Ícone denominado "Hospitalidade de Abraão" alusivo à visita da Santíssima Trindade |
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Vida e o Testemunho dos Santos
Por Padre Mateus (Antonio Eça)
Durante muito tempo de minha vida, eu não enxergava a beleza e a pertinência do cultivo da memória dos santos. Nem mesmo entendia o porquê de pessoas humanas serem adjetivadas com tal termo.
No entanto, os santos são os luzeiros
da humanidade (Dn. 12:3,10; Mt 5:14), o suporte amigo dos Fiéis que estão na
Terra (Ap. 5:8), a grande nuvem de testemunhas que nos rodeia, nos questiona e
nos incentiva à Fé (Hb. 12:1). Em tempos de provação, dúvidas, contradições,
fraquezas e perda de motivação, temos a vida e o testemunho dos santos que –
embora sendo sujeito às mesmas paixões que nós – sobre elas triunfaram,
praticaram a justiça e foram agradáveis a Deus (Hb. 11).
Desta constelação de incontáveis
estrelas, vou destacar a primeira a brilhar mais significativamente: Abraão, o
Pai da Fé, o Amigo de Deus.
Abraão amou tanto a Deus, que não se
negou a oferecer seu próprio filho em sacrifício a Deus, por mais cruel,
contraditória e ininteligível que tal reinvindicação pudesse parecer.
Em tempos, como o nosso, nos quais os
bens e suas posses – por menor que sejam – são muito valorizadas, tal
disposição da alma abraâmica nos parece uma realidade inconcebível. Mas, o amor
é doação, e a disposição em doar, revela a natureza e intensidade do nosso
amor.
Na vida egoísta, na alma utilitarista,
o semblante de Abraão se mostra como uma assombração, um espanto, uma face que
inquire a consciência e a verdade e consistência dos conceitos pessoais
assumidos.
Nas almas débeis, mas que se desejam
alcançar as promessas de Deus, o rosto do Patriarca se apresenta como um
incentivo a perder o medo e a ter a certeza da recompensa. Mostra que é preciso
se edificar diariamente um altar ao Senhor, perseverar na promessa, pois Quem
promete é fiel.
Aos espíritos indolentes, o Amigo de
Deus, se apresenta para tirar as ilusões que procuram convencer de que a vida
em Cristo é um mar de calmarias, brisas nas quais o corpo e seus apetites
encontrarão satisfação. Sim, Abraão revela uma vida de lutas, de privações e de
angústias domésticas e externas.
Aos fortes e corajosos, o Pai na Fé,
ensina – com seus fracassos – a não confiar em si mesmo, em suas forças e
potencialidades.
Assim, Abraão, não somente reflete a
imagem de Deus em si, como alcança a semelhança com Ele, e por Ele é chamado de
amigo, pois, assim como Deus, Abraão amou de tal maneira, que deu se único
filho.
Todo dia, o Calendário Ortodoxo, traz à
memoria a vida e os ensinamentos dos santos, que pela graça de Deus, se
somaram, ao longo da história da Igreja, à esta nuvem de testemunhas, que nos
aguarda para que também à ela nos juntemos.
Na Tradição Ortodoxa, quando nos
batizamos, recebemos um novo nome, a de um santo com o qual nos identificamos,
e pela vida e testemunho deste santo, buscamos orientar as nossas vidas. Se for
uma criança recém-nascida, costuma-se batizá-la com o nome de um dos santos que
no dia é comemorado. Também, se crê, que no céu, tais santos nos apadrinham e
por nós oferecem incessantes orações a Deus.
Por isto, muito me alegra, cantar nas
liturgias dos dias de semana:
“Salva-nos,
o Filho de Deus,
Tu
que És glorificado em Teus santos,
A
nós que a Ti cantamos:
Aleluia.