quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Entrada da Santíssima Mãe de Deus no Templo

24ª Quarta-feira Depois de Pentecostes
04 de Dezembro de 2013 (CC) 21 de Novembro (CE)



ENTRADA DA SANTÍSSIMA THEOTOKOS NO TEMPLO.


Os justos Joaquim e Ana, mesmo antes do nascimento de sua filha Maria, tinham prometido dedicar a Deus a criança que Ele lhes havia concedido. 
Quando a Santíssima Virgem Maria era ainda uma jovem menina, eles a levaram ao Templo, acompanhada por virgens com lamparinas, e a colocaram no primeiro degrau da escada. De acordo com a antiga tradição, Maria subiu os quinze degraus do Templo sozinha. No topo da escada o sumo sacerdote a encontrou e, cheio do Espírito Santo, conduziu-a não só até o altar, mas mesmo até o Santo dos Santos onde, de acordo com a Lei, o próprio sumo sacerdote só podia entrar uma vez por ano. O povo ficou assombrado com essa entrada, e os anjos de Deus maravilharam-se também. 
Os Cristãos celebram esse evento em 21 de novembro como um portento de reconciliação do homem com Deus através do poder de Cristo. 
Esta festa litúrgica é celebrada nas Igrejas do Oriente desde o século VI, quando foi inaugurada uma igreja na cidade de Jerusalém em 543. Pouco a pouco foi se transformando em comemoração local para, gradativamente, estender-se por todo Oriente e implantar-se em Constantinopla, entre os séculos VII e VIII. Contribuíram para isto alguns Patriarcas como Germano e Tarásios.
Embora não seja testificada pelo Evangelho, mas apenas embasada na Tradição viva da Igreja Primitiva, é celebrada com tanta piedade como as demais festas marianas do calendário litúrgico. 
A Igreja, celebrando esta festa, não quer recordar a entrada de Maria no Templo, simplesmente como fato histórico, mas quer enaltecer, mais uma vez, as virtudes de Maria que são modelos a serem seguidos por todos nós cristãos. 
A Apresentação de Maria no Templo nos apresenta dois Evangelhos ricos em significados: no Orthros, Maria declama seu "Magnificat" e, na Liturgia, Jesus visita Marta e Maria. 
Reza a Tradição que Maria, ao ser apresentada, contava com três anos de idade; e desde então se doou a Deus de maneira plena, tornando-se disponível à sua vontade. Desde o início ela foi a "Serva do Senhor" (Lc 1,38) a quem amou e serviu com todas as forças. 
Maria preparou-se desde pequena para "tornar-se ela própria "templo" do Altíssimo. O anjo Gabriel anunciou tal realidade dizendo: "Não temas Maria, pois encontraste graça aos olhos de Deus". E a sua resposta é um célebre poema que enaltece a humildade e destrona o orgulho. 
A humildade, a simplicidade, a singeleza e a sinceridade são características frequentes em uma criança. Maria apresentou, portanto, tais atributos, os quais não a abandonaram com o seu crescimento, mas, antes, se tornaram permanentes. 
O silêncio de Maria e suas orações frequentes acolheram a vontade de Deus com amor, pois produziram dedicação. Maria cooperou na obra da Redenção dando seu "Sim", não de maneira passiva, mas numa operosa atividade. O seu "Sim" foi mantido e acentuado em toda a vida, até mesmo no calvário onde, também ela, ofereceu seu Filho que se oferecia por nossa Salvação. 
Escolhida para ser mãe, pôs-se a serviço e se declarou serva. O mundo está cansado de palavras, de gestos ruidosos. Maria faz. No silêncio, realiza aos poucos sua parte. 
Maria é a nova Eva que gerou pelo seu "sim" o novo Adão. A primeira Eva foi a mulher do primeiro Adão e a ele prestava seus serviços como esposa dedicada, mas, porque fraca e desobediente, pecou. A Nova Eva é mãe do Novo Adão, que por amor e profundo respeito a Ele, doou-se por inteira; e porque fiel e obediente, trouxe ao mundo o perdão e a redenção. Onde havia abundado o pecado, pelo "Sim" de Maria a Graça superabundou . 
Maria é modelo de fé adulta, esclarecida, consciente. Uma fé que enfrenta todas as dificuldades, sem duvidar da presença de Deus em sua vida. 
A Festa da Entrada da Virgem Maria no Templo acontece um pouco antes da Natividade do Senhor. É um convite a uma mais profunda e esmerada preparação para que possamos viver este tempo de graça em plenitude. 
Arcipreste D. Sokolof



