A Fé Antiga e Perene Falando ao Mundo Atual: Temas Teológicos, Notícias, Reportagens, Comentários e Entrevistas à luz da Fé Ortodoxa.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

«A Jerusalém do alto é livre, e ela é nossa mãe» (Gal 4, 26)

 

 

São Jeronimo - Mês da BíbliaDo que nos devemos felicitar não é de termos estado em Jerusalém, mas de termos vivido bem. A cidade que é preciso procurar não é aquela que matou os profetas e verteu o sangue de Cristo, mas aquela que um rio impetuoso enche de júbilo, aquela que, construída sobre uma montanha, não pode ser escondida, aquela que o apóstolo Paulo proclama ser mãe dos santos e na qual os justos se regozijam de habitar (Sl 45, 5; Mt 5, 14; Gal 4, 26) [...]. Não ousarei limitar o poder de Deus a uma região ou confinar num pequeno canto da terra Aquele que o céu não pode conter. Cada crente é apreciado pelo mérito da sua fé e não pelo lugar em que habita; e os verdadeiros adoradores não têm necessidade de Jerusalém ou do monte Garizim para adorar o Pai, porque «Deus é espírito» e os Seus adoradores devem «adorá-Lo em espírito e verdade» (Jo 4, 21-23). Ora «o Espírito sopra onde quer» (Jo 3, 8) e «a terra é do Senhor, assim como tudo o que ela contém» (Sl 23, 1). [...]
Os lugares santos da cruz e da ressurreição só são úteis aos que levam a sua cruz, ressuscitam com Cristo cada dia e se mostram dignos de habitar em tais lugares. Quanto aos que dizem: «Templo do Senhor, Templo do Senhor, Templo do Senhor» (Jer 7, 4), ouçam esta palavra do apóstolo: «Vós é que sois o templo de Deus, se o Espírito Santo habita em vós» (1Cor 3, 16). [...]
Não creio que falte alguma coisa à tua fé por não teres visto Jerusalém e não me julgo melhor por habitar neste lugar. Mas, aqui ou noutro sítio, receberás igual recompensa segundo as tuas obras perante Deus.

 

São Jerónimo (347-420), presbítero, tradutor da Bíblia

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

«Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho»

 

[No Monte Sinai, Moisés disse ao Senhor: «Mostra-me a Tua glória». Deus respondeu-lhe: «Farei passar diante de ti toda a Minha bondade (...), mas tu não poderás ver a Minha face» (Ex 33, 18ss.).] Experimentar este desejo parece-me porvir de uma alma animada pelo amor à beleza essencial, uma alma a quem a esperança não pára de conduzir da beleza que já viu para aquela que está para além. [...] Este pedido audacioso, que ultrapassa os limites do desejo, almeja pela beleza que está para além do espelho, do reflexo, para a ver face a face. A voz divina satisfaz o pedido, recusando-o simultaneamente [...]: a magnanimidade de Deus concede-lhe a satisfação do desejo, mas, ao mesmo tempo, não lhe promete repouso nem saciedade. [...] É nisto que consiste a verdadeira visão de Deus: aquele que para Ele eleva os olhos nunca mais cessa de O desejar. É por isso que Ele diz: «não poderás ver a Minha face». [...]
O Senhor que tinha respondido a Moisés exprime-se da mesma forma aos Seus discípulos, clarificando o sentido desta simbologia. Ele diz «Se alguém quiser vir após Mim», (Lc 9, 23) e não: «Se alguém quiser ir à Minha frente». Ao que Lhe faz um pedido a respeito da vida eterna, propõe o mesmo: «Vem e segue-Me» (Lc 18, 22). Ora, aquele que segue caminha virado para as costas daquele que o guia. Portanto, o ensinamento que Moisés recebe sobre a maneira pela qual é possível ver a Deus é este: ver a Deus é segui-Lo para onde Ele conduzir. [...]
Com efeito, aquele que não conhece o caminho não pode viajar em segurança se não seguir o guia. Este precede-o, mostrando-lhe o caminho; por isso, quem o segue não se desviará do caminho se se mantiver virado para as costas daquele que o conduz. Com efeito, se se deixar ir ao lado ou de frente para o guia tomará uma via diferente da indicada. Por isso, Deus diz àquele a quem conduz: «Não poderás ver a Minha face», o que significa: «não olhes de frente o teu guia», porque, se assim fizesses, correrias num sentido que Lhe é contrário. [...] Como vês, é importante aprender a seguir a Deus: para aquele que assim O segue nenhuma contradição do mal se poderá opor ao seu caminhar.

