sábado, 28 de julho de 2007

Dar fruto, liberto dos cuidados do mundo

Avança com simplicidade pelos caminhos do Senhor e não te preocupes. Detesta os teus defeitos, sim, mas com tranquilidade, sem agitação nem inquietude. É preciso usar de paciência em relação a eles e deles tirar proveito, graças a uma santa humildade. Se faltar a paciência, as tuas imperfeições, em vez de desaparecerem, apenas crescerão. Porque não há nada que reforce tanto os nossos defeitos como a inquetação e a obsessão para deles nos desembaraçarmos. Cultiva a tua vinha em comum acordo com Jesus. A ti cabe a tarefa de retirar as pedras e arrancar os espinhos. A Jesus, a de semear, plantar, cultivar e regar. Mas, mesmo no teu trabalho, é também Ele quem age. Porque, sem Cristo, não poderias fazer nada.
Fonte: Evangelho Cotidiano

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Roma e a Igreja Católica (I)

A divulgação da Declaração "Resposta a Questões Relativas a Alguns Aspectos da Doutrina Sobre a Igreja" de autoria da "Congregação Para a Doutrina da Fé" da Igreja Romano-Católica, foi acolhida e divulgada pela imprensa em tons distorcidos e (quem sabe?), talvez, até sob a expectativa de um tiroteio entre as comunidades cristãs. Equívocos, porque a rigor, o Vaticano em momento algum afirma ser a Igreja de Roma a "única igreja verdadeira" como alguns querem compreender. Ela fala em "subsistência", mas, não em verdade, ao contrário, o texto afirma categoricamente:
"...segundo a doutrina católica, é correcto afirmar que, nas Igrejas e nas comunidades eclesiais ainda não em plena comunhão com a Igreja católica, a Igreja de Cristo é presente e operante através dos elementos de santificação e de verdade nelas existentes..."
No entanto, a afirmativa posterior a esta é de que a igreja católica subsiste plenamente nas Igrejas sob a chefia de Roma; isto por causa da tradição romana (porém, não católica) de ser o Papa Romano (posto que na Igreja Católica outros bispos também são chamados de Papa) a Cabeça Visível da Igreja e fonte da unidade visível da Igreja de Cristo. Neste mesmo documento, o Vaticano reconhece a legitimidade da Igreja Ortodoxa, admite a existência de laços estreitíssimos entre as duas igrejas e as chamas de irmãs, com a ressalva de que existe uma situação lacunosa pelo fato das Igrejas Ortodoxas não aceitarem a doutrina da chefia do Papa Romano. A dimensão realmente mais desconfortável fica por conta da concepção em relação às comunidades da Reforma, posto que nelas estejam ausentes vários e basilares elementos que caracterizam a identidade católica, mesmo assim, o documento reconhece que o Espírito Santo utiliza-se destas comunidades como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja católica.
A maioria da população (inclusive muitos líderes de igreja) não leu o texto do Vaticano e absorveu a notícia (veiculada sem dar voz à Roma) permitindo que cada um a entendesse do seu modo e bel-prazer.
A rigor, também, nós Ortodoxos não somos compreendidos perfeitamente, quando afirmamos - por razões teológicas e históricas - ser a Ortodoxia a autêntica fé pregada por Cristo, transmitida pelos Apóstolos e preservada incólume (sem adições e nem subtrações) ao longo de todos os séculos, em legítima e inquestionável sucessão apostólica.
O que é lacunosa, na verdade é a compreensão que muitos católicos romanos têm da identidade de sua igreja. Todos pensam que em toda a parte do mundo a igreja católica romana é uma instituição monolítica, ou seja, que em todos os povos se celebra o mesmo rito, mantêm-se as mesmas tradições e disciplinas que os católicos romanos estão acostumados a ver no Brasil. Na verdade, a Igreja Católica Romana é a maior e a líder de um conjunto de 23 igrejas autônomas (igrejas que se autogovernam - sem a interferência direta do bispo de Roma, onde os sacerdotes podem casar, os féis participam do pão e do vinho, em vez de hóstia come-se o pão com fermento, ao invés de imagens de escultura usam ícones, os clérigos usam barba e etc...). De fato estas igrejas têm a cara da Igreja Ortodoxa, mas estão ligadas a Roma muito mais por razões históricas do que teológicas. É bom lembrar também que a própria Roma por quase mil anos seguia estas mesmas tradições e disciplinas.
Num mundo fragmentado como este que vivemos o diálogo ecumênico se faz mais do que necessário. Todavia o diálogo não pode e nem deve ser um ato teatral e meramente diplomático. É preciso que este diálogo trafegue pela via de um espírito fraterno, respeitoso e ao mesmo tempo claro e preciso (sem ambigüidades e ambivalências de palavras e gestos).
Acredito que o documento do Vaticano é inadequado ao ecumenismo das fotos e das cerimônias públicas e dos gestos externos de deferência e sorrisos largos. No entanto, ele é extremamente útil ao diálogo honesto, onde a consciência de si não é negada e nem mascarada, pois, somente o Espírito da Verdade, procedente do Pai e a nós enviado pelo Filho, pode gerar a consciência comum. Por esta razão, a Liturgia Bizantina - de forma insistente e incessante - inicia-se com as seguintes petições:
Diác. - Em Paz, oremos ao Senhor.
Coro - Kyrie, eléison! (Senhor, tem piedade)
Diác. - Para que ele nos conceda a Paz celeste e a salvação de nossas almas, oremos ao Senhor.
Coro – Kyrie, eléison. (Senhor, tem piedade)
Diác. - Para que reine a Paz no Universo, pela prosperidade das Santas Igrejas de Deus e pela união de todos, oremos ao Senhor.
Diác. - Kyrie, eléison! (Senhor, tem piedade)