VÉSPERAS

Êxodo 40:1-5, 9-10, 16, 34-35

     1 Depois disse o Senhor a Moisés:    2 No primeiro mês, no primeiro dia do mês, levantarás o tabernáculo da tenda da revelação,    3 e porás nele a arca do testemunho, e resguardaras a arca com o véu.    4 Depois colocarás nele a mesa, e porás em ordem o que se deve pôr em ordem nela; também colocarás nele o candelabro, e acenderás as suas lâmpadas.    5 E porás o altar de ouro para o incenso diante da arca do testemunho; então pendurarás o reposteiro da porta do tabernáculo.    9 Então tomarás o óleo da unção e ungirás o tabernáculo, e tudo o que há nele; e o santificarás, a ele e a todos os seus móveis; e será santo.    10 Ungirás também o altar do holocausto, e todos os seus utensílios, e santificarás o altar; e o altar será santíssimo.    16 E Moisés fez conforme tudo o que o Senhor lhe ordenou; assim o fez.    34 Então a nuvem cobriu a tenda da revelação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo;    35 de maneira que Moisés não podia entrar na tenda da revelação, porquanto a nuvem repousava sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo.   

1 Reis 7:51; 8:1, 3-7, 9-11

     51 Assim se acabou toda a obra que o rei Salomão fez para a casa do Senhor. Então trouxe Salomão as coisas que seu pai Davi tinha consagrado, a saber, a prata, o ouro e os vasos; e os depositou nos tesouros da casa do senhor.    1 Então congregou Salomão diante de si em Jerusalém os anciãos de Israel, e todos os cabeças das tribos, os chefes das casas paternas, dentre os filhos de Israel, para fazerem subir da cidade de Davi, que é Sião, a arca do pacto do Senhor:    3 E tendo chegado todos os anciãos de Israel, os sacerdotes alçaram a arca;    4 e trouxeram para cima a arca do Senhor, e a tenda da revelação, juntamente com todos os utensílios sagrados que havia na tenda; foram os sacerdotes e os levitas que os trouxeram para cima.    5 E o rei Salomão, e toda a congregação de Israel, que se ajuntara diante dele, estavam diante da arca, imolando ovelhas e bois, os quais não se podiam contar nem numerar, pela sua multidão.    6 E os sacerdotes introduziram a arca do pacto do Senhor no seu lugar, no oráculo da casa, no lugar santíssimo, debaixo das asas dos querubins.    7 Pois os querubins estendiam ambas as asas sobre o lugar da arca, e cobriam por cima a arca e os seus varais.    9 Nada havia na arca, senão as duas tábuas de pedra, que Moisés ali pusera, junto a Horebe, quando o Senhor, fez u pacto com os filhos de Israel, ao sairem eles da terra do Egito.    10 E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor;    11 de modo que os sacerdotes não podiam ter-se em pé para ministrarem, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor.   

Ezequiel 43:27-44:4

     27 E, cumprindo eles estes dias, será que, ao oitavo dia, e dali em diante, os sacerdotes oferecerão sobre o altar os vossos holocaustos e as vossas ofertas pacíficas; e vos aceitarei, diz o Senhor Deus.    1 Então me fez voltar para o caminho da porta exterior do santuário, a qual olha para o oriente; e ela estava fechada.    2 E disse-me o Senhor: Esta porta ficará fechada, não se abrirá, nem entrará por ela homem algum; porque o Senhor Deus de Israel entrou por ela; por isso ficará fechada.    3 Somente o príncipe se assentará ali, para comer pão diante do Senhor; pelo caminho do vestíbulo da porta entrará, e por esse mesmo caminho saira,    4 Então me levou pelo caminho da porta do norte, diante do templo; e olhei, e eis que a glória do Senhor encheu o templo do Senhor; pelo que caí com o rosto em terra.   