São Gregório de Niza (c. 335-395), monge e bispo

sábado, 24 de outubro de 2009

«Escolhe a vida» (Dt 30, 19)

 

Há dois caminhos: um de vida e outro de morte, mas há uma grande diferença entre os dois. Ora o caminho da vida é o seguinte: primeiro que tudo, amarás a Deus que te criou; em segundo lugar, amarás o teu próximo como a ti mesmo e aquilo que não queres que ele te faça não o faças tu a outrem. Eis o ensinamento contido nestas palavras: Bendizei aqueles que vos maldizem, rezai pelos vossos inimigos, jejuai pelos que vos perseguem. Com efeito, que mérito tendes em amar os que vos amam? Não o fazem também os pagãos? Quanto a vós, amai os que vos odeiam e não tereis inimigos. Abstende-vos dos desejos carnais e corporais. [...]
Segundo mandamento da doutrina: não matarás, não cometerás adultério, não seduzirás rapazes, não cometerás fornicação, nem roubo, nem magia, nem envenenamento; não matarás nenhuma criança, por aborto ou depois do nascimento; não desejarás os bens do teu próximo. Não cometerás perjúrio, não levantarás falsos testemunhos, não terás intenções de maledicência e não guardarás rancor. Não terás duas maneiras de pensar nem duas palavras: porque a duplicidade de linguagem é uma armadilha de morte. A tua palavra não será mentirosa nem vã, mas plena de sentido. Não serás avarento, nem ganancioso, nem hipócrita, nem maldoso, nem orgulhoso; não terás má vontade com o teu próximo. Não deves odiar ninguém: deves corrigir uns e rezar por eles e amar os outros mais do que a própria vida.
Meu filho, foge de tudo o que é mal e de tudo o que te parece mal. [...] Vigia para que ninguém te desvie da doutrina, porque esse estará a guiar-te para longe de Deus. Se puderes suportar todo o jugo do Senhor, serás perfeito; se não, faz ao menos o que te for possível.
(Referências bíblicas: Mt 22, 37ss.; 7, 12; Tb 4, 15; Mt 5, 44ss.; 1Pe 2, 11; Ex 20; Mt 24, 4)

Didaqué (entre 60-120)

Fonte: Evangelho Quotidiano

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Igreja da Suécia (Luterana) aprova casamento religioso entre homossexuais

 

 

Medida entra em vigor a 1 de Novembro

A Igreja da Suécia aprovou hoje o casamento religioso dos homossexuais, que já era autorizado pela lei sueca desde 01 de Maio.
A medida, que será aplicada a partir de 01 de Novembro, foi adoptada por uma maioria de cerca de 70 por cento dos 250 membros do sínodo sueco, indicou a instituição religiosa protestante em comunicado.
No sínodo foi também aprovada uma liturgia para os casamentos homossexuais, de acordo com o mesmo comunicado.
Aquando da adopção da lei pelo parlamento sueco em Abril último, a Igreja luterana, separada do Estado em 2000, apoiou a reforma mas adiou a aprovação formal para o sínodo.
A Suécia, já pioneira em matéria de direito à adopção pelos casais homossexuais, torna-se assim um dos primeiros países do mundo a autorizar a celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, no seio da sua principal congregação religiosa.
Cerca de 73 por cento dos suecos pertenciam à Igreja da Suécia em 2008.
A principal associação sueca de defesa dos homossexuais, RFSL, saudou a decisão.
A "RSFL felicita a Igreja da Suécia pela decisão, os vossos membros homossexuais e bissexuais vão enfim poder sentir-se um pouco mais bem-vindos na sociedade", indica um comunicado.
Mas a associação critica o direito dos pastores de recusarem a título individual celebrar um casamento homossexual. Nesse caso, a Igreja deverá poder encontrar um outro padre para a cerimónia.
Responsáveis das Igrejas católica e ortodoxa, grandemente minoritárias na Suécia, manifestaram-se entristecidos pela decisão da Igreja protestante.
"É com tristeza que tomamos conhecimento da decisão do sínodo da Igreja da Suécia", escreveram Frederik Emanuelson, responsável ecuménico da Igreja católica sueca e Misha Jaksic, um responsável da Igreja ortodoxa, num comunicado comum.
"Nas nossas Igrejas e comunidades não uniremos casais homossexuais, dado ser uma contradição completa relativamente à tradição da Igreja e de toda a nossa visão da criação", acrescentaram.
Na Suécia, os casais heterossexuais podem escolher entre o casamento civil e o religioso, enquanto que os casais homossexuais só estavam autorizados, desde 1995 e até agora, a unirem-se através de uma parceria tornada legal por uma cerimónia civil.
O casamento religioso tem neste país nórdico valor civil.