quinta-feira, 19 de julho de 2007

As diferenças entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Romana






As Igrejas ortodoxas e a Igreja de Roma formaram durante os primeiros mil anos do cristianismo uma única comunhão eclesiástica, ou seja, uma só Igreja. Esta é a razão pela qual existem muitas coisas parecidas entre as duas, contudo, esta “semelhança” é apenas aparente, tal como as grafias de alguns termos do idioma espanhol e do português, no entanto, com significados distintos. 
Assim é entre Ortodoxia e Romano-Catolicismo: quando falamos por exemplo da Santíssima Trindade, da Santa Tradição, dos Sacramentos e da Hierarquia Eclesiástica, usamos termos comuns, porém, em alguns casos, com significações profundamente distintas e opostas entre si. 
Isto acontece porque ao longo dos primeiros mil anos, a Igreja de Roma foi resignificando os termos teológicos e suas representações devido a fatores culturais e políticos, o que levou Roma a seguir um caminho próprio e distinto de suas irmãs. Esta jornada solitária gerou um fosso entre Roma e as demais Igrejas e o cisma se tornou inevitável. 
A jornada solitária e isolada de Roma a levou a pensar o mundo e a Fé de modo particular, de maneira que aquela que hoje conhecemos como Igreja Católica Apostólica Romana tem muito pouco da Igreja de Roma do primeiro milênio. 
Na época do Movimento de Reforma Protestante, Roma já era uma pálida  expressão do seu passado Ortodoxo; e o Ocidente cristão ignorava completamente suas raízes Ortodoxas e Orientais.

A diferença fundamental é a questão da infalibilidade papal e a reivindicação de supremacia universal da Sé de Roma, o que a Igreja Ortodoxa não admite, pois ferem frontalmente a Sagrada Escritura e a Santa Tradição.
 Existem, ainda, outras distinções, abaixo relacionadas em dois grupos básicos:

a) diferenças gerais; e
b) diferenças especiais.

Para termos uma ideia dessas diferenças, vejamos o seguinte esquema, de cuja leitura se infere uma possibilidade de superação, quando pairar acima das paixões o espírito de fraternidade que anima o trabalho dos verdadeiros cristãos.


DIFERENÇAS GERAIS:


São dogmáticas, litúrgicas e disciplinares.

A Igreja Ortodoxa só admite sete Concílios, enquanto a Romana adota vinte.

