A Fé Antiga e Perene Falando ao Mundo Atual: Temas Teológicos, Notícias, Reportagens, Comentários e Entrevistas à luz da Fé Ortodoxa.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Como Devem Ser Entendidos os Salmos



A Igreja consta de todos os fiéis, e eles são membros de Cristo. A Cabeça que está nos céus governa seu corpo; apesar de separada dele, no que toca à visão, acha-se unida pela caridade. Uma vez que o Cristo total é cabeça e corpo, ouçamos em todos os salmos as vozes da Cabeça, de tal modo que ouçamos igualmente as vozes do corpo. Pois, não quis o Senhor falar separadamente, porque não quis estar separado. Por isso, diz: “Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Se está conosco, fala em nós, fala de nós, fala por nós, porque também nós falamos nele; falamos a verdade porque nele é que falamos. Pois se quisermos falar em nós e por nós mesmos, permaneceremos na mentira.


Comentário de Santo Agostinho ao Salmo 56

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Meu Tributo à Dormição Da Mãe Deus



Hoje o Calendário Ortodoxo comemora a dormição daquela que deu à luz à Vida do mundo; a verdadeira Escada de Jacó, pela qual o Céu desceu a terra, hoje subiu os degraus que a levaram aos céus. Àquela que pelo seu "sim" quebrou a antiga maldição, permitindo aos Querubins Guardiões do Éden baixarem suas espadas flamejantes, pois, a Árvore da Vida tornou-se acessível aos homens; que ergueu a Adão de sua queda, enxugando às lágrimas de Eva, humilhando a serpente, à ela, meu humilde tributo.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Metropolita Hilarion: Oriente Médio e Ucrânia São Partes de Uma Mesma Estratégia


As causas da ampla disseminação de ideologias radicais islâmicas e maneiras de resolver o problema; os conflitos militares no Oriente Médio assim como os relacionados com a escalada da violência na Ucrânia e o destino dos Metropolitas sequestrados da Síria são temas da entrevista concedida à RIA Novosti pelo Chefe do Departamento Para as Relações Externas do Patriarcado de Moscou, Metropolita Hilarion de Volokolamsk.


- Como o Senhor descreveria a crescente disseminação de ideologias radicais islâmicas e de violência contra pessoas de outras religiões no Oriente Médio? A quê tudo isso leva? E quem lucra?

- O recente crescimento do extremismo acobertado por razões religiosas é um sério desafio para toda a comunidade mundial. A desestabilização no Oriente Médio é uma consequência não só do confronto cívico, mas também pelo fato de que as principais potências mundiais têm seus próprios interesses políticos e econômicos na região. Alguns países fomentam conflitos interconfessional existentes, produzindo graves consequências para a região.

Sejam quais forem as razões políticas, elas não podem servir de justificativas para se armar assassinos, sequestradores e extremistas. A desestabilização de todo o Oriente Médio, incentivada a partir do exterior, teve como consequência a ameaça de uma total eliminação dos cristãos em vários desses países.

Estamos especialmente preocupados com o fato de que, como resultado desse confronto, há uma fuga em massa dos cristãos no Oriente Médio, e a escalada deste êxodo está crescendo a cada mês. Sendo povos nativos da região, os cristãos têm que abandonares suas casa, sob pena de morte. E mesmo em campos de refugiados, não podem se sentir seguros em face da discriminação, ameaças e sequestros.

A situação no Egito mostrou que quando o poder é exercido por aqueles que se opõem com firmeza a extremistas, a situação dos cristãos melhora. Em uma recente entrevista dada pelo Patriarca Teodoro II, de Alexandria, à sua agência de notícias, ele disse que a situação dos cristãos no Egito está estabilizada, graças à política adotada pelo novo presidente do país, Abdel Fattah Sisi.

- O Senhor vê uma ligação entre o crescimento da tensão, provocações   escalada dos conflitos armados no Oriente Médio com, por exemplo, os acontecimentos na Ucrânia?

- O acúmulo da tensão no Oriente Médio e na Ucrânia é parte do mesmo plano estratégico. Entre os objetivos desta estratégia está o seguinte: o de criar um foco de confronto crônico nas fronteiras do nosso país.