Fonte: Diário de Notícias

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

«Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos ou terras por causa do Meu nome, receberá cem vezes mais» (Mt 19, 29)

 

ambrosio_milao «Julgais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois, e dois contra três». Em quase todas as passagens do Evangelho o sentido espiritual joga um papel importante; mas nesta passagem sobretudo, para não ser rejeitada pela dureza de uma interpretação simplista, é preciso procurar na trama do sentido a profundidade espiritual. [...] Como é que Ele próprio disse: «Dou-vos a Minha paz, deixo-vos a Minha paz» (Jo 14, 27), se veio separar os pais dos filhos, os filhos dos pais, rompendo os laços que os unem? Como pode ser chamado «maldito o que trata com desprezo seu pai ou sua mãe» (Dt 27, 16), e fervoroso o que o abandona?  
Se compreendermos que a religião vem em primeiro lugar e a piedade filial em segundo, compreenderemos que esta questão se esclarece; com efeito, é preciso fazer passar o humano depois do divino. Porque, se temos deveres para com os pais, quanto mais para com o Pai dos pais, a quem devemos estar reconhecidos pelos nossos pais? [...] Ele não diz, portanto, que é preciso renunciar aos que amamos, mas que há que preferir Deus a todos. Aliás, encontramos noutro livro: «Quem amar pai ou mãe mais do que a Mim não é digno de Mim» (Mt 10, 37). Não te é interdito amares os teus pais, mas preferi-los a Deus. Porque as relações naturais são benefícios do Senhor, e ninguém deve amar os benefícios recebidos mais do que a Deus, que preserva os benefícios que dá.

Santo Ambrósio (c. 340-397)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

«Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?»

 

 

«Que hei-de fazer?» Há uma resposta imediata: «Satisfarei as almas dos esfomeados; abrirei os meus celeiros e convidarei todos os que passam necessidades. [...] Farei ouvir uma palavra generosa: vós, a quem falta o pão, vinde a mim; tomai a vossa parte, de acordo com as vossas necessidades, dos dons concedidos por Deus que jorram como que de uma fonte pública.» Mas tu, homem rico, insensato, estás bem longe disso! Por que razão? Ciumento de veres os outros gozarem de riquezas, entregas-te a cálculos miseráveis, não te preocupas em distribuir a cada um o indispensável, mas em tudo amealhar, privando os outros dos benefícios de que poderiam usufruir. [...]
E vós, meus irmãos, estai atentos para não conhecerdes o mesmo destino que este homem! Se a Escritura nos oferece este exemplo, é para que evitemos comportar-nos do mesmo modo. Imitai a terra: como ela, dai frutos, e não vos mostreis piores que ela, que no entanto é desprovida de alma. A terra dá as suas colheitas não para o seu próprio gozo, mas para te servir. Assim, todo o fruto da benevolência que revelares, recebê-lo-ás de volta, dado que as graças que fazem nascer as boas obras voltam aos que as dispensam. Alimentaste o que tinha fome, e o que deste mantém-se contigo, e vem mesmo um suplemento. Como o grão de trigo caído na terra aproveita ao que o semeou, o pão dado ao que tem fome far-te-á receber mais tarde benefícios superabundantes. Que a finalidade da tua lavoura seja para ti o início da sementeira no céu.

