Comentário do Artigo "Maria, Outra Redentora?" de James R. White
Publicado em Internautas Cristãos
O III Concílio Ecumênico usa o termo "Theotokos" - aplicado a Maria - numa perspectiva Cristológica, como parcialmente percebe o Autor deste artigo; porém se equivoca quando analisa a expressão "Mãe de Deus" como inadequada e imprópria. Maria é chamada "Mãe de Deus" porque, primeiramente, é assim que o Espírito Santo a designa nas Sagradas Escrituras (Lc 1:41-43). Isabel, CHEIA DO ESPÍRITO SANTO, a chama de "MÃE DO MEU SENHOR". "Cristo é o SENHOR" foi o primeiro Credo da Igreja (1 Cor. 12:3), escandalizando os judeus, cujo raciocínio teológico os levava a crer que fazer de um homem Deus era simplesmente uma blasfêmia inaceitável.
Mas Cristo embaraçou o raciocínio dos teólogos judeus, exatamente com o argumento da encarnação do Messias:
"E, estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, Dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi. Disse-lhes ele: Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho? E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo" (Mateus 22:41-46).
Visita de Maria a Isabel |
Contudo, apesar da clareza das Escrituras, ainda existem pessoas que dizem que o termo "Senhor", ainda que sendo o mesmo vocábulo, na fala de Isabel não quer dizer "Deus".
Esta preciosidade de lógica assim raciocina:
Quando o Espírito Santo por Davi diz que o Filho é o Senhor, Ele o está chamando de Deus;
Quando os Apóstolos pelo mesmo Espírito chamam Cristo de Senhor, o está chamando de Deus;
Mas, que quando Isabel pelo mesmo Espírito diz "Mãe do meu Senhor", não está dizendo que ela é mãe de Deus.
Acho que muito mais do que uma lógica exegética, os que assim elocubram, precisam mesmo é de honestidade em suas falas e temerem a Deus, pois, se o termo "Senhor" na boca de Isabel não quer dizer Deus, então os que assim interpretam, negam, subsequentemente, a Divindade da Criança que Maria trazia em seu ventre. Assusta-me ver até onde as passionalidades podem nos levar.
Transmissão genômica |
Em segundo lugar, a expressão "Mãe de Deus é pertinente" porque Maria fornece seus genes
(como oblação) para que o Verbo Eterno (que não possuía carne) pudesse ter uma
existência biológica. É uma epiclesis eucarística, pois o Espírito Santo
fecunda a sua carne.
"Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra". (Lucas 1:38)".
Maria, a Segunda Eva, a Mulher Vestida do Sol que vence o Dragão, a antiga Serpente |
Abraão hospedando a Santíssima Trindade (Gn 18) |
O Autor teme que a exaltação da Virgem a coloque numa
condição quase divina e, assim, “roube” a glória de Deus. Ora, o objetivo da
nossa redenção é nos fazer chegar à estatura de Cristo (Ef. 4:13), a nos fazer
ontologicamente totalmente iguais a Ele (Rm. 8:29), ou seja, alcançarmos a
nossa deificação ao entrarmos em plena comunhão com a Santíssima Trindade (João
17:1-3, 20-24).
Esta deificação é prefigurada já na Antiga Aliança, conforme esclarece o próprio Cristo, que diz que aqueles que entraram em contato com Ele em teofanias do Velho testamento foram chamados de “deuses”(Sl 82:6; João 10:34,35). Ora, se àqueles que apenas de longe entraram em contato direto com o Verbo Eterno lhes coube apropriadamente serem chamados de “deuses” (elohim) quanto mais àquela que se tornou simbiótica em seu ser com o Eterno, gerando-lhe a existência biológica, cabe o título “Mãe (genitora) de Deus”?
Esta deificação é prefigurada já na Antiga Aliança, conforme esclarece o próprio Cristo, que diz que aqueles que entraram em contato com Ele em teofanias do Velho testamento foram chamados de “deuses”(Sl 82:6; João 10:34,35). Ora, se àqueles que apenas de longe entraram em contato direto com o Verbo Eterno lhes coube apropriadamente serem chamados de “deuses” (elohim) quanto mais àquela que se tornou simbiótica em seu ser com o Eterno, gerando-lhe a existência biológica, cabe o título “Mãe (genitora) de Deus”?
Criação de Adão e Eva |
A Escada de Jacó |
Assim, Maria, não só prefigura - como os Profetas da Antiga
Aliança - a união hipostática da criatura humana com o Criador, mas nela a
Graça vai mais além: Maria se torna a antecipação escatológica (antecipa no
tempo) esta realidade última da humanidade redimida. Por isto o Anjo a
reverencia dizendo:
“Rejubila-te, ó portadora de graça inefável" (κεχαριτωμενη -
Lucas 1:28).
No ventre da Virgem se cumpre a visão da “Escada de Jacó”. Deus
desce ao humano, mas também o humano se eleva ao Divino, ou seja, o mistério da
Encarnação. Por isto disse Santo Irineu (discípulo do Apóstolo João):
“Deus se fez carne para que o homem se tornasse deus”
(Contra as Heresias).
Como a primeira a provar tal realidade (que será realidade
em todos), Maria ocupa a primazia, portanto lugar de honra na galeria dos que
venceram pela fé, da grande nuvem de testemunha que nos cerca, aquela que todas
as gerações louvariam como sendo a mais digna (Lc 1:48) a começar pelo Arcanjo
(Lc 1:28) seguido por Isabel e João Batista (Lc 1:41-43). São João, na visão
apocalíptica a vê exaltada sobre toda a Criação (Ap. 12:1-2).
Maria gera (não cria) o Filho de Deus, assim como também o Pai na eternidade gerou (não criou) o Seu Filho. Se o Autor entende que o termo “mãe” é
inadequado porque confere a Maria existência anterior a Cristo, então a Bíblia
estaria errada em usar os termos “Pai" e “Filho” para as duas Pessoas da
Santíssima Trindade porque sugerem que Um é Criador e o Outro criatura. No entanto,
o Pai “gera” (não cria) o Filho. Assim, os termos “Pai de Jesus Cristo” e “Mãe
do Senhor” exprimem relação de existência e não de pré-existência.
Portanto, assim como não devemos deixar de exaltar a leitura
das Sagradas Escrituras por medo dos que a distorcem e dão uma conotação mágica
à sua leitura, também não devemos, por medo da idolatria, deixar de exaltar
devidamente Àquela a qual Deus exaltou e em tudo lhe deu a primazia (exceto
sobre Cristo, é claro).
Exaltar a Santa Virgem não rouba em nada a glória devida a
Deus, antes a estabelece, porque Deus, que é glorificado em seus santos (2 Tes.
1:10), receberá eterna glorificação por toda glória que Ele nos confere (Ap. 4:8-11).
Glória a Deus que conferiu à Sua humilde serva graça tão
indizível (Lc 1:49).
"Ouve, ó filha, e vê, inclina os teus ouvidos; esquece-te do teu povo e da casa do teu pai, Pois o rei se afeiçoou da tua formosura, Ele é teu Senhor. A filha de Tiro o adorará e os ricos do povo suplicarão o teu favor. A tua glória é como a da filha do rei de Esebon; o teu vestido é entretecido de ouro. Levar-te-ão ao rei com vestidos bordados; virgens para o teu cortejo se trarão a ti. Com alegria e regozijo as trarão; elas entrarão no palácio do rei. Em lugar de teus pais estarão teus filhos; deles farás príncipes sobre toda a terra. Farei lembrado o teu nome de geração em geração; por isso os povos te louvarão eternamente".
Salmos 44(45):10-17