Estou certo de que a política dúbia adotada e a teoria do "caos controlado" não trará qualquer sucesso a longo prazo por seus proponentes. É terrível hoje que o número de vítimas em nações por ações políticas imorais, seja tido alguns como um custo aceitável.

- Que informações sobre a perseguição dos cristãos no Oriente Médio está disponível para a Igreja Ortodoxa Russa hoje? As freiras do Mosteiro de Maalula já foram libertadas, mas, qual é o destino de outras pessoas que foram levadas cativas por causa de sua fé? O que se sabe hoje sobre os metropolitas sírios que foram sequestrados mais de um ano atrás?

- Em 25-26 de dezembro de 2013, o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa expressou "grave preocupação com a contínua perseguição e discriminação da população cristã em muitos países da África do Norte e do Oriente Médio”, e afirmou "a necessidade de prosseguir com ações efetivas, destinadas a chamar a atenção da opinião pública mundial para a trágica situação dos cristãos nas regiões do Médio Oriente e Norte de África, e promover um acordo de paz dos conflitos através do diálogo inter-religioso e internacionais". Para a Igreja Ortodoxa Russa, o apoio a cristãos perseguidos é uma preocupação especial e uma das principais áreas das ações externas da igreja.

Desde o sequestro dos dois metropolitas na Síria, não tem havido qualquer evidência confiável de que eles estão vivos. Não há registros de fotos, de vídeo ou voz. Ocasionalmente temos recebido - de várias fontes - informação sobre o seu paradeiro, o que, aparentemente, foi alterado mais de uma vez. Mas não há nenhuma maneira de verificar as informações. Tememos bastante por suas vidas, mas oramos por suas prontas libertações.

- A Igreja Russa, assim como o Estado Russo, constantemente pedem paz e preservação da presença cristã no Oriente Médio. Por que isto é tão importante hoje em dia? E qual é a razão histórica, política ou visão de mundo para isso?

- O Oriente Médio é o berço do cristianismo. Foi lá que uma das primeiras comunidades cristãs apareceu no 1º século e onde pela primeira vez o próprio nome de "cristãos" foi usado. A Igreja Ortodoxa de Antioquia é uma Igreja irmã para nós, e nós levamos suas dificuldades com o coração pesado.

Sabemos que extremistas estão destruindo igrejas e instituições cristãs, e devastando santuários de importância para toda a cristandade. Tomamos como nossos o sofrimento dos cristãos na Síria. Nosso povo está muito bem consciente do que vem a ser a guerra e a perseguição à fé cristã.

Através dos séculos, a nossa Igreja tem dado apoio moral e material ao sofrimento dos cristãos do Oriente Médio. Em uma base regular, colocamos a situação dos cristãos no Oriente Médio na agenda de eventos internacionais e reuniões com líderes religiosos e políticos. Temos repetidamente apelado à comunidade internacional, as organizações internacionais e líderes políticos e religiosos, lembrando-lhes as consequências perigosas do êxodo em massa de cristãos de suas terras nativas, e pedimos que sejam tomadas todas as medidas possíveis para proteger e preservar a presença cristã na região.

Um esforç0 muito grande tem sido exercido pela Imperial Sociedade Ortodoxa Para a Palestina, que se prepara agora já a 11 ª ar carregamento de ajuda humanitária aos cristãos que sofrem na Síria. Desta vez, a ajuda será destinada para aqueles que vivem no Vale dos cristãos.

Em 28 de julho, a St. Andrew Charity recebeu um grupo de órfãos da Síria para a melhoria da saúde em uma de suas bases de recreação, perto de Moscou. Ao todo existem 100 crianças de várias idades no grupo. Entre elas estão os que foram prisioneiros em uma escola situada em Damasco, bem como as que estavam no orfanato do Mosteiro de Santa Tekla, em Maalula, que abriga os filhos dos soldados mortos em combate. Há também crianças com lesões. A Representação da Igreja Ortodoxa Russa junto ao Patriarcado de Antioquia tem desempenhado um papel ativo na organização desta viagem.

- Qual é sua opinião sobre a situação no Iraque e Mosul no Iraque como um todo?