A Igreja Ortodoxa ensina que o Espírito Santo procede unicamente do Pai, conforme afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano, e não do Pai e do Filho, conforme o ensino da Igreja Romana, que resolveu no ano de 1014 dC aceitar a modificação imposta pelo Imperador Carlos Magno no Séc. IX, adulterando assim o texto do Credo e, principalmente, a noção da Ontologia Trinitária.

A Sagrada Escritura e a Santa Tradição tem o mesmo valor como fonte de Revelação, segundo a Igreja Ortodoxa, pois na Bíblia se tem o ensinamento Divino e, na Tradição a correta interpretação, ambas fruto do Sopro de Deus, o Espírito Santo. A Romana, no entanto, considera a Tradição mais importante que a Sagrada Escritura.

A consagração do pão e do vinho, durante a missa, no Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, efetua-se pelo Prefácio, Palavra do Senhor e Epíclese, e não pelas expressões proferidas por Cristo na Última Ceia, como ensina a Igreja Romana.

Em nenhuma circunstância, a Igreja Ortodoxa admite a infalibilidade do Bispo de Roma. Considera a infalibilidade uma prerrogativa de toda a Igreja e não de uma só pessoa.

A Igreja Ortodoxa entende que as decisões de um Concílio Ecumênico são superiores às decisões do Papa de Roma ou de quaisquer hierarcas eclesiásticos.

A Igreja Ortodoxa não concorda com a supremacia universal do direito do Bispo de Roma sobre toda a Igreja Cristã, pois considera todos os bispos iguais. Somente reconhece uma primazia de honra ou uma supremacia de facto (primus inter pares).

A Virgem Maria, igual às demais criaturas, foi concebida em estado de pecado ancestral. A Igreja Romana, por definição do papa Pio IX, no ano de 1854, proclamou como "dogma" de fé a Imaculada Concepção.

A Igreja Ortodoxa nega a existência do limbo e do purgatório.

A Igreja Ortodoxa não admite a existência de um Juízo Particular para apreciar o destino das almas, logo após a morte, mas um só Juízo Universal.

O Sacramento da Santa Unção pode ser ministrado várias vezes aos fiéis em caso de enfermidade corporal ou espiritual, e não somente nos momentos de agonia ou perigo de morte, como é praticado na Igreja Romana.

Na Igreja Ortodoxa, o ministro habitual do Sacramento do Crisma é o Padre; na Igreja Romana, o Bispo, e só extraordinariamente, o Padre.

A Igreja Ortodoxa não admite a existência de indulgências.

No Sacramento do Matrimónio, o Ministro é o Padre e não os contraentes.

Em casos excepcionais, ou por graves razões, a Igreja Ortodoxa acolhe a solução do divórcio admitindo um segundo ou terceiro casamento penitencial.

São distintas as concepções teológicas sobre religião, Igreja, Encarnação, Graça, imagens, escatologia, Sacramentos, culto dos Santos, infalibilidade, Estado religioso...



DIFERENÇAS ESPECIAIS:


Além disso, subsistem algumas diferenças disciplinares ou litúrgicas que não transferem dogma à doutrina. São, nomeadamente, as seguintes:

1- Nos templos da Igreja Ortodoxa só se permitem ícones.
2- Os sacerdotes ortodoxos podem optar livremente entre o celibato e o casamento.
3- O batismo é por imersão.
4- No Sacrifício Eucarístico, na Igreja Ortodoxa, usa-se pão com levedura; na Romana, sem levedura.
5- Os calendários ortodoxo e romano são diferentes, especialmente, quanto à Páscoa da Ressurreição.
6- A comunhão dos fiéis é efetuada com pão e vinho; na Romana, somente com pão.
7- Na Igreja Ortodoxa, não existem as devoções ao Sagrado Coração de Jesus, Corpus Christi, Via Crucis, Rosário, Cristo-Rei, Imaculado Coração de Maria e outras comemorações análogas.
8- O processo da canonização de um santo é diferente na Igreja Ortodoxa; nele, a maior parte do povo participa no reconhecimento do seu estado de santidade.
9- Existem, três ordens menores na Igreja Ortodoxa: leitor, acólito e sub-diácono; na Romana: ostiário, leitor e acólito.
10- O Santo Mirão (Crisma) e a Comunhão na Igreja Ortodoxa efetuam-se imediatamente após o Baptismo.
11- Na fórmula da absolvição dos pecados no Sacramento da Confissão, o sacerdote ortodoxo absolve não em seu próprio nome, mas em nome de Deus - "Deus te absolve de teus pecados"; na Romana, o sacerdote absolve em seu próprio nome, como representante de Deus - "Ego absolvo a peccatis tuis...."
12- A Ortodoxia não admite o poder temporal da Igreja; na Romana, é um dogma de fé tal doutrina.


