As
causas da ampla disseminação de ideologias radicais islâmicas e maneiras de
resolver o problema; os conflitos militares no Oriente Médio assim como os
relacionados com a escalada da violência na Ucrânia e o destino dos
Metropolitas sequestrados da Síria são temas da entrevista concedida à RIA
Novosti pelo Chefe do Departamento Para as Relações Externas do Patriarcado de
Moscou, Metropolita Hilarion de Volokolamsk.
- Como o Senhor descreveria a crescente
disseminação de ideologias radicais islâmicas e de violência contra pessoas de
outras religiões no Oriente Médio? A quê tudo isso leva? E quem lucra?
- O
recente crescimento do extremismo acobertado por razões religiosas é um sério
desafio para toda a comunidade mundial. A desestabilização no Oriente Médio é
uma consequência não só do confronto cívico, mas também pelo fato de que as
principais potências mundiais têm seus próprios interesses políticos e
econômicos na região. Alguns países fomentam conflitos interconfessional existentes,
produzindo graves consequências para a região.
Sejam
quais forem as razões políticas, elas não podem servir de justificativas para
se armar assassinos, sequestradores e extremistas. A desestabilização de todo o
Oriente Médio, incentivada a partir do exterior, teve como consequência a
ameaça de uma total eliminação dos cristãos em vários desses países.
Estamos
especialmente preocupados com o fato de que, como resultado desse confronto, há
uma fuga em massa dos cristãos no Oriente Médio, e a escalada deste êxodo está
crescendo a cada mês. Sendo povos nativos da região, os cristãos têm que abandonares
suas casa, sob pena de morte. E mesmo em campos de refugiados, não podem se
sentir seguros em face da discriminação, ameaças e sequestros.
A
situação no Egito mostrou que quando o poder é exercido por aqueles que se
opõem com firmeza a extremistas, a situação dos cristãos melhora. Em uma
recente entrevista dada pelo Patriarca Teodoro II, de Alexandria, à sua agência
de notícias, ele disse que a situação dos cristãos no Egito está estabilizada,
graças à política adotada pelo novo presidente do país, Abdel Fattah Sisi.
- O Senhor vê uma ligação entre o
crescimento da tensão, provocações escalada dos conflitos armados no Oriente
Médio com, por exemplo, os acontecimentos na Ucrânia?
- O
acúmulo da tensão no Oriente Médio e na Ucrânia é parte do mesmo plano
estratégico. Entre os objetivos desta estratégia está o seguinte: o de criar um
foco de confronto crônico nas fronteiras do nosso país.
Estou
certo de que a política dúbia adotada e a teoria do "caos controlado" não trará qualquer sucesso a longo
prazo por seus proponentes. É terrível hoje que o número de vítimas em nações
por ações políticas imorais, seja tido alguns como um custo aceitável.
- Que informações sobre a perseguição
dos cristãos no Oriente Médio está disponível para a Igreja Ortodoxa Russa
hoje? As freiras do Mosteiro de Maalula já foram libertadas, mas, qual é o
destino de outras pessoas que foram levadas cativas por causa de sua fé? O que
se sabe hoje sobre os metropolitas sírios que foram sequestrados mais de um ano
atrás?
-
Em 25-26 de dezembro de 2013, o Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa expressou
"grave preocupação com a contínua
perseguição e discriminação da população cristã em muitos países da África do
Norte e do Oriente Médio”, e afirmou "a
necessidade de prosseguir com ações efetivas, destinadas a chamar a atenção da
opinião pública mundial para a trágica situação dos cristãos nas regiões do
Médio Oriente e Norte de África, e promover um acordo de paz dos conflitos
através do diálogo inter-religioso e internacionais". Para a Igreja
Ortodoxa Russa, o apoio a cristãos perseguidos é uma preocupação especial e uma
das principais áreas das ações externas da igreja.
Desde
o sequestro dos dois metropolitas na Síria, não tem havido qualquer evidência
confiável de que eles estão vivos. Não há registros de fotos, de vídeo ou voz.
Ocasionalmente temos recebido - de várias fontes - informação sobre o seu
paradeiro, o que, aparentemente, foi alterado mais de uma vez. Mas não há
nenhuma maneira de verificar as informações. Tememos bastante por suas vidas,
mas oramos por suas prontas libertações.
- A Igreja Russa, assim como o Estado Russo,
constantemente pedem paz e preservação da presença cristã no Oriente Médio. Por
que isto é tão importante hoje em dia? E qual é a razão histórica, política ou
visão de mundo para isso?
- O
Oriente Médio é o berço do cristianismo. Foi lá que uma das primeiras comunidades
cristãs apareceu no 1º século e onde pela primeira vez o próprio nome de "cristãos" foi usado. A Igreja
Ortodoxa de Antioquia é uma Igreja irmã para nós, e nós levamos suas
dificuldades com o coração pesado.
Sabemos
que extremistas estão destruindo igrejas e instituições cristãs, e devastando
santuários de importância para toda a cristandade. Tomamos como nossos o
sofrimento dos cristãos na Síria. Nosso povo está muito bem consciente do que vem
a ser a guerra e a perseguição à fé cristã.
Através
dos séculos, a nossa Igreja tem dado apoio moral e material ao sofrimento dos
cristãos do Oriente Médio. Em uma base regular, colocamos a situação dos
cristãos no Oriente Médio na agenda de eventos internacionais e reuniões com
líderes religiosos e políticos. Temos repetidamente apelado à comunidade
internacional, as organizações internacionais e líderes políticos e religiosos,
lembrando-lhes as consequências perigosas do êxodo em massa de cristãos de suas
terras nativas, e pedimos que sejam tomadas todas as medidas possíveis para
proteger e preservar a presença cristã na região.
