A Fé Antiga e Perene Falando ao Mundo Atual: Temas Teológicos, Notícias, Reportagens, Comentários e Entrevistas à luz da Fé Ortodoxa.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os Bens e os Males Recebidos de Deus



São Gregório, o Grande, Patriarca e Papa de Roma (Séc. VI)

Se da mão de Deus recebemos os bens, por que não suportaremos os males?
Paulo, considerando em seu íntimo as riquezas da sabedoria e vendo-se externamente um corpo corruptível, exclama: “Temos este tesouro em vasos de barro”!

No santo Jó, o vaso de barro sofre no exterior as rupturas das úlceras. Por dentro, porém, continua íntegro o tesouro. Por fora é ferido de chagas. Por dentro, a perene nascente do tesouro da sabedoria derrama-se em palavras santas: “Se da mão de Deus recebemos os bens, por que não suportaremos os males?” Para ele, os bens são os dons de Deus, tanto os temporais quanto os eternos, enquanto que os males são os flagelos do momento. Diz o Senhor pelo Profeta:

“Eu, o Senhor, e não há outro, faço a luz e crio as trevas, produzo a paz e crio os males”.

“Faço a luz e crio as trevas”: quando, pelos flagelos, são criadas exteriormente as trevas do sofrimento, no íntimo, pela correção, acende-se a luz do espírito.

“Produzo a paz e crio os males”: Voltamos à paz com Deus quando os bens criados, porém, mal desejados, por serem males para nós, se transformam em flagelos. Pela culpa, estamos em discórdia com Deus. Portanto, é justo que, pelos flagelos, retornemos à paz com ele. Quando os bens criados começam a causar-nos sofrimento, o espírito assim castigado procura humildemente a paz com o Criador.

É preciso considerar com muita atenção, nas palavras de Jó, contra a opinião de sua mulher, a justeza do seu raciocínio:

“Se recebemos da mão do Senhor os bens, por que não suportaremos os males?”

Grande conforto na tribulação é, em meio às contrariedades, lembrarmo-nos dos dons concedidos por nosso Criador. E não nos abatemos, em face da dor, se logo nos ocorrer à mente o dom que a reanima. Sobre isto está escrito:

“Nos dias bons, não te esqueças dos maus, e nos dias maus lembra-te dos bons”.

Quem recebe os bens da vida, mas durante os bons tempos deixa inteiramente de temer os flagelos, cai na soberba através da alegria. Quem é atormentado pelos flagelos e nestes dias maus não se consola com os dons recebidos, perde, com o mais profundo desespero, o equilíbrio do espírito.

Assim sendo, é necessário unir os dois, de modo que um sempre se apoie no outro: que a lembrança dos bens modere o sofrimento dos flagelos e que a suspeita e o medo dos flagelos estejam a mordiscar a alegria dos bens. O santo homem com suas chagas, para aliviar o espírito oprimido em meio às dores dos flagelos, pensa na doçura dos dons: “Se recebemos da mão do Senhor os bens, por que não haveremos de suportar os males?”

Dos Livros "Moralia sobre Jó,
de São Gregório Magno, Patriarca e Papa de Roma (Séc. VI)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

HOMILIA DA ASCENSÃO DE CRISTO (Parte I)





Por Protopresbítero George Dion Dragas*

"E enquanto ele estava abençoando-os, partiu e começou a subir para o céu" (Lucas 24:51).


A Ascensão como o auge das Festas do Senhor:
Como brilhante e maravilhosa é esta festa! É o auge de todas as festas do Senhor, porque com ela o sagrado propósito da Encarnação do Indizível Verbo de Deus se conclui, conforme a Divina economia. Para que o Filho e Verbo de Deus feito homem, foi submetido a paixão, a morte, a ressurreição e a ascensão ...? Todos estes eventos aconteceram de modo que a natureza humana não permanecesse prostrada, mas se elevasse para o céu, para que se tornasse divinizada e glorificada, de acordo com o projeto original do Criador. Esta, então, era a finalidade para a qual o Filho de Deus se dignou a assumir em Sua Santíssima pessoa (hipóstase) a nossa natureza humana, que havia caído de sua condição original, a fim de renová-la com a sua crucificação e ressurreição e erguê-la para as alturas celestiais com sua gloriosa ascensão, apresentando-a a Deus, o Pai, como o troféu radiante de Sua vitória.