- O que aconteceu com os cristãos em Mosul e Nínive em julho é absolutamente monstruoso. Vou lembrá-lo de que no regime de Saddam Hussein, havia 1,5 milhões de cristãos que viviam no Iraque. Com a ajuda de força militar externa seu regime foi derrubado, supostamente em nome da democracia. Entre os resultados desta "democratização" foi a perseguição contra os cristãos. Logo eles seriam apenas uns 100.000,  tendo abandonado Nínive e o centro de Mosul. Nos últimos 10 anos, diante de ações terroristas e ameaças, mais da metade dos cristãos tornaram-se refugiados da região.

Em junho de 2014, dezenas de milhares de cristãos tiveram que deixar suas casas por medo de agressão e tiveram que fugir para o Curdistão iraquiano por causa da aproximação dos terroristas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL). No momento, há um relato de que cerca de 100 mil cristãos estão escondidos no Curdistão. A maioria dos cristãos que permaneceram em Mosul ou aqueles que foram detidos pelos militantes na tentativa de fugir da cidade, foram mortos. Em 18 de julho, os extremistas exigiram que todos os cristãos restantes abraçassem o Islã ou então teriam que deixar suas casas imediatamente, sem que pudesse levar coisa alguma com eles. Formalmente, também foi sugerido que cada família pagasse 450 dólares como um imposto, mas nenhuma provou ter esse dinheiro. Apareceram marcas especiais nas casas dos cristãos com uma inscrição "Esta propriedade pertence ao Estado Islâmico".

Deve notar-se que a reação da comunidade mundial foi mais ativa do que no caso dos cristãos sírios. A França ainda afirmou que estava pronta para aceitar os cristãos do Iraque. No entanto, o Ocidente, na prática, pouco tem feito para libertar os territórios conquistados pela ISIL. As posições de extremistas que declararam a criação de um califado islâmico no território do Iraque e Síria ainda são fortes. Um dos líderes dos extremistas iraquianos já revelou um plano para a criação de um califado islâmico Europeu na Andaluzia espanhola.

- O Senhor acha que as autoridades iraquianas, sírias e líderes religiosos, estão fazendo tudo o que depende deles para parar a expulsão e o massacre dos cristãos nesses dois países?

- Os líderes cristãos no Iraque estão fazendo tudo o que lhes é possível para chamar a atenção da comunidade mundial para as dificuldades de seus rebanhos. O Patriarca Caldeu da Babilônia, Raphael Louis Sako, fez uma série de declarações sobre o assunto. O Patriarca Efrém II da Igreja sírio-católica tem trabalhado ativamente com as autoridades do Curdistão iraquiano, onde a maioria dos refugiados encontraram asilo, coordenando os esforços práticos para fornecer os meios necessários para os refugiados. Os líderes religiosos propuseram a criação de uma comissão mista, incluindo representantes dos refugiados e do governo curdo para fornecer estas facilidades para os requerentes de asilo forçados.

Alguns líderes influentes do Islã tradicional no Iraque rejeitam a ideologia do ISIL. Sheikh Khalid al-Mullah, o líder sunita no Iraque e chefe da Associação das Escolas Muçulmana do Sul do País, condenou a expulsão de cristãos de Mosul. O destino do país depende em grande medida de quão consistente o povo do Islã tradicional estará em pé contra a ideologia do ISIL. O Partido Ba'ath no Iraque declarou guerra à ISIL. Muçulmanos comuns, durante uma ação em Bagdá, manifestaram o seu apoio para os cristãos, que viveram no Iraque há quase dois mil anos.

- O que os refugiados cristãos devem fazer? Onde podem encontrar um asilo?

- A maioria dos cristãos banidos de Mosul e Nínive estão relacionados com o Santo Sínodo, portanto, o Vaticano tem feito esforços ativos para ajudá-los. Eu já mencionei que a França concordou em aceitar alguns refugiados cristãos. Infelizmente, outros países da Europa continuam a abafar essa tragédia.

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, qualificou a "limpeza" dos cristãos na segunda maior cidade do Iraque como um crime contra a humanidade, mas nem o governo da Grã-Bretanha, nem a União Europeia se pronunciaram. Há refugiados da Síria e na Rússia também. Existem organizações públicas que pretendem ajudá-los. Mas, infelizmente, a necessidade de aceitar e acolher com previamente algumas centenas de milhares de refugiados provenientes da Ucrânia, tem limitado os recursos do nosso país nesta área.

