domingo, 20 de novembro de 2016

O Ensino Ortodoxo Sobre os Anjos



Anjos, Abençoados Mensageiros de Deus

Pelo Bispo Alexandre (Mileant)
Traduzido por Suzanna e Tatiana Boyko


Dois mundos: o Físico e o Espiritual

Nosso mundo estaria totalmente empobrecido em conteúdo se fosse constituido unicamente daquilo que podemos sentir e apalpar. Em um mundo assim concebido, sem passado e sem futuro, onde a morte vai ceifando todo empreendimento criativo, todo empenho para o bem e para a felicidade, a vida em si seria uma trágica contradição.

Entretanto, ao invés de se basear simplesmente nos sentidos do nosso corpo e ao fazer uso da razão e da espiritualidade, o homem pode alcançar muito mais percepção da profundidade e mistério que existem no mundo. Assim, ele poderá perceber que além do mundo físico ele está circundado por um imenso mundo espiritual. 

No final do século XIX e no início do século XX uma atitude materialista ridicularizou qualquer possibilidade de forma de vida diferente daquela que existe no nosso mundo. Entretanto, graças ao rápido progresso da ciência durante os últimos cinquenta anos, o homem moderno alargou consideravelmente o seu campo de entendimento. Agora é bem sabido que o universo que habitamos, apesar de vasto, ele não é infinito. A real representação do mundo tem sido imensamente espiritualizada. Os cientistas vieram a entender que a matéria não é dura, indivisível e imutável substância, mas uma das manifestações da energia. A energia pode tomar outras formas totalmente diferentes dos conhecidos átomos e moléculas.

Portanto, fora dos limites do mundo visível poderão existir outros mundos totalmente diferentes do nosso. Estas descobertas juntamente com os vôos espaciais, deram origem a uma grande e nova tendencia na literatura contemporânea e também na indústria cinematográfica que aborda encontros com seres de outras galáxias e outros mundos. Este interêsse com relação ao alienígena e do incomum, infelizmente costuma intervir com fantasias que não são saudáveis e que possuem um caráter semi-demoníaco. De qualquer forma está evidente a procura do homem moderno em direção ao alargamento dos conceitos sobre o mundo.

Ao invés das extravagâncias, das fantasias dos teósofos e espiritualistas, a fé cristã oferece ao homem contemporâneo uma doutrina precisa e saudável com relação ao mundo espiritual. A fé cristã nos ensina que, além do mundo físico existe um enorme mundo angelical. Os anjos, assim como os seres humanos, possuem intelecto, o livre arbítrio e sentimentos similares aos nossos, porém, eles são espíritos desprovidos de corpo. Na verdade o nosso mundo visível é tão somente uma gota no oceano da criação Divina.

A Natureza dos Anjos: Sua Hierarquia e Seus Serviços

Segundo as Sagradas Escrituras, os anjos, os seres humanos e toda a natureza foram criados por Deus. Nas palavras, "No princípio Deus criou o céu e a terra" (Gen.1:1), nós temos a primeira indicação de que Deus criou o mundo espiritual. Aqui, em contraste com a terra, o mundo da substância, este mundo dos espíritos é chamado Céu. Os anjos já estavam presentes durante a criação dos céus estrelados, o que está evidenciado nas palavras de Deus para Jó: 
"Quando as estrelas foram criadas, todos os Meus anjos entoaram cânticos de glorificação para Mim" (Jó 38:7).
Referindo-se à criação dos anjos, São Gregório o Teólogo expressa os pensamentos que seguem:
"Considerando que para a benevolência de Deus não era suficiente estar ocupado apenas com a contemplação de Si mesmo, era necessário que o bem se alastrasse cada vez mais, de forma que o número daqueles que recebessem a graça fosse o maior possível (porque esta é a característica da mais alta benevolência) - portanto, Deus planejou primeiramente o exército celeste dos anjos; e o pensamento se tornou dever, que foi completado pelo Verbo e tornado perfeito pelo Espírito... E como as primeiras criaturas agradaram-No, Ele planejou um outro mundo, material e visível, uma composição ordenada do céu e da terra e o que está entre eles."
Anjo no idioma grego significa "mensageiro". Este termo denota principalmente a sua relação para com o homem. Os anjos, como fossem nossos irmãos mais velhos, revelam a nós a vontade de Deus e assistem-nos para alcançarmos a salvação. O homem, desde o tempo do paraíso tinha conhecimento da existência dos anjos. Este fato está refletido nas muitas religiões antigas.