A Ascensão como o triunfo da natureza humana:
Na Ascensão de Cristo, Deus o Pai aceitou as primícias de nossa humanidade, e se agradou não só por causa da dignidade d’Aquele que a ofereceu, mas também pela pureza da oferta . Esta, então, é a vitória perfeita contra o pecado. Este é o triunfo da natureza humana. A natureza humana não poderia ter descido para um ponto mais baixo do que a que chegou após a queda de Adão, mas também não poderia ascender a um ponto mais alto do que aquele em que o novo (ou último) Adão a ergueu com sua ascensão!

A Ascensão que o benefício final oferecido por Deus ao homem:
O que a mente poderia apreender das dimensões reais deste evento? A natureza desamparada e frágil ser humano, a natureza que fugiu de Deus e foi exilada do paraíso, a natureza rasteira, miserável condenada e escravizada dos seres humanos torna-se hoje mais gloriosa do que a dos anjos, projetada para sentar-se com Cristo no seio do Pai, agora é adorada por toda a criação visível e invisível! Que linguagem há que possa louvar a magnitude desta celebração ou descrever dignamente a maravilha da beneficência de Deus aos seres humanos? Hoje, a desejada entrada no paraíso, a Jerusalém celeste, é aberta aos descendentes do exilado Adão. Hoje, a restauração do novo Israel na Terra Prometida é realizada.

A Ascensão como a vitória final de Cristo para o homem:
Hoje, no Monte das Oliveiras o Céu e a Terra se beijam e anjos e seres humanos estão unidos. Aqui, o coro dos Apóstolos cumprimenta seu doce Mestre com alegria em sua partida, e as Ordens dos Anjos saúdam o Rei dos Céus com alegria inefável. Aqui, o cativeiro, é levado cativo pelo Vencedor da morte com a sua ascensão às alturas, ou seja, as almas dos justos que foram redimidos, têm seus olhos em seu Redentor com sentimentos de euforia e alegria. Aqui também, a Sua Mãe, a Virgem pura, se despede do seu Filho amado, o Qual sobe ao Céu, onde Deus, o Pai acolhe o seu Filho unigênito e O faz sentar sentar à Sua direita. Aqui, no prestigioso Monte das Oliveiras, também nós somos chamados a elevar nossas mentes e nos tornarmos testemunhas oculares dos eventos grandes e maravilhosos que ocorreram, tendo como nosso guia Lucas, o teólogo, o único entre os Evangelistas a narrar – de forma breve, mas no melhor estilo das narrativas sacerdotais - a solene e gloriosa ascensão de nosso Senhor e Deus e Salvador Jesus Cristo.

Por que a Ascensão ter lugar 40 dias após e não imediatamente após a Ressurreição?
O Senhor da vida, rompeu os laços da morte por sua ressurreição e se reuniu com seus discípulos durante 40 dias;  ressurreição que se tornou para eles inconteste por meio de várias provas. Cristo não subiu ao céu no dia em que ressuscitou, porque um evento como esse teria levantado dúvidas e perguntas. Se ele tivesse feito isso, muitos dos incrédulos estariam em condições de projetar o argumento de que a ressurreição era mais um sonho de aspirações piedosas que facilmente surgem e desaparecem mais facilmente. Por este motivo, então, Cristo permaneceu por 40 dias sobre a terra, e apareceu aos seus discípulos várias vezes, mostrando-lhes as marcas de suas feridas, explicando-lhes as profecias que Ele cumpriu em sua vida e sofrimentos como homem, e até mesmo comeu com eles.