MATINAS

Lucas 1:39-49, 56

     39 Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá,    40 entrou em casa de Zacarias e saudou a Isabel.    41 Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, saltou a criancinha no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo,    42 e exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!    43 E donde me provém isto, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?    44 Pois logo que me soou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria dentro de mim.    45 Bem-aventurada aquela que creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.    46 Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,    47 e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador;    48 porque atentou na condição humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada,    49 porque o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome.    56 E Maria ficou com ela cerca de três meses; e depois voltou para sua casa.   


COMENTÁRIO

Isabel e João Batista, movidos pelo Espírito Santo, são os primeiros seres humanos a prestar veneração à Santa Mãe de Deus. Eles representam todos os santos da Antiga Aliança que saúdam a chegada da Nova Eva, cumprindo-se a antiga promessa ao gênero humano decaído. A narrativa fala que a voz da Virgem provocou grande júbilo espiritual em Isabel e no Precursor ainda fetal. À maneira dos profetas do Velho Testamento, o Espírito Santo leva Isabel a profetizar acerca da Virgem: 
1.     Primeiramente usa - em relação à Virgem - a fórmula introdutória dos louvores em Israel: “Bendita és tu...”,igualmente também se dirige à Criança: “Bendito é o Fruto do teu ventre”; Enche de humildade o profeta diante do que lhe é inefável, assim, Isabel diz: “Quem sou eu para que me visite a Mãe do meu Senhor?”; Faz com que profetize acerca do que não entende. Isabel sem entender como o mortal poderia gerar o Eterno; Louva Àquela que Deus santificou: “Bem aventurada aquela que creu...”. 
2.     Em contrapartida, à semelhança dos coros que se alternavam nos ofícios levíticos, o Espírito Santo toma a boca de Maria, que também profetiza: Louvando o Soberano Deus pela Graça e Salvação que lhe  concedeu, sendo ela uma humilde serva e; Anunciando a veneração que doravante todas as gerações lhe prestariam. 
3.  A maioria dos Protestantes não consegue enxergar este sentido do texto, porque são despossuídos de uma mente litúrgica. Como sua experiência se centraliza e se apoia unicamente na razão discursiva, reduz a expressão “Bem Aventurada” aplicada à Virgem a uma simples declaração sobre o estado de sua alma, ignorando completamente toda a cultura litúrgica que permeava a sociedade judaica e, em particular, desconsiderando o ambiente doméstico de Isabel: o Templo de Deus, pois era esposa do Sumo Sacerdote Zacarias. 
Tal abordagem assemelha-se as visões que um lenhador e um botânico exaurem de uma floresta: ambos, conforme a peculiaridade de cada um, só enxergam as suas utilidades, mas não conseguem exaurir sua alma, como faz um artista. 

Este reducionismo não atinge somente à Santa Virgem, mas, também, ao próprio Cristo, o Senhor; pois se a fórmula “Bendita, Bem Aventurada” for despida do seu sentido cúltico e reduzida a uma mera afirmação, isto significa que Isabel e o fetal João Batista, também não cultuaram e nem prestaram reverência ao Menino-Deus quando afirmaram: “Bendito o Fruto do Teu ventre”. 

A partir da visita de Maria a Isabel, a Igreja entende que foi o próprio Espírito Santo que inaugurou e instituiu os louvores e a veneração da Igreja à Santa Mãe de Deus. 

Pe. Mateus (Antonio Eça)

                                                                        

LITURGIA

Hebreus 9:1-7

     1 Ora, também o primeiro pacto tinha ordenanças de serviço sagrado, e um santuário terrestre.    2 Pois foi preparada uma tenda, a primeira, na qual estavam o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; a essa se chama o santo lugar;    3 mas depois do segundo véu estava a tenda que se chama o santo dos santos,    4 que tinha o incensário de ouro, e a arca do pacto, toda coberta de ouro em redor; na qual estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha brotado, e as tábuas do pacto;    5 e sobre a arca os querubins da glória, que cobriam o propiciatório; das quais coisas não falaremos agora particularmente.    6 Ora, estando estas coisas assim preparadas, entram continuamente na primeira tenda os sacerdotes, celebrando os serviços sagrados;    7 mas na segunda só o sumo sacerdote, uma vez por ano, não sem sangue, o qual ele oferece por si mesmo e pelos erros do povo;   

Lucas 10:38-42; 11:27-28

     38 Ora, quando iam de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa.    39 Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra.    40 Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.    41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas;    42 entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.    27 Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste.    28 Mas ele respondeu: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a observam.   


