As
Igrejas ortodoxas e a Igreja de Roma formaram durante os primeiros mil anos do
cristianismo uma única comunhão eclesiástica, ou seja, uma só Igreja. Esta é a
razão pela qual existem muitas coisas parecidas entre as duas, contudo, esta
“semelhança” é apenas aparente, tal como as grafias de alguns termos do
idioma espanhol e do português, no entanto, com significados distintos.
Assim
é entre Ortodoxia e Romano-Catolicismo: quando falamos por exemplo da
Santíssima Trindade, da Santa Tradição, dos Sacramentos e da Hierarquia
Eclesiástica, usamos termos comuns, porém, em alguns casos, com significações profundamente distintas e
opostas entre si.
Isto
acontece porque ao longo dos primeiros mil anos, a Igreja de Roma foi
resignificando os termos teológicos e suas representações devido a fatores
culturais e políticos, o que levou Roma a seguir um caminho próprio e distinto
de suas irmãs. Esta jornada solitária gerou um fosso entre Roma e as demais
Igrejas e o cisma se tornou inevitável.
A
jornada solitária e isolada de Roma a levou a pensar o mundo e a Fé de modo particular, de maneira que aquela que hoje conhecemos como Igreja Católica
Apostólica Romana tem muito pouco da Igreja de Roma do primeiro milênio.
Na
época do Movimento de Reforma Protestante, Roma já era uma pálida
expressão do seu passado Ortodoxo; e o Ocidente cristão ignorava completamente
suas raízes Ortodoxas e Orientais.
A
diferença fundamental é a questão da infalibilidade papal e a reivindicação de supremacia universal da Sé de Roma, o que a Igreja Ortodoxa não admite,
pois ferem frontalmente a Sagrada Escritura e a Santa Tradição.
Existem, ainda,
outras distinções, abaixo relacionadas em dois grupos básicos:
a) diferenças gerais; e
b)
diferenças especiais.
Para
termos uma ideia dessas diferenças, vejamos o seguinte esquema, de cuja leitura
se infere uma possibilidade de superação, quando pairar acima das paixões o
espírito de fraternidade que anima o trabalho dos verdadeiros cristãos.
DIFERENÇAS
GERAIS:
São
dogmáticas, litúrgicas e disciplinares.
A
Igreja Ortodoxa só admite sete Concílios, enquanto a Romana adota vinte.
A
Igreja Ortodoxa ensina que o Espírito Santo procede unicamente do Pai, conforme
afirma o Credo Niceno-Constantinopolitano, e não do Pai e do Filho, conforme o
ensino da Igreja Romana, que resolveu no ano de 1014 dC aceitar a modificação
imposta pelo Imperador Carlos Magno no Séc. IX, adulterando assim o texto do
Credo e, principalmente, a noção da Ontologia Trinitária.
A
Sagrada Escritura e a Santa Tradição tem o mesmo valor como fonte de
Revelação, segundo a Igreja Ortodoxa, pois na Bíblia se tem o ensinamento Divino e, na Tradição a correta interpretação, ambas fruto do Sopro de Deus, o Espírito Santo. A Romana, no entanto, considera a
Tradição mais importante que a Sagrada Escritura.
A
consagração do pão e do vinho, durante a missa, no Corpo e no Sangue de Nosso
Senhor Jesus Cristo, efetua-se pelo Prefácio, Palavra do Senhor e Epíclese, e
não pelas expressões proferidas por Cristo na Última Ceia, como ensina a Igreja
Romana.
Em
nenhuma circunstância, a Igreja Ortodoxa admite a infalibilidade do Bispo de
Roma. Considera a infalibilidade uma prerrogativa de toda a Igreja e não de uma
só pessoa.
A
Igreja Ortodoxa entende que as decisões de um Concílio Ecumênico são superiores
às decisões do Papa de Roma ou de quaisquer hierarcas eclesiásticos.
A
Igreja Ortodoxa não concorda com a supremacia universal do direito do Bispo de
Roma sobre toda a Igreja Cristã, pois considera todos os bispos iguais. Somente
reconhece uma primazia de honra ou uma supremacia de facto (primus inter pares).
A
Virgem Maria, igual às demais criaturas, foi concebida em estado de pecado
ancestral. A Igreja Romana, por definição do papa Pio IX, no ano de 1854,
proclamou como "dogma" de fé a Imaculada Concepção.
