O Hieromártir Dionísio (Denis), Bispo de Atenas, o Presbítero Rústicus e o Diácono Eleutherius foram mortos em Lutetium (antigo nome de Paris) na Gália (atual França, onde São Dionísio é homenageado como o santo padroeiro da França, sob o nome francês "Dênis" ou "Denys". Isto ocorreu no ano 96 (outra fonte sugere o ano 110), durante o tempo da perseguição sob o Imperador romano Domiciano (81-96).
São Dionísio viveu inicialmente na cidade de Atenas. Ele foi criado lá e recebeu uma fina educação do grego clássico. Depois, Dionísio partiu para o Egito, onde estudou astronomia na cidade de Heliópolis. Juntamente com seu amigo Apollophonos, testemunhou o eclipse solar ocorrido durante a crucificação do Senhor Jesus Cristo. Naquele momento, Dioníso disse:
"Ou o Criador de todo o mundo está padecendo agora, ou nosso mundo visível está chegando ao fim."
Após o seu regresso a Atenas, foi escolhido para ser um membro do Conselho do Areópago (alta corte ateniense). "Areo-pagus" significa, literalmente, "Monte de Marte", localizado na Atenas antiga.
Quando o Santo Apóstolo Paulo pregou aos atenienses no Areópago (Atos 17: 16-34), Dionísio aceitou seu anúncio salvífico e tornou-se um cristão. Dionísio e sua esposa Damaris foram um dos poucos conversos de São Paulo em Atenas. É muito significativo e altamente simbólico que os gregos pagãos tenham situado no Areópago o "altar ao Deus Desconhecido", o Deus do Qual, na verdade, São Paulo pregou o conhecimento. A subsequente "via negativa" ou "apofatismo" de São Dionísio é, especialmente, uma importante contribuição tanto para a teologia como para a filosofia.
Ao longo de três anos São Dionísio permaneceu como um companheiro do Apóstolo São Paulo na pregação da Palavra de Deus. Mais tarde, o Apóstolo Paulo o estabeleceu como bispo da cidade de Atenas. E no ano 57, São Dionísio estava presente na dormição da Santíssima Mãe de Deus.
Já durante o tempo de vida da Mãe de Deus, São Dionísio tinha especialmente viajado de Atenas para Jerusalém, a fim de conhecê-la. Ele escreveu para seu mestre, o Apóstolo Paulo, dizendo:
"Eu testemunho por Deus, que nada, além do próprio Deus, tinha me preenchido com tamanha medida de poder e graça divina. Ninguém dentre a humanidade pode compreender plenamente o que eu vi. Confesso diante de Deus, que quando eu fui ter com João (o qual estando entre os Apóstolos, resplandeceu como o sol no céu), fui levado a estar ante o semblante da Santíssima Virgem, e experimentei uma sensação indescritível: Diante de mim resplandeceu uma espécie de brilho Divino, que me deixou o espírito paralisado. Percebi a presença de aromas de fragrâncias inefáveis; e tanto prazer dava respirá-los, que já não sentia mais o meu próprio corpo, e, então, desfaleci, pois, não pude suportar tamanhos sinais e sensações da bem-aventurança eterna e do poder celestial. A graça que Dela vinha, comprimia o meu coração e o meu espírito, que se eu não tivesse em mente a tua instrução, eu a teria confundido com o próprio Deus. É impossível permanecer em pé diante de tamanha bem-aventurança, tal qual esta que eu contemplei".
Após a morte do Apóstolo Paulo, querendo dar continuidade ao trabalho do Apóstolo, São Dionísio partiu para pregar em terras ocidentais, acompanhado do Presbítero Rústicus e do Diácono Eleutérius. Eles converteram muitas pessoas para Cristo em Roma, na Alemanha, e depois na Espanha. Estando na Gália, durante o tempo de uma perseguição deflagrada contra os cristãos pelas autoridades pagãs, todas os três confessores foram presos e lançados na prisão. À noite São Dionísio celebrou a Divina Liturgia, co-servido pelos anjos de Deus. No outro dia, pela manhã, os mártires foram decapitados. De acordo com uma antiga tradição, São Dionísio tomou a sua cabeça, caminhou com ela até à igreja e somente ao chegar lá, caiu morto. Uma mulher piedosa, chamada Catulla, enterrou os restos mortais do santo.
Os escritos de São Dionísio, o Areopagita, possuem um grande significado para a Igreja Ortodoxa. Quatro de seus livros sobreviveram até o presente: "Acerca da Hierarquia Celestial", "Acerca da Hierarquia Eclesiástica", "Acerca dos Nomes de Deus", "Acerca da Teologia Mística"; além disto, existem dez cartas destinadas a várias pessoas.