COMENTÁRIO


“ESSE É MEU IRMÃO, MINHA IRMÃ E MINHA MÃE”

São Lucas apresenta Maria, Mãe de Jesus, o maior modelo de bem-aventurança a partir da contraposição de Cristo à exaltação que uma mulher entre a multidão faz de Sua Mãe. Longe de negar a bem-aventurança de Sua Mãe – antes a enaltece por inferência – Cristo corrige a distorção da percepção dessa mulher que entende que o privilégio de gerar a Cristo estava dissociado da fé que habitava na Santa Virgem. O seu ventre só pode abrigar Verbo da Vida e os seus seios O amamentar por causa de sua disposição em dizer “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim a sua palavra” (Lc. 1:38); porque guardava no seu coração os desígnios de Deus (Lc. 2:19, 51), mesmo que estes lhe reservassem uma espada que traspasse sua alma (Lc. 2:35). Sendo, assim, ninguém melhor do Maria se torna modelo dos que gozam de bem-aventurança por ouvir a palavra de Deus, e a observar. 
A advertência de Jesus serve para orientar a Igreja quanto ao verdadeiro espírito da devoção à Sua Mãe e a vivência dos Divinos mistérios. Venerar a Virgem por uma disposição meramente romântica e da emoção que existe quando estamos diante da meiguice e da ternura, não nos conduz, por si só, à salvação. Isto seria reduzir o Divino à categoria do idolátrico. Os ídolos nos comovem na medida em que representam nossas emoções e dos anseios que projetamos; ao passo que o Divino nos arremete para dimensões onde toda a ciência, sabedoria e capacidade de verbalizar humanas cessam, restando-nos nada mais que o silêncio. 
Por isto na Igreja Ortodoxa não existe “Mariologia”, devoção ao coração de Maria ou grupos organizados para este fim. Tudo que diz respeito à Santa Mãe de Deus está contido no Mistério de Cristo, cuja manifestação terrena é indissociável de Sua Mãe, posto que é unicamente dela que Ele herda a carne humana. Assim, o seu genoma é o de Maria, suas características físicas e psicológicas dela são herdadas, e o sangue vertido na Cruz, dela foi recebido. Por isto, seus últimos cuidados de vida, mesmo na dor dilacerante da crucifixão, são dedicados para ela (João 19:26,27). 

Entender que este episódio se constitui um despojamento de conteúdo da devoção à Virgem, seria entender que o texto do Evangelho de Lucas foi elaborado contraditoriamente pelo Evangelista. Seria um contrassenso de São Lucas, depois de tanto empenho em apresentar narrativas peculiares ao nascimento de Cristo e à Sua infância que fazem ressaltar a exaltação da Virgem: A reverência e as palavras de graça que um dos mais sublimes Arcanjos dirige a Maria, o cântico e o júbilo proféticos que irrompem dos lábios de Isabel e do fetal João Batista, além do cântico da própria Maria e das profecias do velho Simeão. Toda beleza e esplendor destas narrativas cairiam por terra se Jesus em sua observação à palavra da anônima mulher objetivasse despir sua Mãe de veneração. 

Na verdade esta palavra antitética de Cristo se insere, dentro do contexto do Evangelho de Lucas, numa característica de Cristo em apresentar os mistérios de Deus em relação a consortes que a Deus ou aos Seus mistérios se assemelham por contradição, como, por exemplo, nas parábolas do Administrador Infiel (16:1-9), do Amigo Inoportuno (11:5-8) e do Juiz Iníquo (18:1-8).


Pe. Mateus (Antonio Eça)
 

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