A
Igreja Ortodoxa nega a existência do limbo e do purgatório.
A
Igreja Ortodoxa não admite a existência de um Juízo Particular para apreciar o
destino das almas, logo após a morte, mas um só Juízo Universal.
O
Sacramento da Santa Unção pode ser ministrado várias vezes aos fiéis em caso de
enfermidade corporal ou espiritual, e não somente nos momentos de agonia ou
perigo de morte, como é praticado na Igreja Romana.
Na
Igreja Ortodoxa, o ministro habitual do Sacramento do Crisma é o Padre; na
Igreja Romana, o Bispo, e só extraordinariamente, o Padre.
A
Igreja Ortodoxa não admite a existência de indulgências.
No
Sacramento do Matrimónio, o Ministro é o Padre e não os contraentes.
Em
casos excepcionais, ou por graves razões, a Igreja Ortodoxa acolhe a solução do
divórcio admitindo um segundo ou terceiro casamento penitencial.
São
distintas as concepções teológicas sobre religião, Igreja, Encarnação, Graça,
imagens, escatologia, Sacramentos, culto dos Santos, infalibilidade, Estado
religioso...
DIFERENÇAS
ESPECIAIS:
Além
disso, subsistem algumas diferenças disciplinares ou litúrgicas que não
transferem dogma à doutrina. São, nomeadamente, as seguintes:
1- Nos templos da Igreja Ortodoxa só se permitem ícones.
2- Os sacerdotes ortodoxos podem optar livremente entre o celibato e o
casamento.
3- O batismo é por imersão.
4- No Sacrifício Eucarístico, na Igreja Ortodoxa, usa-se pão com
levedura; na Romana, sem levedura.
5- Os calendários ortodoxo e romano são diferentes, especialmente,
quanto à Páscoa da Ressurreição.
6- A comunhão dos fiéis é efetuada com pão e vinho; na Romana, somente
com pão.
7- Na Igreja Ortodoxa, não existem as devoções ao Sagrado Coração de Jesus, Corpus Christi, Via Crucis, Rosário,
Cristo-Rei, Imaculado Coração de Maria e outras comemorações análogas.
8- O processo da canonização de um santo é diferente na Igreja Ortodoxa;
nele, a maior parte do povo participa no reconhecimento do seu estado de
santidade.
9- Existem, três ordens menores na Igreja Ortodoxa: leitor, acólito e
sub-diácono; na Romana: ostiário, leitor e acólito.
10- O Santo Mirão (Crisma) e a Comunhão na Igreja Ortodoxa efetuam-se
imediatamente após o Baptismo.
11- Na fórmula da absolvição dos pecados no Sacramento da Confissão, o
sacerdote ortodoxo absolve não em seu próprio nome, mas em nome de Deus - "Deus te absolve de teus pecados";
na Romana, o sacerdote absolve em seu próprio nome, como representante de Deus
- "Ego absolvo a peccatis
tuis...."
12- A Ortodoxia não admite o poder temporal da Igreja; na Romana, é um
dogma de fé tal doutrina.
Os
Dez Mandamentos
A Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa
conservou os dez mandamentos da Lei de Deus na sua forma original, sem a menor
alteração. O mesmo não sucedeu com o texto adoptado pela Igreja Católica
Apostólica Romana, no qual os dez mandamentos foram arbitrariamente alterados,
tendo sido totalmente eliminado o segundo mandamento e o último dividido em
duas partes, formando dois mandamentos distintos. Esta alteração da Verdade
constitui um dos maiores erros teológicos desde que a Igreja Romana cindiu a
união da Santa Igreja Ortodoxa no século XI. Esta modificação nos dez
mandamentos, introduzidos pelos papas romanos, foi motivada pelo Renascimento
das artes. Os célebres escultores daquela época tiveram um amplo leque de atividades
artísticas, originando obras de grande valor. Não obstante, as esculturas
representando Deus, a Santíssima Virgem Maria, os santos e os anjos estavam em
completo desacordo com o segundo mandamento de Deus. Havia, pois, duas
alternativas, ou impedir a criação de estátuas ou suprimir o segundo
mandamento. Os papas escolheram esta última solução, caindo em grave erro.