Um
esforç0 muito grande tem sido exercido pela Imperial Sociedade Ortodoxa Para a
Palestina, que se prepara agora já a 11 ª ar carregamento de ajuda humanitária
aos cristãos que sofrem na Síria. Desta vez, a ajuda será destinada para
aqueles que vivem no Vale dos cristãos.
Em
28 de julho, a St. Andrew Charity recebeu um grupo de órfãos da Síria para a
melhoria da saúde em uma de suas bases de recreação, perto de Moscou. Ao todo
existem 100 crianças de várias idades no grupo. Entre elas estão os que foram
prisioneiros em uma escola situada em Damasco, bem como as que estavam no orfanato
do Mosteiro de Santa Tekla, em Maalula, que abriga os filhos dos soldados
mortos em combate. Há também crianças com lesões. A Representação da Igreja
Ortodoxa Russa junto ao Patriarcado de Antioquia tem desempenhado um papel ativo
na organização desta viagem.
- Qual é sua opinião sobre a situação
no Iraque e Mosul no Iraque como um todo?
- O
que aconteceu com os cristãos em Mosul e Nínive em julho é absolutamente
monstruoso. Vou lembrá-lo de que no regime de Saddam Hussein, havia 1,5 milhões
de cristãos que viviam no Iraque. Com a ajuda de força militar externa seu
regime foi derrubado, supostamente em nome da democracia. Entre os resultados
desta "democratização" foi
a perseguição contra os cristãos. Logo eles seriam apenas uns 100.000, tendo abandonado Nínive e o centro de Mosul.
Nos últimos 10 anos, diante de ações terroristas e ameaças, mais da metade dos
cristãos tornaram-se refugiados da região.
Em
junho de 2014, dezenas de milhares de cristãos tiveram que deixar suas casas
por medo de agressão e tiveram que fugir para o Curdistão iraquiano por causa
da aproximação dos terroristas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante
(ISIL). No momento, há um relato de que cerca de 100 mil cristãos estão
escondidos no Curdistão. A maioria dos cristãos que permaneceram em Mosul ou
aqueles que foram detidos pelos militantes na tentativa de fugir da cidade,
foram mortos. Em 18 de julho, os extremistas exigiram que todos os cristãos
restantes abraçassem o Islã ou então teriam que deixar suas casas
imediatamente, sem que pudesse levar coisa alguma com eles. Formalmente, também
foi sugerido que cada família pagasse 450 dólares como um imposto, mas nenhuma
provou ter esse dinheiro. Apareceram marcas especiais nas casas dos cristãos
com uma inscrição "Esta propriedade
pertence ao Estado Islâmico".
Deve
notar-se que a reação da comunidade mundial foi mais ativa do que no caso dos
cristãos sírios. A França ainda afirmou que estava pronta para aceitar os
cristãos do Iraque. No entanto, o Ocidente, na prática, pouco tem feito para
libertar os territórios conquistados pela ISIL. As posições de extremistas que
declararam a criação de um califado islâmico no território do Iraque e Síria
ainda são fortes. Um dos líderes dos extremistas iraquianos já revelou um plano
para a criação de um califado islâmico Europeu na Andaluzia espanhola.
- O Senhor acha que as autoridades
iraquianas, sírias e líderes religiosos, estão fazendo tudo o que depende deles
para parar a expulsão e o massacre dos cristãos nesses dois países?
-
Os líderes cristãos no Iraque estão fazendo tudo o que lhes é possível para
chamar a atenção da comunidade mundial para as dificuldades de seus rebanhos. O
Patriarca Caldeu da Babilônia, Raphael Louis Sako, fez uma série de declarações
sobre o assunto. O Patriarca Efrém II da Igreja sírio-católica tem trabalhado
ativamente com as autoridades do Curdistão iraquiano, onde a maioria dos
refugiados encontraram asilo, coordenando os esforços práticos para fornecer os
meios necessários para os refugiados. Os líderes religiosos propuseram a
criação de uma comissão mista, incluindo representantes dos refugiados e do
governo curdo para fornecer estas facilidades para os requerentes de asilo
forçados.
Alguns
líderes influentes do Islã tradicional no Iraque rejeitam a ideologia do ISIL.
Sheikh Khalid al-Mullah, o líder sunita no Iraque e chefe da Associação das
Escolas Muçulmana do Sul do País, condenou a expulsão de cristãos de Mosul. O
destino do país depende em grande medida de quão consistente o povo do Islã
tradicional estará em pé contra a ideologia do ISIL. O Partido Ba'ath no Iraque
declarou guerra à ISIL. Muçulmanos comuns, durante uma ação em Bagdá,
manifestaram o seu apoio para os cristãos, que viveram no Iraque há quase dois
mil anos.
- O que os refugiados cristãos devem
fazer? Onde podem encontrar um asilo?
- A
maioria dos cristãos banidos de Mosul e Nínive estão relacionados com o Santo
Sínodo, portanto, o Vaticano tem feito esforços ativos para ajudá-los. Eu já
mencionei que a França concordou em aceitar alguns refugiados cristãos.
Infelizmente, outros países da Europa continuam a abafar essa tragédia.
O
Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, qualificou a "limpeza" dos cristãos na segunda maior cidade do Iraque
como um crime contra a humanidade, mas nem o governo da Grã-Bretanha, nem a
União Europeia se pronunciaram. Há refugiados da Síria e na Rússia também. Existem
organizações públicas que pretendem ajudá-los. Mas, infelizmente, a necessidade
de aceitar e acolher com previamente algumas centenas de milhares de refugiados
provenientes da Ucrânia, tem limitado os recursos do nosso país nesta área.
Entrevistadora: Olga Lipich
Fonte: Sitio do Patriarcado de Moscou
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