Entrevistadora: Olga Lipich

Fonte: Sitio do Patriarcado de Moscou

sábado, 9 de agosto de 2014

Patriarcado de Moscou aprova 'contra-sanções' russas ao embargo EUA - UE


Mosca (RV) – As “contra-sanções” tomadas pela Rússia - que desde 7 de agosto bloqueou por um ano as importações de carne bovina, suína, aves, peixes, queijos e laticínios, frutas e verduras provenientes da Austrália, Canadá, União Européia, Estados Unidos e Noruega -, foram bem recebidas pelo Patriarcado de Moscou. “Temos necessidade de aprender a moderação, o auto-controle, a capacidade de se contentar com pouco”, declarou à Agência Interfax o Chefe do Departamento Sinodal para as Relações com a Sociedade do Patriarcado Ortodoxo Russo, Arcipreste Vsevolod Chaplin, convidando a deixar de “seguir os padrões de consumo ocidentais”.

“É necessário finalmente escolher: o Ocidente ou a Rússia, o futuro independente e livre do nosso povo ou uma condição em que se escuta mais as vozes de Washington, Bruxelas ou Wall Street, do que as vozes dos próprios co-nacionais?”, questionou.
A seu ver, o embargo imposto por Moscou como resposta às “discriminatórias sanções” econômicas tomadas pelos EUA e UE, pode contribuir para acelerar o projeto de um novo sistema sócio-político na Rússia, baseado nos valores tradicionais, e a tornar a economia nacional menos dependente da exportação de energia e de matérias-primas. 

A Rússia importa 40% dos produtos alimentícios que consome, o que representou um total de 43 bilhões de dólares em 2013. Para a União Européia, o mercado agro - alimentar russo representa 9,9% do total das suas exportações. Em 2013, as exportações neste setor atingiram um valor de 11,8 bilhões de euros.

Analistas russos observaram que as contra-sanções servirão como “terapia de choque”, para realizar o esperado desenvolvimento da indústria agro-alimentar doméstica. Com vastas áreas de terra agriculturável, a Rússia poderia tornar-se um exportador, mas a falta de políticas para promover os investimentos, após a queda da União Soviética, deixou o setor fragmentado, mal equipado e financeiramente frágil.

Segundo o jornal ‘Kommersant’, a lógica é incentivar a rápida substituição dos produtos importados por aqueles locais. Os setores mais atingidos pelo embargo EUA – EU foram justamente aqueles que têm a possibilidade de ver aumentar a produção doméstica ou de terem os produtos sancionados substituídos por novos fornecedores.

O organismo federal russo para a segurança alimentar, Rosselkhoznadzor, já teve encontros com os embaixadores do Equador, Chile, Brasil e Argentina, com quem discutiu o aumento dos fornecimentos. Em primeira linha também novos acordos com a Turquia. (JE)




segunda-feira, 28 de julho de 2014

Judeus ortodoxos contra o sionismo

O Sionismo não é uma unanimidade em Israel e muito menos o conflito com Palestinos é desejado por todos os judeus.

  


por wiltonog

Judeus ortodoxos vão às ruas de Nova York e realizam manifestação contra o Sionismo, acusando-o de corromper a religião de Israel e até mesmo como sendo um movimento capitaneado por ateus.

Os manifestantes também destacam que desejam viver pacificamente com os Palestinos e que a guerra praticada pelo Estado de Israel contraria a Lei de Deus.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Por que a Alemanha Reformou seu Futebol e Brasil Perde Espaço?

Em Gana, em 2002, durante a Copa da Coreia e do Japão: o segundo time de todos eles era o Brasil

Do Editor
Com cerca de 200.000.000 de técnicos, achar uma opinião que seja igual a nossa para a tragédia do nosso futebol não é coisa difícil. Mas, entre tantas análises semelhantes, encontramos uma publicação menos passional e criteriosa. Por isto, reproduzimos em nosso Observatório o texto de Luíz Carlos Azenha, publicado em Viomundo porque achamos uma análise pertinente e que contribui para salvarmos da vergonha uma das maiores glórias do Brasil: o seu futebol.
 