O Livro, "Acercas das Hierarquias Celestes", foi escrito na verdade, em um dos países da Europa Ocidental, onde São Dionísio estava pregando. Nele está exposta a doutrina cristã sobre o mundo angélico. A hierarquia angelical (ou Celestial) compreende nove níveis: Os Serafins, os Querubins, Tronos, Domínios, Poderes, Autoridades, Principados ("territórios"), Arcanjos e Anjos (A Sinaxe das Hierarquias Celestes é comemorada em 08 de novembro).
As Divinas Hierarquias Angélicas têm a função de promoverem a ascensão em direção à semelhança de Deus por meio da purificação, iluminação e perfeição. Os mais altos escalões são portadores e fontes-mediadoras da luz divina e da vida divina para as classes mais baixas. E não são apenas os seres incorpóreos que estão incluídos na hierarquia geradora de luz espiritual, mas também a raça humana, novamente criada e santificada na Igreja de Cristo.
O livro de São Dionísio, "Acerca das Hierarquias Eclesiásticas", é uma continuação de seu livro, "Sobre as Hierarquias Celestes". A Igreja de Cristo em seu serviço universal é definida está base, assim como as fileiras angélicas, dos princípios sacerdotais estabelecidos por Deus.
No mundo terreno, aos filhos da Igreja, a graça Divina desce imperceptivelmente nos santos mistérios (sacramentos) da Igreja, que embora de natureza espiritual, são sensivelmente perceptíveis na forma. Mas, apenas poucos, mesmo entre os santos ascetas que foram capazes de vê com os olhos terrenos a ardente visão da natureza dos Santos Mistérios de Deus. Mas fora dos sacramentos da Igreja, fora do Batismo e da Eucaristia, não existe a Luz que gera a graça salvadora de Deus, e nem existe o conhecimento de Deus, nem Theósis (deificação).
O livro "Acerca dos Nomes de Deus", expõe sobre o caminho do Divino conhecimento exatamente como São João Clímaco o faz na "Escada da Divina Ascensão".
O livro de São Dionísio, "Acerca da Teologia Mística", da mesma forma estabelece o ensino sobre o conhecimento de Deus. A teologia da Igreja Ortodoxa é totalmente baseada na experiência do conhecimento de Deus. Para poder conhecer a Deus, é necessário estar em proximidade a Ele, para de alguma maneira atingir a condição de entrar em Comunhão com Deus e alcançar a deificação (Theósis). E é pela oração - mais do que tudo - que tal comunhão é realizada. Isto não é porque a oração em si, nos aproxima do Deus Incompreensível, mas, sim, que a pureza de coração em verdadeira oração, nos traz a proximidade de Deus.
Os escritos de São Dionísio, o Areopagita são de extraordinária importância na Teologia da Igreja Ortodoxa (e também para a teologia ocidental do fim da Idade Média). E ao longo de quase quatro séculos - até o início do século VI, as obras deste santo padre da Igreja foram preservadas em uma tradição textual obscura, principalmente entre os teólogos da Igreja de Alexandria. Os conceitos destas obras eram conhecidos e utilizados por Clemente de Alexandria, Orígenes, Dionysios, o Grande - figuras proeminentes da escola catequética em Alexandria, e também por São Gregório, o Teólogo. São Dionysios de Alexandria escreveu a São Gregório, o Teólogo, um comentário sobre a "Areopagitum". As obras de São Dionísio, o Areopagita recebeu o reconhecimento geral da Igreja durante os séculos VI-VII. Particularmente relevantes são os comentários escritos sobre eles pelo Monge Máximos, o Confessor (†662, comemorado em 21 janeiro).[1]
Na Igreja Ortodoxa Russa os ensinamentos de São Dionísio, o Areopagita sobre a natureza espiritual dos princípios sacerdotais e da Deificação, foram primeiramente conhecidos através da "teologia" do Monge João Damasceno (Comemorado em 4 de dezembro). A primeira tradução eslava do "Areopagitum" foi feita no Monte Athos por volta do ano 1371, por um monge chamado Isaías. Cópias do mesmo foram amplamente distribuídas na Rússia. Muitos deles foram preservados até o presente dia em coleções histórico-manuscritas - entre os quais está um pergaminho manuscrito "Obras de São Dionísio, o Areopagita" pertencente a São Kipriano, Metropolita de Kiev e de toda a Rus (†1406) - com sua própria caligrafia.
Nota
[1] Embora muitos estudiosos sugiram que o "Areopagitum" foi realmente escrito por uma figura anônima do VI século, que empregou o dispositivo piedoso - comum na antiguidade - de tomar emprestado um nome ilustre. Todavia, também é um costume da nossa modernidade, por em dúvida as tradições que não estão de acordo com os critérios da nossa historiografia. Nesta perspectiva, todos os livros das Sagradas escrituras também são questionáveis.
Com relação aos escritos areopagitas, é estranho - se tal obra de fato seja de autoria de um ilustre anônimo do VI século - a ausência de qualquer referências às questões teológicas que fervilhavam nesta época; ao contrário, todo conteúdo do livro é muito compatível ao ambiente do primeiro e do segundo século.
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