É difícil entendermos a vida dos anjos e o mundo onde vivem porque eles são muito diferentes de nós. É sabido que os anjos servem a Deus, levam a Sua mensagem e O glorificam. Como pertencem a um mundo espiritual normalmente são invisíveis para nós.
"Quando os anjos, através da vontade de Deus, aparecem aos justos, estes não os vêem na sua forma original mas transformados, tornados visíveis" - explica São João Damaceno. 
No conhecido livro de Tobias (Antigo Testamento), o anjo que acompanhou Tobias e o seu filho fala de si mesmo: 
"Vós me observáveis, eu não comia em realidade, mas em visão é que me julgáveis comer" (Tobias 12:19).
Segundo João Damaceno, 
"os anjos são chamados espirituais e não-corporeos quando comparados a nós. Na comparação com Deus tudo se torna grosseiro e material. Porque somente a Divindade é verdadeiramente não-material e não-corpórea.."
Anjos são superiores aos homens na força espiritual. Entretanto, mesmo estes, sendo seres criados, carregam em si a marca das limitações. Desprovidos de corpo, são menos dependentes que os homens no tempo e no espaço. Entretanto, somente Deus é onipotente e onisciente. As Sagradas Escrituras representam os anjos, ora descendo do céu para a terra ora ascendendo de volta para o céu. Anjos foram criados imortais, como testemunham as Escrituras, ensinando que os anjos não morrem: 
"E já não podem morrer outra vez, porque são iguais aos anjos e filhos de Deus, sendo participantes da Ressurreição" (Lucas 20:36). 
Mesmo assim, a sua imortalidade não é própria de sua natureza nem é incondicional, mas tal qual a imortalidade das nossas almas, depende inteiramente da vontade e da misericordia de Deus.

Como são desprovidos de corpo, os anjos são capazes de um autodesenvolvimento interior até um altíssimo nível. O seu intelecto é superior ao do homem. Pela sua força e poder, como explica o apóstolo Pedro, eles superam todas as autoridade terrenas e governos (2 Pedro 2:11). Não obstante os seus altos atributos eles tem seus limites. As Escrituras mostram que os anjos desconhecem a profundidade da essencia Divina, que é somente do conhecimento do Espírito de Deus (1 Corintios 2:11). Eles desconhecem o futuro, que é tão somente do conhecimento Divino (Marcos 13:32). Da mesma forma, eles não tem compreensão plena dos mistérios da redenção onde almejam penetrar (1 Pedro 1:12). Nem mesmo tem conhecimento dos pensamentos do homem (1 Reis 8:39). Finalmente, por eles mesmos eles não tem poder de fazer milagres sem a vontade de Deus.

Nas Sagradas Escrituras o mundo dos anjos é representado como extraordinariamente vasto. Quando o profeta Daniel viu Deus Pai, ele também viu que "milhares de milhares serviam-No e dez mil vezes dez mil se postaram diante Dele" (Daniel 7:10). Durante o nascimento de Jesus em Belém "de repente, ajuntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus" (Lucas 2:13).

São Cirilo de Jerusalém diz o seguinte:
"Imagine como é numerosa a população romana, imagine como são numerosas as tribos bárbaras que hoje existem e quantos deles morreram durante cem anos, imagine quantos foram enterrados durante mil anos, imagine todo o povo começando por Adão até o presente dia, existe uma grande multidão. Mesmo assim é ainda pequena quando comparada aos anjos, que são muitos mais! Eles são noventa as noventa e nove ovelhas da parábola enquanto que a humanidade é apenas uma ovelha. A terra inteira habitada por nós é como um ponto no céu e mesmo assim contem uma imensa multidão; que numerosa multidão existe no céu... Está escrito que milhares de milhares serviram-No, e dez mil vezes dez mil se postaram diante Dele, isto porque o profeta não soube expressar um número maior."
Considerando tamanha multidão de anjos, é evidente que supomos, como acontece no mundo material, há vários graus de perfeição e portanto, vários estágios de hierarquia das forças celestes. Assim, a palavra de Deus chama uns de Anjos e outros de Arcanjos (1 Tess. 4:16; Jud. verso 9).