 

São Basílio (c. 330-379)

Fonte: Evangelho Quotidiano

sábado, 17 de outubro de 2009

Primeiro festival de mídia Ortodoxa da Ucrânia

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De 9 a 12 de Outubro, em Kiev, realizou-se o primeiro festival de mídia ortodoxas, por iniciativa de dirigentes dos meios de comunicação da Igreja Ortodoxa Ucraniana (Patriarcado de Moscou). Os participantes receberam a bênção do Metropolita Vladimir. Reuniões, apresentações e uma mesa redonda sobre o tema: “A palavra da Igreja no mundo contemporâneo: os princípios cristãos de jornalismo” ocorreram durante esses dias. Os prêmios em diversas categorias, foram apresentados à imprensa. Este site é dedicado a este evento.

Sagração do primeiro Bispo do Burundi e de Ruanda

 

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Em outubro passado 11, o mosteiro de São Savvas em Alexandria, Savvas Bishop (Cheimonetou) foi consagrado o primeiro bispo do Burundi e Ruanda. A Igreja de Alexandria foi levado à criação desta nova diocese de apoiar a população local é uma das mais pobres do continente Africano. Nesta ocasião, o Patriarca de Alexandria, saudou o novo bispo e agradeceu o trabalho já realizado como o comissário do Patriarcado de Alexandria, chefe do departamento econômico do Patriarcado e, recentemente, diretora da Escola Igreja patriarcal Atanásio, o Grande .
Fonte e foto: Romfea.gr

«Aquele que Me tiver negado diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus»

São Policarpo

O bispo Policarpo foi o mais admirável dos mártires. Primeiro, quando soube de tudo o que se passara, não se perturbou, pelo contrário, quis permanecer na cidade. Perante a insistência da maioria, acabou por se afastar. Retirou-se para uma pequena propriedade situada perto do centro e aí permaneceu com alguns companheiros. Noite e dia nada mais fazia que rezar por todos os homens e pelas Igrejas do mundo inteiro, como era seu costume. [...]
Os guardas, a pé e a cavalo, puseram-se a caminho, armados como se fossem no encalço de um bandido. Noite dentro, chegaram à casa onde se encontrava Policarpo. Este estava deitado num quarto do andar de cima; daí ainda poderia ter ido para outra propriedade. Não quis fazê-lo. Limitou-se a dizer: «Seja feita a vontade de Deus». Ouvindo as vozes dos guardas, desceu e pôs-se a conversar com eles. A idade avançada e a sua calma encheram-nos de admiração: não percebiam por que se tinham dado a tantos trabalhos para prender um ancião assim. Apesar da hora tardia, Policarpo foi solícito em servir-lhes de comer e de beber, tanto quanto desejaram. Pediu-lhes apenas que lhe concedessem uma hora para orar livremente. Eles consentiram. Era um homem cheio da graça de Deus e pôs-se a rezar de pé. Sem conseguir parar, assim continuou a rezar em voz alta durante duas horas. Os que o ouviam estavam estupefactos e muitos arrependiam-se de terem marchado contra um ancião tão santo.
Quando terminou a oração, na qual fizera memória de todos aqueles que tinha conhecido do decurso da sua longa vida – grandes e pequenos, pessoas ilustres ou obscuras – e de toda a Igreja difundida pelo mundo inteiro, chegou a hora da partida. Fizeram-no montar um asno e conduziram-no para o centro de Esmirna. Era o grande dia de sábado.

Carta à Igreja de Esmirna sobre os seus mártires (c. 155)
Fonte: Evangelho Quotidiano

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

«Um sangue de aspersão que fala melhor que o de Abel» (Heb 12, 24)

 

