Nada tenho a ensinar a quem quer que seja, mas partilho com todos as riquezas por mim descobertas no imensurável Tesouro do Depósito da Fé, pelo qual, procuro sempre pautar minhas opiniões pessoais.
A Epístola de Tiago, o irmão do Senhor, é desde os tempos mais primitivos do Cristianismo um grande desafio de vida e um termômetro perfeito da fé da Igreja, posto que ela não permite a alma raciocinar os mistérios de Deus e entorpecer a consciência nos corredores da razão investigativa e discursiva. Ela nos põe diante das situações do cotidiano onde somos chamados a viver a fé. Penso que a síntese da carta esteja contida na afirmação de Tiago 1:27:
“A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”.
Contudo, em tempo politicamente correto, cuja ênfase está na consciência social e as questões do ser reduzidas às compreensões psicologizantes, esta Epístola pode ser muito mal entendida ou servir de esteio para o pensamento pragmático que exclui o valor da mística. No Ocidente Cristão somos confrontados por esta mentalidade e por ela julgados. Para escapar da total condenação e parecer relevante aos olhos do mundo, muitos cristãos se valem de alguns ícones da Igreja latina, como Dom Hélder Câmara e Madre Tereza, de Calcutá, que são venerados na perspectiva de símbolos do ativismo social, sem se aperceber que a seiva que gerava os seus preciosos frutos era a mística de uma Vocação (voz que chama). De quem era a voz que eles ouviam?
A religião pura em Tiago não se resume em ser solidário com os que sofrem a exclusão social, mas, também, o cuidado pessoal do ser (guardar a si mesmo da corrupção que há no mundo). Abstrair qualquer uma destas duas dimensões é macular a pureza da religião de Tiago. Ela, assim como Deus a Caim, nos questiona: “O teu irmão, onde está? (Gn. 4:9). E, como Deus a Abraão, ela nos conclama: “Anda em minha presença e sê perfeito” (Gn. 17:1).
Onde está precisamente a corrupção do mundo? Cristo e os Apóstolos nos dizem: na alma, pois tudo o que contamina o homem (inclusive as injustiças) procede da alma (Mt. 15:18,19). O ativismo de dimensão horizontal é incapaz de curar os males sociais e gerar perspectivas duradouras, posto que negligência dimensões maiores e mais profundas da existência.
Os caminhos do ativismo puramente humanista contêm solos escorregadios, pois facilmente podemos ser enganados pelo narcisismo da alma, posto que, mesmo que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se me aproveitará (I Cor. 13:3). Este amor nada tem a ver com o ego.
Como guardar a alma? Tiago nos diz: submetendo-se a Deus, resistindo ao Diabo (desagregador da vida em Deus) e preservando a esperança cristã (4:7,8; 5:7,8).
Uma nova ordem social é demandada por todos, mas, uma nova estrutura da alma é cobiçada por poucos. Esta é a razão pela qual, recentemente, muitos dos corifeus de uma nova ordem e da consciência social vêm sendo flagrados em práticas contraditórias, gerando crise de referência naqueles que os tinham como ponta de lança do futuro.
Somos desfiados por Tiago a fugir do egoísmo de uma fé alienada do seu semelhante e da alienação da jornada mística da alma.
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