A Igreja Ortodoxa, guiada pela orientação dos antigos escritores e Pais da Igreja, divide o mundo dos anjos em nove níveis de anjos e estes nove em tres hierarquias, cada uma delas tendo tres níveis. A hierarquia mais alta consiste daqueles que estão mais próximos a Deus que são, os Tronos, Querubins e Serafins. Na segunda hierarquia estão as Dominações, Poderes e Autoridades. Na terceira, que está mais próxima a nós, estão os Principados (Soberanias), Arcanjos e Anjos. Assim, a existência dos Anjos e Arcanjos é testemunhada por quase todas as páginas das Sagradas Escrituras. Os livros dos profetas fazem menção aos Querubins e Serafins. Os outros níveis são mencionados pelo Apóstolo Paulo na sua epístola aos Efésios, dizendo que Cristo nos céus está "acima de todo Principado, Poder, Virtude, Dominação e acima de todas e qualquer outra dignidade que possa existir neste mundo ou no mundo que há de vir" (Efésios 1:21).

Além dos níveis angelicais, São Paulo nas epístolas aos Colossenses nos ensina que o Filho de Deus criou tudo, o visível e o invisível, "Tronos, Autoridades, Soberanias, Poderes" (Col. 1:16). Consequentemente quando juntamos os Tronos aos outros quatro sobre os quais o Apóstolo fala aos Efésios, (Soberanias, Autoridades, Poderes e Dominação) completam-se cinco níveis; e a estes adicionamos "Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins", aí temos nove níveis.

Além do mais, alguns Pais da Igreja são de opinião que dividindo-se os anjos em nove categorias, isto concerne apenas aqueles nomes que nos são revelados pela palavra de Deus e não englobam outros nomes de categorias que ainda não foram reveladas. Por exemplo o apóstolo João, o Teólogo menciona no livro da Revelação criaturas misteriosas e os sete espíritos junto ao trono de Deus:
"A vós, graça e paz da parte daquele que é, que era e que vem, da parte dos Sete Espíritos que estão diante do seu Trono" (Apocalipse 1:4).
O Apóstolo Paulo na sua epístola aos Efésios escreve que Cristo habita no céu muito além dos anjos enumerados e "todo nome que é chamado, não tão somente neste tempo mas também no tempo que virá." Assim ele insinua que no Céu existem outras criaturas espirituais cujos nomes ainda não foram revelados à humanidade.

Nas Sagradas Escrituras alguns anjos são chamados pelos seus nomes próprios. Por exemplo o profeta Daniel, o apóstolo Judas e livro da Revelação mencionam o Arcanjo Miguel (Josué 5:13, Daniel 10:13 e 12:1) Judas verso 9, Revelação 12:7-8). O nome Miguel em hebraico significa "Aquele que é como Deus". Nas Sagradas Escrituras ele é mencionado com o exército de Deus e é descrito como o principal lutador contra o diabo e seus servos. Costuma-se representá-lo segurando uma espada flamejante. O nome Gabriel significa "Força de Deus". Tanto o profeta Daniel como o evangelista Lucas mencionam Gabriel (Daniel 8:16, 9:21; Lucas 1:19-26). Nas Sagradas Escrituras ele é representado como mensageiro dos mistérios de Deus. Nos ícones ele é pintado com um lírio na mão. As Sagradas Escrituras mencionam pelo nome mais três anjos: Rafael - "Socorro de Deus", Uriel - "Fogo de Deus" e Salatiel - "Aquele que Ora a Deus" (Tobias 3:16 e 12:12-15; 3 Esdras 4:1 e 5:20; Esdras 5:16).

A quê são designados os seres do mundo espiritual? Certamente eles são designados por Deus a refletir o mais perfeito reflexo de Sua magnitude e glória com a inseparável participação na Sua Graça. Se, sobre o céu visível é dito, "os céus proclamam a glória de Deus" tanto mais é o objetivo do mundo espiritual. O profeta Isaías teve a graça de vislumbrar "o Senhor sobre um elevado Trono, Seu manto enchia o santuário; serafins mantinham-se sobre ele, tendo cada um seis asas; duas para cobrir a Face, duas para cobrir os pés; e duas para voar. E clamavam uns aos outros, dizendo: 'Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos'. Sua Glória enche toda a terra." Isaias 6:1-4; Ezequiel cap. 10).