Uma outra análise interessante, à qual recomendamos a leituras, é a feita por Flávio Gomes, intitulada Flávio Gomes: 'O fã de Pinochet e o que distribui cones em campo conforme', também uma publicação em Viomundo. Mas, para o nosso Observatório, achamos o conteúdo de Luiz Azenha, mais pertinente. Segue o texto:

"Muito se falou, especialmente depois da goleada histórica da Alemanha sobre o Brasil, da reforma pela qual passou o futebol alemão desde 2000, quando o país passou por um fiasco na Eurocopa. Resumo de uma reportagem da Deutsche Welle:

Temendo um vexame nacional na Copa do Mundo realizada em casa seis anos depois, os alemães botaram a mão na massa e resolveram tratar do problema pela raiz, criando um programa nacional, inédito no mundo, de formação de jovens craques, que obrigou os 36 clubes profissionais alemães a fundarem escolinhas de futebol. Para montar os centros de formação, a Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla alemã) enviou especialistas para visitar escolas de futebol francesas, holandesas e espanholas. Hoje, o país exibe uma rede de cerca de 390 centros de treinamento, ligados aos clubes, supervisionados pela DFB e distribuídos em diversas cidades alemãs. Desde 2002, mais de meio milhão de euros foram investidos na formação de futuros jogadores. Um detalhe importante é que seleção dos talentos é feita explicitamente sem priorizar “qualidades alemãs”, como força e disciplina, mas observando sobretudo a habilidade das crianças e adolescentes no tratamento da bola.

Mas, os alemães estariam apenas interessados em resgatar o orgulho nacional? Com certeza, mas não apenas isso. Apontamos abaixo cinco outras razões:


1. A INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO
O entretenimento é uma indústria de ponta, do futuro. Quando cresce a renda, as pessoas tendem a gastar mais com a qualidade — ou o que presumem ser a qualidade — de suas horas livres. O futebol se encaixa nisso tanto quanto o cinema.

Os bilhões de dólares recolhidos por Hollywood para a economia americana crescentemente vem de fora dos Estados Unidos, como mostra o gráfico abaixo da revista britânica Economist:





















A linha azul escura mostra o crescimento das vendas de Hollywood fora dos Estados Unidos, em relação ao mercado doméstico. Não estamos falando em trocados, mas na casa dos R$ 80 bilhões de reais anualmente. O entretenimento é uma grande indústria, com a vantagem também de exportar os valores culturais de um país.


No estádio do Kashima Antlers, em Kashima, no Japão, em 2001, com Zico de diretor e Toninho Cerezzo de treinador: eles evoluíram e nós ficamos parados?


2. BOLAS, CAMISETAS E EMPREGOS
A Alemanha tem a maior indústria global de material esportivo, com Adidas e Puma empregando cerca de 60 mil pessoas e faturando perto de R$ 50 bilhões anualmente. É uma indústria com altíssima taxa de retorno, já que numa camiseta de futebol ela vende muito mais que tecido, mas identidade com atletas, clubes e nações. A Alemanha tem quatro entre os 20 clubes mais valiosos do mundo, segundo a revista Forbes. Na ponta da lista estão Real Madrid, Barcelona, Manchester United e Bayern de Munich. Estes clubes tem um grande potencial de faturamento no Exterior, como fonte de atração de compradores de suas camisetas, para não falar da valorização da marca para os patrocinadores globais.


3. DIREITOS DE TV
Os direitos de transmissão de TV são o coração do futebol. São a principal fonte de renda dos clubes, além de bombar o patrocínio da e a venda de camisetas e aumentar o faturamento com o público nos estádios. É esse dinheiro que permite aos clubes manter escolinhas de futebol, bons elencos e competir com adversários. Mas não basta a um clube ter uma boa escolinha de futebol se ele não pode manter os jogadores que desenvolve e é dominado pela praga dos empresários do futebol.

Um clube sem acesso à TV é um clube praticamente morto. A venda de direitos domésticos de TV rende aos clubes alemães cerca de R$ 2 bilhões anuais. Na Alemanha tanto as emissoras públicas ARD e ZDF quanto a Sky detém direitos, ou seja, não existe monopólio. Quem define prioridades são a federação e os clubes, exatamente o inverso do Brasil, onde quem tem a faca e o queijo é o conluio Globo-CBF. Quando o clube dos 13 tentou desafiar isso, como descrevemos detalhadamente em O Lado Sujo do Futebol, foi esmagado!