O Protopresbítero George Dion Dragas é um proeminente mestre e escritor Ortodoxo da atualidade. Padre George ensina Patrística na Escola Ortodoxa Grega de Teologia Santa Cruz em Brookline, Massachusetts (EUA).

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Santo e Glorioso Apóstolo Simão, o Zelote




São Simão era de Caná da Galileia, e era conhecido do Senhor e de Sua Mãe. A tradição diz que Simão era o noivo no casamento, onde o Salvador realizou seu primeiro milagre. Depois de testemunhar o milagre da água que tinha sido transformada em vinho, Simão se tornou um fervoroso seguidor de Cristo. Por esta razão, ele é conhecido como São Simão, o Zelote (kannanaio= zeloso, zelote) e não, por pertencer ao grupo de sacerdotes guerrilheiros denominados de “zelotes”, os quais também recebiam este cognome devido ao zelo com o qual lutavam pela libertação política dos judeus.



São Simão era um dos doze Apóstolos, e após a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes saiu a pregar o Evangelho de Cristo em muitos lugares, na Mauritânia (África) e desde Grã-Bretanha até o Mar Negro. Depois de converter muitos pagãos ao Senhor, São Simão, sofreu o martírio na Geórgia, torturado e crucificado pelos pagãos da Abkházia.



São Simão, também é comemorado em 30 de junho com os outros Apóstolos. 



TROPÁRIO (TOM 3)

Santo apóstolo Simão,
Roga ao Deus misericordioso,
Para que Ele nos conceda o perdão das transgressões
E a salvação de nossas almas.

KONDAKION (TOM 2)
Louvemos e bendigamos o eloquente Simão,
que semeou os ensinamentos da Sabedoria nos corações dos fiéis;
agora ele está diante do trono de glória
e regozija-se com os anjos,
intercedendo por todos nós sem cessar.

NOVOS CONFESSORES DA FÉ: OS MONGES DE ESPHIGMENOU DO MONTE ATHOS




O chefe do mosteiro, o abade Methodios
      "Sofrer perseguição pela Fé Ortodoxa é uma alegria!"
             Abade Methódios - Mosteiro de Esphigmenou
O Sagrado Mosteiro de Esphigmenou continua sua abençoada resistência ao Heresiarca, o Patriarca Ecumenista Bartolomeu II




Mais de 100 Monges Cristãos Ortodoxos Gregos recusam-se a deixar seu Mosteiro (Mosteiro da Ascenção - Esphigmenou) na Sagrada Montanha de Athos, nordeste da Grécia, apesar disso ter sido ordenado pelas autoridades gregas, depois de acusarem de heresia o Patriarca Bartolomeu II, líder da Igreja Estatal Ecumenista de Constantinopla e da Ortodoxia Mundial.


O prazo para sair expirou na terça-feira. Os Monges "rebeldes" vivem no Mosteiro Esphigmenou (consagrado à Ascenção de Cristo), no Monte Athos, conhecido como a Montanha Sagrada.



Eles dizem que suas comunicações e suprimentos de alimentos já foram cortados, mas eles conseguiram embargar a ordem de despejo a ser executada, apelando para a Suprema Corte. Os Monges afirmam que a razão dada para despejá-los não tem qualquer base legal.





Seu suposto superior eclesiástico, o Patriarca  Ecumênico Bartolomeu II, acusa-os de criar um cisma dentro da Igreja Ortodoxa Grega, por se recusarem a reconhecer a sua autoridade. Portanto, o Patriarca Bartolomeu afirma que os Monges de Esphigmenou são uma irmandade proibida.




Esta é uma disputa que remonta a mais de 30 anos, devido a aproximação constante entre o Patriarca Ortodoxo e o Papa de Roma. Durante a última década, houve novas reuniões entre o líder espiritual Ortodoxo Grego e a Igreja Católica Romana.