Tanto Caim como Abel pareciam honrar a Deus de mesma forma através de cultos idênticos, mas na realidade apresentavam as suas oferendas com disposições bem diferentes. As do mais velho pareciam ser apenas um dom e as do mais novo, pelo contrário, davam testemunho da sua reverência e piedade. Daí saíram os sentimentos de inveja [...], que resultaram no assassínio de Abel (Gn 4, 3ss.) [...]
Vejo no santo Abel a imagem de Cristo. Claro que o Salvador é o Justo por excelência [...] mas, entre todos os homens da antiga aliança, o príncipe da justiça é Abel. [...] Aliás, o próprio Salvador posicionou Abel na frente da linha dos justos quando disse aos Judeus: «Eu vo-lo digo, serão pedidas contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o santuário.» [...]
Coisa admirável: porque foi o primeiro a combater pela justiça, Abel teve a honra de ser o primeiro a sofrer pela piedade. É verdadeiramente a prefiguração de Cristo, que foi condenado à morte por causa da verdade. O sangue de Abel anuncia o sangue de Cristo: clama da terra (Gn 4, 10). O sangue do Senhor também clama, mas o sangue de Abel era suplicante, enquanto o de Cristo faz a reconciliação com o mundo. [...] É por isso que o apóstolo Paulo, lembrando um e de outro, confessa a superioridade do sangue de Cristo e escreve: «Vós porém aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste, de míriades de anjos, da reunião festiva, da assembleia dos primogénitos inscritos nos céus, do juiz que é o Deus de todos, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição, de Jesus, o Mediador da Nova Aliança e de um sangue de aspersão que fala melhor que o de Abel» (Heb 12, 22-24). [...] Sim, este sangue fala, suplica pelos pecadores, intercede pelo mundo. O sangue de Cristo purifica realmente o mundo; o sangue de Cristo é a redenção dos homens.

Severino de Gabala (?-c. 408), bispo na Síria
Homilia sobre Caim e Abel (a partir da trad. de Ir. Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 1, p. 35 rev.)

Fonte: Evangelho Quotidiano

terça-feira, 13 de outubro de 2009

«Dai esmola do que possuís, e para vós tudo ficará limpo»

 

É preciso que não se satisfaçam com dar dinheiro; o dinheiro não é o suficiente, porque pode encontrar-se. É das nossas mãos que os pobres precisam para serem servidos, é dos nossos corações que eles precisam para serem amados. A religião de Cristo é o amor, o contágio do amor.
Os que podem oferecer-se uma vida fácil têm sem dúvida as suas razões. Podem tê-la obtido pelo seu trabalho; só me encolerizo em face do desperdício, em face dos que deitam para o lixo o que poderia ser-nos útil. A dificuldade é que muitas vezes os ricos, ou mesmo as pessoas abastadas, não sabem verdadeiramente o que são os pobres; é por isso que podemos perdoar-lhes, porque o conhecimento só pode conduzir ao amor, e o amor ao serviço. É porque eles não os conhecem que não são sensibilizados por eles.
Tento dar aos pobres, por amor, o que os ricos podem obter com o dinheiro. É verdade, não tocaria num leproso por um milhão; mas trato dele voluntariamente por amor a Deus.

Beata Teresa de Calcutá (1910-1997)

Fonte: Evangelho Quotidiano

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

«Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis»

 

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Sei-o bem, ó Deus, Pai todo-poderoso: o principal dever da minha vida é oferecer-me a Ti para que tudo em mim [...] fale de Ti. Concedeste-me o dom da palavra e, para mim, nada pode ser mais compensatório do que a honra de Te servir e de mostrar ao mundo que o desconhece, ao herético que o nega, que Tu és o Pai do Filho único de Deus. Sim, esse é na verdade o meu único desejo! Mas tenho uma grande necessidade de implorar o auxílio da Tua misericórdia de forma que, com o sopro do Teu Espírito, enchas as velas da minha fé, estendidas para Ti, e me conduzas a pregar o Teu santo nome por toda a parte. Pois não foi em vão que fizeste esta promessa: «Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á».
Sendo pobres, pedimos o que nos falta. Aplicar-nos-emos com zelo ao estudo dos Teus profetas e dos Teus apóstolos; bateremos a todas as portas que a nossa inteligência encontrar fechadas. Mas só Tu podes atender a nossa prece [...]; só Tu podes abrir a porta à qual batermos. Encorajar-nos-ás nas dificuldades iniciais; consolidarás os nossos progressos; e chamar-nos-ás a participar do Espírito que guiou os Teus profetas e os Teus apóstolos. Assim, não daremos às suas palavras sentidos diferentes daqueles que eles tinham em mente.
Dá-nos então o verdadeiro significado das palavras, a luz da inteligência, a beleza de expressão, a fé na verdade. Concede-nos professar aquilo em que acreditamos [...]: que há um só Deus, o Pai, e um só Senhor, Jesus Cristo.

