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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A CONTINÊNCIA DO ESTÔMAGO - PREPARAÇÃO PARA O NATAL

Iniciamos na última segunda-feira, dia 15 de novembro (28 de novembro no Calendário Civil), o jejum preparatório para a  celebração da Grande Festa do Natal. esta preparação também é chamada de "Quaresma de Natal", por se tratar de um jejum com duração de 40 dias, tal como a Quaresma da Páscoa, embora o jejum natalino seja menos rigoroso que o da Páscoa.

Para ajudar na compreensão do que vem a ser o jejum na Igreja Ortodoxa, estamos publicando o ensinamento de nosso Pai João Cassiano (360-435 dC), que serviu a Deus como monge na França.

Esse texto foi traduzido da Filokalia, e se refere à terapêutica que nosso Abba João compartilha com seus discípulos visando combater a paixão da gula.

"Primeiramente irei falar da continência do ventre, a qual se contrapõe à gula. Falaremos como fazer os jejuns e qual deve ser a qualidade e a quantidade dos alimentos. Não falarei baseado em minha própria experiência, senão da que temos recebido de nossos santos Padres, os quais não tinham uma única regra para o jejum e nem mesmo uma única maneira de comer os alimentos, tampouco nos ensinaram uma medida, uma vez que nem todos que jejuam tenham a mesma capacidade, seja por causa da idade, por doença, ou por uma constituição física frágil. Há, no entanto, um único objetivo: fugir da saciedade e evitar ficar de estômago cheio. 

Certo jejum diário tem sido considerado mais vantajoso e mais adequado para conduzir-nos à pureza do que um jejum que se arraste por três, quatro dias e até mesmo uma semana. Diz-se que o jejum que se prolonga sem medida é seguido por um período de excesso na alimentação. Assim, é possível que a abstinência exagerada de alimentos provoque perda de vigor físico, tornando-o preguiçoso em seu exercício espiritual, tanto quando o corpo, sentindo-se pesado pelo excesso de alimentos, torna a alma preguiçosa e relaxada. 
Os Padres consideravam que não é adequado para todos uma alimentação à base de verduras e legumes, nem se alimentar diariamente de pão duro. Observaram que um pode comer dois pães e continuar com fome, ao passo que outro comendo apenas um, ou metade de um pão, se sinta saciado. Tal como dissemos, a única regra que nos transmitiram é esta: que não nos deixemos enganar pela saciedade do estômago e nem ser atraídos pelo prazer da gula. Com efeito, não somente a variedade dos alimentos, mas também as distintas quantidades dos mesmos, são capazes de nos inflamar com a flecha flamejante da fornicação. E ainda mais, não é somente o excesso de vinho que é capaz de embriagar nossa mente, mas  o excesso de água ou de qualquer outra comida podem tornar a mente aturdida e sonolenta. A causa da destruição dos sodomitas, não foi a embriaguez produzida pelo vinho ou pelos variados alimentos, mas por causa da saciedade de pão, tal como nos diz o profeta.[1] 
A debilidade do corpo não nos impedirá de alcançar a pureza do coração se dermos ao corpo o que lhe é necessário, e não o que demandam os prazeres. Devemos utilizar os alimentos tanto quanto o necessário para nos mantermos com vida e não para que nos induzam a servir os impulsos do apetite. Uma ingestão moderada de alimentos, conforme entendemos ser necessária para manter o corpo saudável não fere em nada a santidade. A regra da continência e a norma exata que nos transmitiram os Padres, é esta: Qualquer que seja o alimento que se esteja ingerindo deverá cessar quando ainda temos apetite, evitando a saciedade. Quando o Apóstolo nos diz para não nos ocuparmos com os desejos da carne (Romanos 13:14), não estava proibindo o necessário para nos manter com vida, mas intentava proibir um comportamento que nos induza à volúpia. 
Além do mais, para se alcançar uma pureza perfeita de alma, não é suficiente a abstenção de alimentos; outras virtudes são necessárias. Muito beneficia a realização de trabalhos humildes e a fatiga do corpo, assim como também grande proveito em fugir do amor ao dinheiro (o que significa, não somente não ter dinheiro, como também evitar deseja-lo ansiosamente): estas coisas realmente levam a alma à pureza. O abster-se da ira, da tristeza, da vanglória, da soberba, tudo isto, produzem, em geral, a pureza da alma. No entanto, particularmente, a pureza da alma, fruto da moderação, se obtém com a continência e com o jejum, pois, é impossível, em nossa carne, combater a fornicação, estando com o estômago cheio. Portanto, nossa primeira luta será por alcançar a continência do estômago e a subjugação do nosso corpo, não somente por meio do nosso jejum, como também velando com esforço, com a leitura e com o recolhimento do nosso coração, temendo a gehena e desejos por alcançar o Reino dos Céus".





[1] Ezequiel 16:49

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