pequeninos, nem aos anciãos os prives de toda proteção, nem os exponhas à ignomínia e à miséria. Por aquele Teu amor, Senhor, com que nos amaste, não nos abandones, e dai-nos o Teu auxílio para servir-Te todos os dias fervorosamente.

Meus dias voaram como um sonho, correram e se evaporaram meus anos; o peso dos meus delitos está mostrando o tremendo juízo da justiça divina e assusta-me tremendamente. Por isso, com grande amargura de minha alma, clamo com o profeta: 'Não entres em juízo com o Teu servo, pois diante de Ti não existe ninguém justo.'

Envergonha-Te de deixar-me desfeito no sepulcro, porque Tu És Deus de misericórdia; restituí-me a forma perdida de meu corpo, impelido pela compaixão, a fim de que, adquirindo nova beleza quando venhas, mereça entrar em Teu reino.

'Quando cresceram os meus pecados' – disse Adão – 'então se alterou a ordem de todas as coisas que me eram próprias. Os pecados me arrebataram a vida. Quem me libertará de tantas calamidades que me afligem? O grande mal que me tirou a vida foi o ter pecado no paraíso e desobedecido a Deus.'

Todos nós, os Teus filhos, entramos irremissivelmente pelo caminho que ele nos abriu pecando e, como ele, nos separamos da santidade de Deus. Senhor! Por isso todos temos que voltar prontamente para aquela mesma terra da qual fomos criados, terra sujeita a todas as calamidades.

Porém, lembra-Te de mim, Senhor, e perdoa a este réu. Sou obra de Tuas mãos: Tu me modelaste. Lembra-Te de Teu primeiro amor, que És misericordioso e mansíssimo. Chegará o dia em que chamarás os mortos à vida; peço-Te que então não me separes de Tua companhia. Ajude-me o Teu poder, que antes me deu o ser: Vede que sou joguete do diabo; peço-Te que reprimas sua sanha. Chamastes-nos aos Teus templos; não permitas que caiamos em poder de nosso inimigo carniceiro. Comido pela inveja, ele nos arrebatou aquela luz que lhe ofuscava, e despidos nos precipitou às trevas do inferno, de onde não se volta.

A morte maldita preside e está sentada às portas para impedir a saída, e até a própria esperança de sair dali, se alguma restar de fugir-se. Envia, Senhor, do céu ao Teu Amado, que rompa os ferrolhos do obscuro calabouço; visto que venceu ao nosso adversário, repara a desgraça que nos aflige.»

Santo Efrém, o Sírio, Diácono e Monge (séc. IV)

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

A Origem Divina dos Louvores à Santíssima Mãe de Deus


Lucas 1:39-49,56

Isabel e João Batista, movidos pelo Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestarem veneração à Santa Mãe de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído. 
 
A narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem:


1. Primeiramente usa - em relação à Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: «Bendita és tu...». Igualmente, também, louva à Criança: 
«Bendito É o Fruto do teu ventre»; 
2. Enche de humildade a profetiza diante do que lhe é inefável, pois, assim, Isabel diz: 
«Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu Senhor?»; 
3. Faz com que profetize acerca do que não entende: Isabel sem entender como o mortal poderia gerar o Eterno; louva Àquela que Deus santificou: «Bem aventurada aquela que creu...». 
Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza, louvando o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe concedeu, sendo ela uma humilde serva; e anuncia a veneração que doravante todas as gerações lhe prestariam: 
«Eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada...» (Lc 1:48; Sl 45:17) 

A maioria dos Evangélicos não consegue enxergar este sentido do texto, porque não possuem uma alma litúrgica. Como suas experiências se centralizam e se apoiam unicamente na razão discursiva, reduzem a expressão «Bem Aventurada» - aplicada à Virgem - a uma simples declaração sobre o estado de sua alma, e não à uma atitude cúltica por parte de Isabel e seu filho fetal, João Batista, ignorando completamente toda a cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular, desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era esposa do Sumo Sacerdote Zacarias.

Tal abordagem assemelha-se às visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a peculiaridade de cada um, só enxergam as suas utilidades: O lenhador de forma geral enxergará apenas os tipos de madeira que a floresta fornece, e o botânico se concentrará na sua biodiversidade; mas, ambos, dificilmente conseguirão exaurir a «alma» da floresta, como faz um artista, que contempla o todo e as realidades que o inspiram.

Este reducionismo não atinge somente à Santa Virgem, mas, também, ao Próprio Cristo, o Senhor; pois se a fórmula «Bendita, Bem Aventurada» for despida do seu sentido cúltico e reduzida a uma mera afirmação, isto significa que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência ao Menino-Deus quando afirmaram: «Bendito É o Fruto do teu ventre».

O júbilo de João Batista, que ainda era um feto, desprovido de razão, mas, já cheio do Espírito desde o ventre materno, o rompante que o Espírito dá a Isabel, que «com grande voz» louva a Mãe do Senhor e a inspiração do próprio canto de Maria nos ensinam que, a partir da visita de Maria a Isabel, que foi o Próprio Espírito Santo que inaugurou e instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus: 

«DESDE AGORA TODAS AS GERAÇÕES ME CHAMARÃO BEM-AVENTURADA»

Pe. Mateus (Antonio Eça)