Os jogos da Bundesliga, a liga alemã, são transmitidos para 204 países no mundo. Com isso aumenta o faturamento dos clubes alemães com a venda de patrocínios, camisetas e propagandas em placas nos estádios.

Existe uma tremenda competição entre as principais ligas europeias pela venda de direitos de TV. As cincos maiores delas — Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha — recolhem o equivalente a R$ 15 bilhões anuais, segundo a Bloomberg.


A lista acima é a dos clubes que mais faturam com a venda de direitos de TV, em euros. Real Madrid e Barcelona lideram porque, dos cinco países acima citados, só na Espanha os direitos não são vendidos coletivamente. Juntos, eles faturam metade dos direitos de todo o futebol espanhol, às custas de um maior desequilíbrio do campeonato. O mesmo acontece hoje no Brasil, com domínio completo de Corinthians e Flamengo.

Porém, como disse Sean Hamil, professor do centro de negócios do esporte de uma universidade de Londres, à Bloomberg, uma forma mais equitativa de distribuição garante que qualquer clube possa ganhar de outro no campeonato. A fórmula de sucesso de qualquer competição é o equilíbrio, que traz emoção a cada rodada e evita as disparadas de líderes inalcançáveis. É por isso que todas as ligas dos Estados Unidos, de basquete, futebol americano e beisebol (NBA, NFL e MLB) trabalham pelo equilíbrio entre os clubes e o desenvolvimento de mercados locais onde o clube do coração tenha relação direta, cotidiana, com os moradores da cidade ou região.

Um campeonato equilibrado fortalece o conjunto dos clubes.

Hoje, a final da Champions League já é vista por cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Na África, vi pessoalmente em Freetown, Serra Leoa, em Beira, Moçambique e até na maior favela do mundo, em Kibera, Nairobi, no Quênia: pequenos empresários montando cinemas improvisados para ver os jogos de campeonatos europeus.

O futebol tem imenso potencial nos negócios do entretenimento do futuro, especialmente quando Índia e China forem incorporados plenamente a ele, e os alemães estão de olho em uma fatia cada vez maior deste bolo.

E há, além de tudo, grande potencial de segmentação. Aguardem: é questão de tempo até que os grandes jogos sejam transmitidos em cinemas de altíssima definição ou pela internet, como se faz hoje com as óperas do Metropolitan de Nova York e da Filarmônica de Berlim.


4. TURISMO ESPORTIVO
Infelizmente esta pauta escapou à mídia brasileira durante a Copa, talvez por desconhecimento. Existe uma legião dos assim chamados mochileiros do futebol. Não, não são os argentinos acampados no sambódromo de São Paulo. São fãs do bom futebol, não necessariamente desta ou daquela seleção. Vi pessoalmente sete jogos da Copa no Brasil. Poloneses, tunisianos, chineses, malaios, indianos… Na Índia, em 2002, fui à casa do craque Barreto, desconhecido no Brasil mas goleador do campeonato local. Era praticamente um centro de peregrinação de Kolkata, a antiga Calcutá. Fui a uma partida do time dele, o Mohun Bagan, em Goa, um espetáculo inesquecível (para delírio da torcida local, o time de Barreto tomou uma virada inacreditável, vencia por 2 a 0 e perdeu de 4 a 3).

E a Índia nunca disputou uma Copa do Mundo… ainda.

Eu não sei se ainda é, mas o Brasil até recentemente era campeão absoluto de torcedores na África, Ásia e Oriente Médio.

O chamado “turismo futebolístico” tem imenso potencial de crescimento e independe da Copa do Mundo. O viajante vem ao Rio de Janeiro e inclui ver uma partida no Maracanã no roteiro, assim como o brasileiro que vai a Nova York quer ver pelo menos um show da Broadway. Os alemães também estão correndo atrás disso.