Anjos Decadentes



Deus criou todos os anjos como seres celestes benevolentes. Entretanto, como os humanos, foram seres dotados de livre arbítrio, poderiam fazer a escolha entre obedecer ou se opor a Deus, optar pelo bem ou pelo mau. Alguns deles, liderados por Lúcifer, um dos mais próximos de Deus, usou de sua liberdade e se rebelou contra Deus. Eles foram expulsos do céu e estabeleceram o seu próprio reino - o inferno. Lúcifer, que significa portador da luz foi renomeado para Satã, que significa antagônico. Ele também é chamado diabo (que significa caluniador), a serpente, e o dragão. As palavras do Salvador, "Eu vi Satã, descaído do céu como um dardo de relâmpago," se referem ao fato pré-histórico, a rebelião de Lúcifer e os outros anjos contra Deus. Isto é descrito no livro da Revelação com os seguintes detalhes:
"Houve uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o dragão. O Dragão e seus anjos combateram, mas não conseguiram vencer. Nem se encontrou mais o seu lugar no céu. O Grande Dragão, antiga serpente, chamado Diabo e Satanás, o sedutor do mundo inteiro, foi derrubado e seus anjos foram atirados com ele na terra" (Apocalipse 12:4).
Das palavras iniciais do capitulo 12 do livro da Revelação, onde é dito que o dragão seduziu um terço das estrelas no céu, alguns concluem que neste tempo Lúcifer seduziu um terço dos anjos existentes. Estes anjos descaídos são chamados demônios.

Tornando-se malévolos, os anjos decadentes tentam seduzir os homens ao caminho do pecado e assim levá-los à perdição. É estranho notar que os anjos decadentes temem o reino por eles criado, o inferno ou o abismo. De fato, quando Jesus Cristo Salvador curou o homem possesso pelos demônios e quis mandá-los de volta ao inferno eles imploraram para entrar no rebanho de porcos (Lucas 8:31). O Salvador chama o demônio de "assassino desde o início e o pai das mentiras" tendo-se em mente aquele momento no qual tomando a forma de serpente ele enganou os nossos antecessores Adão e Eva para que quebrassem o mandamento de Deus e com isto privando-os da vida eterna (Gênesis 3:1-6; João 8:44). 

A partir deste momento - ganhando poder para influenciar pensamentos, sentimentos e atos dos homens - o diabo e seus demônios almejam mover os homens cada vez mais fundo em direção ao atoleiro do pecado no qual eles mesmos se afogaram:
"Aquele que peca vem do diabo, porque o diabo ele mesmo pecou primeiro.... "Todo aquele que comete um pecado é um escravo do pecado" (1 João 3:8; João 8:34).
A presença do dos maus espíritos entre nós apresenta um constante perigo. Por isso que o Apóstolo Pedro conclama-nos:
"Sejam sóbrios e alertas, porque o vosso inimigo, como um leão que ruge, está à procura de alguém para devorar" (1 Pedro 5:8).
Similarmente o Apóstolo Paulo se expressa: 
"Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir as ciladas do Diabo, pois, não temos que lutar contra a carne e o sangue mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo e os espíritos malignos dos ares" (Efésios 6:11-12).
A partir destas advertências que estão nas Sagradas Escrituras, estamos sempre cientes de que a nossa vida representa uma persistente batalha para a salvação de nossa alma. Queira ou não, todo o ser humano desde a mais tenra infância está sujeito a optar entre o bem e o mau, entre a vontade de Deus e do demônio. A batalha entre o bem e o mau se iniciou mesmo antes da criação do mundo e assim continuará até o dia do Juízo Final. Na verdade a batalha no céu já terminou, com a completa derrota do mau. Mas o campo de batalha se transferiu para o nosso mundo, mais precisamente em nossas mentes e corações. Como veremos adiante, os anjos bons, especificamente o nosso Anjo da guarda, nos socorrem ativamente na nossa batalha contra o mau.


Campo de Ação dos Anjos em Relação ao Homem


Em contraste com os espíritos maléficos, os anjos bons sentem compaixão por nós e com frequência nos protegem e nos ajudam. Quanto a isso o Apóstolo Paulo escreve:
 
"Não são eles por acaso os espíritos enviados a serviço, por causa daqueles que herdarão a salvação?" (Hebreus 1:14).

