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domingo, 14 de junho de 2009

Sobre a Infabilidade Papal

Recebi em minha caixa-postal a seguinte pergunta (não publico o nome do remetente porque não pedi autorização ao mesmo):

 
 

"Gostaria de saber se algum papa caiu em heresia. pq eu li em sites católicos que muitos papas tiveram erros enormes mas que em nenhum momento algum deles caiu em heresia FORMALMENTE, portanto implicitamente a infalibilidade estaria com eles e que nenhum papa ensinou algum erro ex-catedra. esse conceito de ex-catedra é um conceito pos-cisma ou não ? Desde já agradeço pelas respostas".

O conceito "ex-catedra" não somente é pós-cisma, como também, muito recente (foi criado no ano de 1870) e não goza de plena aceitação nas igrejas do ocidente (tanto é que se formou a Igreja Vétero-Católica, depois a Católica Brasileira e outras semelhantes em várias partes do mundo ocidental); e mesmo muitos bispos e clérigos que mantém comunhão com Roma não concordam com este conceito.

 
 

É falacioso argumentar que nenhum papa caiu em heresia, embora tenham cometido vários erros, pois a quase totalidade das sés apostólicas, entra as quais Antioquia, também não tiveram jamais ocupantes acusados de heresia. Contudo, a história registra a condenação póstuma do Papa Honório (623-638 dC) feita pelo Papa Leão II (seu sucessor) que o anatematizou por  seu apoio à heresia monotelita (condenada pelo VI Concílio Ecumênico). O Papa Honório teve seu corpo exumado e arrancado o anel papal com o qual fora enterrado e depois sepultado em cemitério destinado aos hereges.

 
 

Esta proclamação do Vaticano I, que reconhece uma infabilidade ex-cátedra e um primado universal jurisdicional, foi uma arma desenvolvida por alguns teólogos latinos para combater duas forças que vinham devastando o poder temporal e espiritual de Roma: o protestantismo e a modernidade. A Revolução Francesa e a expansão do Protestantismo ameaçavam de forma assustadora o trono papal. O fato é que com menos de 100 anos após o Vaticano I, percebendo-se que a arma se mostrou ineficaz, se é convocado o Concílio Vaticano II que segue um novo caminho, numa tentativa de fazer as pazes com a modernidade ("agiornamento") e de evitar a fuga dos romano-católicos para o protestantismo, adotando várias práticas protestantes: o padre celebrando de costas para o altar e de frente para o povo; o latim é abolido e a missa passa a ser celebrada na língua vernácula de cada povo, os leigos passam a ter mais participação, incentiva-se a leitura da Bíblia; posteriormente a hierarquia vem a tolerar e "legitimar" o movimento pentecostal (renovação carismática) no seio das paróquias, surgem padres cantores, curandeiros, as missas espetáculos, os padres se desfazem do uso da batina fora da liturgia, se apresentam como modernos, com caras de galã e trejeito romântico e etc.

 
 

Este conceito "ex-catedra" é tão esdrúxulo que dentro da próprio igreja latina os que o defendem são equivocada e pejorativamente classificados de "tradicionalistas", são vistos como exóticos e peça de museu. Tanto é que após o Vaticano II nenhum papa ousou falar ex-cátedra.

 
 

Hoje o Papa Bento XVI realiza uma verdadeira cruzada para salvar a Igreja de Roma e recolocá-la no caminho da genuína tradição cristã e, para alcançar tal meta, busca aproximar-se da Igreja Ortodoxa com atos concretos e grande emprenho pessoal. Como prova deseja que o conceito do primado papal seja repensado pelos teólogos latinos, tendo como base o modelo do primeiro milênio quando Oriente e Ocidente formavam uma mesma comunhão. Com este gesto, parece que o Papa Bento XVI não é lá muito adepto dos conceitos inventados de infabilidade e de um primado jurisdicional universal.

 
 

Fraternalmente,

 
 

+ Mateus

Um comentário:

Unknown disse...

Padre Mateus,
sua bênção e Paz!

A "infabilidade papal" é contestada pelas próprias Escrituras quando nelas é narrada a repreensão de Paulo à Pedro por seu comportamento errôneo entre judeus e gentios...isto é: Pedro estava errado, não era infalível.
Pediria ao dileto irmão que me enviasse por e-mail (livro, capítulo e versículo) desta narração, bem como aquela que Jesus diz (mais ou menos isto): "Quando Eu voltar encontrarei fé na terra?".
Fraternalmente naquele que nos une IC XC.
Paulo.
todo_teu_jesus@yahoo.com.br