Os Dez Mandamentos

A Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa conservou os dez mandamentos da Lei de Deus na sua forma original, sem a menor alteração. O mesmo não sucedeu com o texto adoptado pela Igreja Católica Apostólica Romana, no qual os dez mandamentos foram arbitrariamente alterados, tendo sido totalmente eliminado o segundo mandamento e o último dividido em duas partes, formando dois mandamentos distintos. Esta alteração da Verdade constitui um dos maiores erros teológicos desde que a Igreja Romana cindiu a união da Santa Igreja Ortodoxa no século XI. Esta modificação nos dez mandamentos, introduzidos pelos papas romanos, foi motivada pelo Renascimento das artes. Os célebres escultores daquela época tiveram um amplo leque de atividades artísticas, originando obras de grande valor. Não obstante, as esculturas representando Deus, a Santíssima Virgem Maria, os santos e os anjos estavam em completo desacordo com o segundo mandamento de Deus. Havia, pois, duas alternativas, ou impedir a criação de estátuas ou suprimir o segundo mandamento. Os papas escolheram esta última solução, caindo em grave erro.

A Espiritualidade do Oriente Cristão



As populações que habitam em nosso país – mesmo aquelas que vivem na região sul – não conseguem nomear o pingo da neve por outro termo que lhe seja sinônimo. Neve é neve. No entanto, a civilização esquimó poderá com facilidade utilizar 52 vocábulos para se referir ao pingo da neve (posto que, conforme observação científica, cada pingo de neve tem formato único, não se repete jamais). O fator que proporciona tal fenômeno semântico da percepção generalizada ou detalhada é exatamente o do grau de familiaridade do observador com o fenômeno.
Da mesma forma o cristão ocidental é acostumado a assimilar o cristianismo histórico como sendo uma realidade bipolar entre católicos romanos e protestantes. Ao se deparar com a espiritualidade do oriente cristão de uma forma superficial, ele não conseguirá fazer distinções entre as tradições de Roma e Constantinopla (centro histórico da espiritualidade Ortodoxa). Assim como em idiomas de origem latina (por exemplo, o português e o espanhol) onde algumas palavras cujas grafias e fonemas são idênticas, contudo possuindo significados diferentes; também, símbolos e termos teológicos comuns a ambas as tradições (orientais e ocidentais) possuem compreensões e aplicações bem distintas. Em outras palavras, para o observador superficial ou desatento, Romanos e Ortodoxos representam o pingo da neve em terras brasileiras.
Portanto, será necessário para a compreensão da presente abordagem, esvaziar a mente dos tradicionais conceitos da simbologia ocidental, para que estes não venham obstacular a percepção da espiritualidade ortodoxa.
Diferentemente dos cristãos ocidentais (acostumados às definições e racionalizações teológicas) o oriente cristão pouco aplica o método científico ou o racionalismo para obter compreensão da fé. De natureza essencialmente contemplativa, o Oriente compreende a Teologia antes de tudo como uma vivência, muito mais do que uma ciência analítica; em outras palavras: a geografia da fé não se aprende através de livros técnicos ou de cartões postais, mas, através da experiência de se estar no local. O Oriente Cristão fala a partir da experiência que se vive como igreja no tempo e no espaço (tradição viva), usando tal realidade como principal instrumento de compreensão das revelações objetivas de Deus através dos Patriarcas, Profetas e, principal e centralmente através de Cristo; preservando a fé inabalável na presença real e inequívoca direção do Espírito Santo prometido, o qual – segundo a promessa Divina – guiaria a igreja em toda a verdade (João 16:13-15).