As Sagradas Escrituras tem fartas narrativas com relação à ajuda dos anjos. Daremos apenas alguns exemplos:
 
Abraão enviou seu servo a Nahor, convencendo-o que o Senhor enviaria com ele Seu Anjo e iria possibilitar uma favorável jornada.
  
Dois anjos salvaram Ló e sua família na fuga da cidade de Sodoma destinada a ser destruída. 
 
O patriarca Jacó, retornando para o seu irmão Isaú, foi encorajado por uma visão onde aparecia uma multidão de anjos. Pouco antes de sua morte, enquanto abençoava seus netos Jacó disse a José: "Um anjo que me redimiu de todo o mal abençoará estas crianças." 

Um anjo contribuiu para a saida dos hebreus para fora do Egito. Um anjo ajudou Josué durante a conquista da Terra Prometida. Um anjo ajudou os juizes hebreus a repelir os inimigos. Um anjo salvou os habitantes de Jerusalém da morte certa quando a armada assíria de 185.000 homens cercou a cidade. Um anjo salvou três adolescentes quando estes foram jogados dentro de uma fornalha incandescente e mais tarde salvou o Profeta Daniel quando este foi jogado aos leões (Gen. 32:1-2 e 48:16; Êxodo 14:19 a 23:20; Josué 5:13-14; Juízes 2:1 e 13:3; Isaías 37:37; Daniel 3:49, 6:22).

Aparições de anjos ao homem são constantemente revelados no Novo Testamento:
 
Um anjo anunciou a Zacarias a concepção de São João Batista. Um anjo anunciou à Puríssima Virgem Maria a concepção do Salvador e apareceu em sonho a José. Uma multidão de anjos louvou e glorificou o nascimento de Cristo e um anjo anunciou a boa nova do nascimento de Cristo aos pastores e evitou o retorno dos mensageiros de Herodes. 

Com a vinda do Filho de Deus as aparições de anjos se tornaram mais frequentes, um fato que o Nosso Senhor profetizou aos Apóstolos, dizendo que dali em diante o céu se abriria e que eles, os apóstolos, iriam ver "os anjos ascendendo e descendendo para o Filho do Homem." 

Certamente os anjos serviram Jesus Cristo durante as tentações no deserto e um anjo veio fortalece-Lo no Jardim de Getsêmane. 

Anjos anunciaram às piedosas mulheres de Sua Ressurreição e aos apóstolos, por ocasião da Ascenção de Cristo da Sua vinda à terra pela segunda vez. 

Um anjo libertou os apóstolos de prisão, bem como o apóstolo Pedro que tinha sido condenado à morte. 

Um anjo apareceu a Cornélio e instruiu-o chamar o apóstolo Pedro para que ele, Pedro, instruísse Cornélio na palavra de Deus (João 1:51; Atos 5:19, 12:7-15 e 10:37).

Nosso Senhor Jesus Cristo por diversas vezes fez menção aos anjos:
 
Segundo Suas palavras os anjos conduziram a alma de Lázaro o mendigo ao seio de Abraão. (Lucas 16:22).
 
O arrependimento de um pecador já é motivo de júbilo para os anjos. (Lucas 15:10).
 
Eles virão com Ele antes do final dos tempos e irão separar os justos dos pecadores (Mateus 13:39-41, 16:27).
 
Ao observar as recomendações de Nosso Senhor Jesus Cristo e através de muitos exemplos bíblicos e do nosso dia a dia percebemos que os anjos agem sempre com bondade no atendimento do bem e da salvação dos homens. (Lucas 16:22 e 15:10 - Mateus 13:39-41, 16:27 e 25:3-31).

Ao mesmo tempo, os anjos estão totalmente devotados a Deus. Quando o homem transgride as leis de Deus um anjo o detém e até o castiga.
 
Por exemplo, por ocasião da expulsão dos pecadores do paraíso, o Querubim ficou de guarda na porta do Paraiso empunhando uma espada de fogo.
 
Um anjo com uma espada se postou diante do profeta Balaão para detê-lo de sua má intenção.
 
Um anjo golpeou Herodes na Cesaréia por causa de seu orgulho. (Atos 12:23).
 