 
Ronaldo (à direita, atrás do repórter) num blindado, chega ao estádio de Porto Príncipe para um jogo diplomático: foi 6 a 0 para o Brasil, em 2004


5. DIPLOMACIA INTERNACIONAL
É óbvio e não é de hoje o esforço da Alemanha para projetar uma nova imagem no mundo.

Neues Museum, em Berlim. Minha filha Ana Luisa me leva para ver uma exposição sobre a relação de altos e baixos entre Alemanha e Rússia. Os “baixos” significam uma guerra atroz em que morreram 20 milhões de soviéticos; em que, na sua contra-ofensiva, soldados soviéticos cometeram milhares de estupros. Ou seja, não é nada comparável à rivalidade entre Brasil e Argentina. Mas, de fato, a relação entre alemães e russos é muito mais ampla que uma guerra devastadora.

Dou uma olhada no catálogo da exposição. A mostra é promovida por entidades ligadas diretamente ao governo alemão, parte de um esforço diplomático de reaproximação com os russos.

Hoje a Alemanha se propõe a ser a ponte entre o ocidente europeu e a Eurásia, através de Moscou. Existem sólidos negócios entre os dois países.

Mas, no campo das relações humanas, as memórias associadas a Hitler são impeditivas desta relação.

No livro German Genius, o jornalista Peter Watson descreve em algum detalhe o esforço dos alemães para mudar sua imagem no Reino Unido com o objetivo de atrair turistas, estudantes, investimentos e gente interessada em aprender alemão. Registre-se que, em todo o planeta, os alemães das novas gerações são campeões no conhecimento do inglês: 97% tem conhecimento básico e 25% são fluentes.

O futebol dispensa o idioma. É linguagem praticamente universal. É um poderosíssima arma diplomática. Atravessando de automóvel a Jordânia, a caminho do Iraque, minha equipe de televisão correu risco até se identificar: “Ah, brasileiros, o Ronaldinho!”.

O diretor de marketing da seleção alemã, que acompanha a delegação ao Brasil, em entrevista à ESPN Brasil, admitiu o que sempre me pareceu óbvio: as atividades de jogadores alemães no Brasil foram programadas para apresentá-los aos brasileiros como pessoas comuns, interessadas em nossa cultura. Ele falou isso com todas as letras.

Eu acrescentaria: talvez para desfazer a imagem de alemães frios, calculistas, cruéis e autômatos, que foi espalhada pelo mundo nos filmes de Hollywood durante e depois da Segunda Guerra Mundial.

*****

Nas minhas viagens mais recentes à África, notei um fenômeno curioso: agora, as camisetas amarelas da seleção brasileira dividem espaço com as do Barcelona e do Manchester United. Estamos perdendo espaço. O campeonato brasileiro, por outro lado, tem mínima expressão internacional: é dominado por jogos sofríveis.

Como demonstrado acima, o futebol não é apenas um patrimônio cultural do Brasil. Ainda que mal explorado, é também um importante patrimônio econômico e diplomático, como ficou explícito quando o Brasil levou a seleção para jogar no Haiti. Eu estava lá e vi em Porto Príncipe uma das cenas mais impressionantes de minha carreira jornalística: Ronaldo pendurado em um blindado, acompanhado nas ruas por imensa multidão de torcedores do Brasil.

No Mineirão, cercado de turistas estrangeiros cujas seleções nem se classificaram para a Copa, vi gente incrédula que veio ver o Brasil jogar se perguntando: o que está acontecendo? Há alguma briga entre os jogadores? Algum motivo obscuro para tamanho vexame?

Talvez a Alemanha perca a final da Copa para a Argentina por 7 a 0. Ou o Brasil goleie a Holanda por 8 a 0. Talvez os 7 a 1 tenham sido apenas um desastre fortuito, coisa do Sobrenatural de Almeida.

Mas minha impressão de leigo é de que, enquanto a Alemanha trabalhou para reconstruir seu futebol, o Brasil está a caminho de destruir um patrimônio importante de nossa jovem civilização. Tudo indica que teremos mais do mesmo. Muda-se o treinador, mas permanecerá uma estrutura que favorece cartolas pilantras, uma entidade “sem fins lucrativos” milionária — que comanda clubes majoritariamente falidos — e um grupo midiático que age como dono do futebol brasileiro.


PS do Viomundo: Obviamente que a tendência de uma mídia quase tão fraca quanto nosso futebol é de focar no acessório e esquecer do essencial, por motivos políticos, econômicos ou por pura incompetência."