Os Monges "rebeldes" dizem que o contato já foi longe demais e é equivalente à heresia.

Eles afirmam que isso mina as próprias bases da Fé Ortodoxa, que foi criada há quase 1.000 anos atrás, depois do chamado Grande Cisma, ocorrido em 1054 e que separou a Igreja do Ocidente das Igrejas do Oriente. 

"ORTODOXIA OU MORTE"

Os Monges estão determinados a ficar no seu Mosteiro e dizem que têm suprimentos suficientes para durar por vários anos. Seu lema é a "ORTODOXIA OU MORTE".

O líder do Mosteiro, o Abade Methodios, disse à BBC que foi uma alegria para eles serem perseguidos por aquilo que ele chamou de Verdadeira Fé, dada a eles por Jesus Cristo.

As autoridades de Monte Athos dizem que não haverá violência.

Eles estão agora à espera de uma decisão final sobre o caso pela Suprema Corte.


Fontes: 
Tradução e edição em Português: Cristianismo Ortodoxo






terça-feira, 22 de maio de 2012

A Ação do Espírito Santo




Do Tratado Sobre o Espírito Santo Cap. (9,22-23: PG 32,107-110),
São Basílio Magno, bispo de Cesaréia (Séc. IV)




"Qual é o homem que, ao ouvir os Nomes com os quais é designado o Espírito Santo, não eleva seu ânimo e o seu pensamento para a natureza divina? É chamado Espírito de Deus, Espírito da verdade que procede do Pai, Espírito de retidão, Espírito principal, e como Nome próprio e peculiar, Espírito Santo.

Volta-se para Ele o olhar de todos os que buscam a santificação; para Ele tende a aspiração de todos os que vivem segundo a virtude; é o Seu sopro que os revigora e reanima para atingirem o fim natural e próprio para que foram feitos.

Ele é Fonte da santidade e Luz da inteligência; é Ele que dá, de Si mesmo, uma certa iluminação à nossa razão natural para que encontre a verdade.

Inacessível por Sua natureza, torna-se acessível por Sua bondade. Enche tudo com o Seu poder, mas comunica-se apenas aos que são dignos; não a todos na mesma medida, mas distribuindo os Seus dons em proporção da fé. Um na Essência, Múltiplo nas manifestações do seu poder, está presente por Inteiro em cada um, sem deixar de estar todo em todo lugar. Reparte-se e não sofre diminuição. Todos d’Ele participam e permanece Íntegro, à semelhança dos raios do sol que fazem sentir a cada um a sua luz benéfica como se fosse para ele só, e contudo iluminam a terra e o mar e se difundem pelo espaço.

Assim É também o Espírito Santo: está presente em cada um dos que são capazes de recebê-Lo, como se estivesse n’Ele só, e, não obstante, dá a todos a totalidade da graça de que necessitam. Os que participam do Espírito recebem os Seus dons na medida em que o permite a disposição de cada um, mas não na medida do poder do mesmo Espírito.

Por Ele, os corações são elevados ao alto, os fracos são conduzidos pela mão, os que progridem na virtude chegam à perfeição. Ele ilumina os que foram purificados de toda a mancha e torna-os espirituais pela comunhão Consigo.

E como os corpos límpidos e transparentes, sob a ação da luz, se tornam também extraordinariamente brilhantes e irradiam um novo fulgor, da mesma forma também as almas que recebem o Espírito e são por Ele iluminadas tornam-se espirituais e irradiam sobre os outros a graça que lhes foi dada.

D’Ele procede a previsão do futuro, a inteligência dos mistérios, a compreensão das coisas ocultas, a distribuição dos carismas, a participação na vida do céu, a companhia dos coros dos anjos. D’Ele nos vem a alegria sem fim, a união constante e a semelhança com Deus; d’Ele procede, enfim, o bem mais sublime que se pode desejar: o homem é divinizado".