O Livro das Revelações nos fala dos anjos que castigaram os pecadores (Apocalipse 8-19). É importante observar que o castigo aqui tem um propósito de benevolência: para que os pecadores se conscientizem do seu pecado e se arrependam e para direcioná-los a se voltarem a Deus (Gênesis cap.3, nr. 22:23, Atos 12:23, Revel. cap 8-19 e 16:11).

Na verdade os anjos, pela vontade de Deus, participam na vida de todas as nações de uma maneira muito mais intensa do que supomos. Através da visão do profeta Daniel, é sabido que existem anjos a quem Deus confiou o destino de povos e nações da terra (Daniel 10-12). Sobre isto os santos Pais da Igreja expressaram os seguintes pensamentos: 
"Alguns deles (anjos) se postam diante do Grandioso Deus, outros, através de seu empenho sustentam o mundo inteiro" (São Grégório o Teólogo - "Hinos Místicos," Homilia 6).
Desde os tempos antigos tem sido costume da Igreja se dirigir aos anjos através de orações. Mesmo no Antigo Testamento, os hebreus tinham no topo da Tábua dos Dez Mandamentos e mais tarde no Santo dos Santos, imagens de Querubins. Os hebreus costumavam rezar diante deles. Foi entre estes dois Querubins que Deus falou a Moisés. Os anjos se manifestam como portadores da santidade de Deus; por isto foi ordenado a Josué quando apareceu um anjo: 
"Tire as suas sandálias dos pés porque o lugar que estais pisando é santo" (Êxodo 25:18-22; 1 Reis 6:23; Josué 5:15).

O Anjo da Guarda

Mateus 18:10
"Um Anjo da paz, fiel guia e guardião de nossas almas e corpos..." assim rezamos durante as liturgias. A Igreja Ortodoxa acredita que toda a criança recebe de Deus um Anjo da Guarda. Nosso Senhor Jesus Cristo disse: 
"Estejam atentos e não desprezem nenhum destes pequeninos; pois Eu vos digo, os seus anjos sempre vêem a face do Meu Pai no céu" (Mateus 18:10).
O abençoado Agostinho escreve: 
"Os anjos estão conosco em toda hora e todo lugar, com muita atenção e incansável empenho nos auxiliam e preveem nossas necessidades e se portam como mediadores entre nós e Deus e elevando a Ele nossos gemidos e suspiros... acompanhando-nos nas nossas viagens eles vão e voltam conosco atentos e observadores do nosso comportamento se estamos sendo honestos e honrados em meio à maldade que nos cerca e observando a nossa intenção no empenho da salvação eterna." 
Um pensamento similar é expresso por São Basílio, o Grande: 
"Todo aquele que tem fé tem um anjo, que, como um orientador para a criança direciona sua vida." 
E, para confirmar isto ele faz menção do Salmo que diz sobre Deus que: "pois a seus anjos Deus ordenará em teus caminhos todos te guardarem" (Salmo 90:11, Salmo 33:8). 
O Bispo Teófanes, o Recluso, instrui em uma de suas cartas: 
"Devemos nos lembrar que temos um Anjo da Guarda e procurá-lo em nossos pensamentos e corações. Isto é bom nos tempos pacíficos e especialmente durante as tempestades. Quando falta este contato ele não tem como influenciar-nos. Por exemplo se alguém se aproxima de uma areia movediça ou um abismo de olhos e ouvidos vedados, como poderá receber auxilio? 
Assim o cristão deverá lembrar-se de seu bom anjo, que no decurso de sua vida inteira se preocupa com ele, se alegra pelo seu aprimoramento espiritual e sofre com as suas recaídas. Quando o cristão morre seu anjo conduz sua alma a Deus. Ao se transportar ao mundo espiritual, segundo muitos relatos, a alma vem a conhecer o seu Anjo da Guarda."

Segue uma curta oração da manhã ao nosso Anjo da Guarda (extraido do Livro de orações russo):
Anjo de Deus, meu santo protetor, que me foi enviado por Deus para minha proteção, fervorosamente eu lhe imploro: me ilumine e me preserve de todo o mal, me oriente nas boas ações e me direcione no caminho da salvação. Amém.