Santo Hilário (c. 315-367), Bispo de Poitiers

Fonte: Evangelho Quotiniano

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Duas mulheres, duas imagens da nossa vida

 

Creio que compreendeis, que estas duas mulheres, ambas dilectas do Senhor, dignas do seu amor, e Suas discípulas [...], que estas duas mulheres são, por conseguinte, a imagem de duas formas de vida: a vida deste mundo e a vida do mundo futuro, a vida de trabalho e a vida de repouso, a vida nas preocupações e a vida na bem-aventurança, a vida no tempo e a vida eterna.
Duas vidas: meditemos mais longamente sobre elas. Consideremos de que é feita esta vida: não me refiro a uma vida censurável [...], a uma vida de vícios, de impiedades; não, falo de uma vida de trabalho, carregada de provações, de angústias, de tentações, de uma vida que não tem nada de culpável, de uma vida que era efectivamente a de Marta. [...] O mal estava ausente desta casa, tanto em Marta como em Maria; se estivesse presente, a chegada do Senhor tê-lo-ia dissipado. Duas mulheres aí viveram e as duas receberam o Senhor, duas vidas admiráveis, rectas, uma feita de trabalho, a outra de repouso. [...] Uma de trabalho, mas livre de perturbações, que são obstáculo à vida entregue à acção; a outra isenta de ociosidade, que é obstáculo à vida contemplativa. Havia nesta casa as duas vidas, mas a fonte era a mesma. [...]
A vida de Marta é o nosso mundo; a vida de Maria é o mundo que esperamos. Vivamos este mundo com rectidão, para obtermos o outro em plenitude. Que possuímos já dessa vida? [...] Precisamente, neste momento, vivemos de certa maneira essa vida: afastando o trabalho, pondo de parte as preocupações familiares, reuni-vos e escutais. Comportando-vos assim, assemelhais-vos a Maria. Isso torna-se-vos mais fácil do que a mim, que tenho de tomar a palavra. No entanto, o que digo é a Cristo que vou buscá-lo, e este alimento é de Cristo. Porque é o pão comum a todos, e é para isso que vivo em comunhão convosco.

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África)

Fonte: Evangelho Quotiniano

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cristo, Bom Samaritano

 

 

De acordo com um ancião que quis interpretar a parábola do Bom Samaritano, o homem que descia de Jerusalém em direcção a Jericó representa Adão, Jerusalém o paraíso, Jericó o mundo, os salteadores as forças malignas, o sacerdote a Lei, o levita os profetas, o samaritano Cristo. As feridas simbolizam a desobediência, a montada o Corpo do Senhor. [...] E a promessa de voltar, feita pelo samaritano, prefigura, de acordo com este intérprete, o segundo advento do Senhor. [...]
Este Samaritano carrega os nossos pecados (cf. Mt 8, 17) e sofre por nós. Pega no moribundo e condu-lo à estalagem, ou seja, à Igreja. A Igreja está aberta a todos, não recusa o seu socorro à ninguém e todos são convidados por Jesus: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos que Eu hei-de aliviar-vos» (Mt 11, 28). Após ter conduzido o ferido, o Samaritano não parte de imediato, mas fica todo o dia na hospedaria junto do moribundo. Trata-lhe das feridas não apenas durante o dia, mas também de noite, abraçando-o com dedicada solicitude. Verdadeiramente este guardião de almas mostrou-se mais próximo dos homens que a Lei e os profetas «dando prova de bondade» para com aquele «que tinha caído nas mãos dos salteadores» e «mostrou ser o seu próximo» mais pelos actos do que pelas palavras
Segundo a palavra: «Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo» (1Cor 11, 1), é possível imitar Cristo e ter piedade dos que «caem nas mãos dos salteadores», aproximando-nos deles, ligando-lhes as feridas, vertendo óleo e vinho sobre elas, carregando-os sobre a nossa própria montada e transportando-lhes os fardos. É por isso que, para nos estimular, o Filho de Deus diz, dirigindo-se a todos nós, mais ainda que ao doutor da lei: «Vai, e faz o mesmo».

 

Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre o Evangelho de Lucas, 34, 3.7-9; GCS 9, 201-202.204-205 (a partir de trad. Delhougne, Les Péres commentent, pp. 419-420)