Falsos Anjos


Dr. Steven Buchnell


O início dos anos 90 se caracterizou por uma invasão de literatura sobre os anjos. Muitos destes livros contém relatos tocantes sobre o papel dos anjos na salvação de almas no dia a dia de suas vidas. Todos estes livros recomendam uma postura de abertura e confiança para com os anjos e aceitação de sua boa influência. Muitos destes autores encorajam uma vida centrada nos anjos e a confiança de sua influência e ao mesmo tempo advertem que as vezes anjos tem um comportamento diferente e tomam aparência não-angelical.

Neste ponto quase todos estes autores se calam quanto a um aspecto muito importante deste tema ou seja, que o diabo e sua legião de demônios, anjos decadentes, que estão aptos a mascarar-se em anjos luminosos para destruir as almas. Desde as cartas de São Paulo (2 Cor. 11:14) até os tempos modernos, os documentos da Igreja descrevem como estes anjos decadentes se mascaram não somente em anjos luminosos mas também em santos, Nossa Senhora Virgem Maria e Cristo.

Por exemplo, no seu discurso sobre a importância em discriminar anjos, São João Cassiano conta como um monge causou sua própria morte e como, em outra ocasião, outro monge estava preparado para matar seu próprio filho. Em ambos os casos demônios disfarçados em anjos eram a causa de tudo (Filokalia vol I). 

Em outra ocasião e em outro lugar, nas cavernas de Kiev, é registrado que um jovem monge de nome Nicetas, reverenciou um anjo que tinha lhe dito não gastar tempo em orações, o que seria feito por ele, isto é, pelo próprio anjo, e que seria mais prioritário para Nicetas investir em leitura. Enquanto que o pseudo anjo rezava, Nicetas se tornou vidente. Em pouco tempo ele passou a não querer mais ouvir sobre o Evangelho, ao invés disso preferindo se aprofundar no Antigo Testamento. Finalmente os colegas monges perceberam que ele estava possesso pelo demônio, conseguiram recuperá-lo através de oração. Nicetas se arrependeu, e, pela graça de Deus, mais tarde veio a ser ordenado bispo da cidade de Novgorod, um pastor para seu rebanho e autor de milagres. Conhecemo-lo como São Nicetas, o Recluso.
"Tomai cuidado com os falsos profetas. São os que chegam perto de vós sob a aparência de ovelhas mas por dentro, de fato, são lobos vorazes" (Mateus 7:15-16). "Pelo contrário, eis o fruto do espírito; caridade, alegria, paz, paciência, gentileza, bondade, fidelidade, doçura, autodominio, contra tais coisas não existe lei" (Gal.5:22-24).
Para colocar em prática estas palavras de Cristo e São Pedro, torna-se muito difícil para nós identificar anjos verdadeiros dos demônios disfarçados, em vista da nossa fragilidade humana, que é o nosso estado de pecado, a nossa auto-ilusão à qual nos permitimos conscientemente; e por outro lado, os milhares de anos de experiência do inimigo do homem e de Deus. Através do exemplo destes monges, que eram pessoas que dedicaram por inteiro suas vidas a Deus, vemos que nem estes estão isentos de serem enganados pelo demônio. 

Os Santos Pais da Igreja, sábios pela graça do Espírito Santo, com muito amor nos procuram convencer de que o melhor caminho é rezar e procurar a humildade e a orientação de um pai espiritual. Eles são enfáticos em nos alertar a sermos cautelosos e questionar com rigor e procurar um pai espiritual experiente, quando acontecem estas visões. Quando temos dúvida, mesmo pequena, sobre a procedência, é preferível dizer, "eu não sei se é verdadeiro," e colocar o assunto de lado ou simplesmente rejeitá-lo e não procurar visões ou sensações de beatitude, mas rezar e pedir proteção a Deus. Se a visão for verdadeira, procedente de Deus, Deus nos ajudará e os anjos se alegrarão com a nossa humildade e sobriedade. (Veja a Filokalia, vol I, III e IV da edição inglesa para alguns assunto pertinentes). Resumindo, o que os Santos Pais da Igreja nos falam é muito diferente do que falam os autores dos livros populares de hoje.

O demônio mente, calunia, e provoca confusão; e para atingir seu objetivo ele irá mentir para nós, não somente através de palavras, mas, de disfarces de qualquer tipo. Qualquer fenômeno sobrenatural que é motivo de confusão e distração (os chamados sequestros por alienígenas como um exemplo atual) poderá ser um tipo destes disfarces.