sábado, 12 de março de 2016

Meditação Para O Domingo Do Perdão


Metropolita Chrysóstomos



Este é o quarto e último domingo da temporada preparativa para a Grande Quaresma, e amanhã iniciamos o período bendito da Grande Quaresma.

No "Domingo do Fariseu e do Publicano", Cristo abre as portas do arrependimento e inicia o caminho que conduz à Grande Quaresma.

No "Domingo do Filho Pródigo" se direciona o olhar para o Pai, a meta da Grande Quaresma.

No "Domingo do Juízo Final" e da "Abstinência de Carne", se medita sobre a importância do próximo, porque com ele se cumprirão as "obras do amor".

E hoje, no "Domingo do Perdão", se dá ao próximo o beijo de amor para iniciar o jejum com alegria, reconciliando-nos com Deus e com o próximo, e, por conseguinte, conosco mesmo.

Nos Ofícios e orações deste domingo, como assim também na passagem do Evangelho (Mt 6:14-21), duas temáticas se sobressaem. 

A primeira trata da comemoração da expulsão de Adão do Paraíso, o qual o deixa em lágrimas. Os hinos e as leituras bíblicas comparam a situação paradisíaca com a situação posterior à queda, a qual realmente merece o pranto e o arrependimento, algo que os hinos reiteram exaustivamente.

A segunda temática trata do perdão, isto é, pedir perdão a Deus e perdoar ao próximo. Sobre isto nos fala a passagem do Evangelho: o perdão que Deus nos concede e o perdão que devemos conceder aos demais. Justamente antes de tratar do tema do jejum. Por meio desta celebração, a Igreja conclui este período de preparação com o perdão, e inicia a Grande Quaresma.

Assim, ambas as temáticas - a do pranto de Adão pela expulsão do Paraíso e a de pedir o perdão de Deus e perdoar ao próximo - se reúnem em um único tema, que é o jejum.

Acaso não é pelo fato de não haver obedecido a Deus, e de haver transgredido o mandamento de jejuar (ou seja, não comer da árvore proibida) a causa da expulsão de Adão do Paraíso? Agora, o jejum é a ferramenta que possibilitará a reconciliação entre os seres humanos Deus, pois, o jejum nos brinda com o perdão Divino pelo arrependimento das nossas transgressões.

Este domingo nos recorda dois acontecimentos. O primeiro é a expulsão de Adão do Paraíso; o momento da separação entre Deus e o homem, momento este retrato nas Bíblia com imagens fortes, pois Deus põe querubins para vigiar as portas do Paraíso com uma espada de fogo em suas mãos. É uma imagem que dá a entender que a porta está fechada frente a qualquer intento de reconciliação com Deus, depois que Adão e Eva se descuidaram do "jejum". O segundo é o anuncio antecipado do perdão de Deus, outorgado com a esperança de que os homens se perdoarão para que o perdão Divino se cumpra completa e definitivamente, como claramente fala a Escritura. Este será o momento da "reconciliação" com Deus.

Nos reconciliaremos com Deus por meio do jejum, o qual deve ser iniciado perdoando o próximo e nos reconciliando com ele. Pode ser que seja mais fácil ajudar a um pobre ou nos compadecer de um estranho; mas, o mais difícil é perdoar ao nosso próximo (o perdão entre Fiéis e próximos), pois, a reconciliação somente ocorre quando o amor chega realmente a superar nosso amor por nós mesmos e a todo orgulho pessoal. Será a prova que temos posto ao próximo não somente acima de algumas de nossas razões, como também acima da nossa própria dignidade; porque ao nos reconciliar com nosso próximo, alcançamos agradar o coração Divino e sentir paz.

Por isto a Igreja estabeleceu em seu culto (e o culto é a forma visível da vivência da Fé), que todos os cristãos se reúnam no Ofício das "Vésperas do Domingo do Perdão", e ao final do Ofício troquem o beijo da paz entrei e se abracem mutuamente como sinal de reconciliação e amor verdadeiro. A Tradição da Igreja Ortodoxa prevê que o Bispo junto com todos os Sacerdotes e Fiéis se congreguem na tarde daquele dia, para celebrar o Ofício de Vésperas, que se peçam mutuamente perdão a fim de iniciar a Grande Quaresma com alegria e determinação. Este gesto também pode igualmente se dar ao final da Divina Liturgia deste domingo.

Depois de abordar a necessidade de perdoar ao próximo para obter o perdão Divino, o texto bíblico aborda o tema do jejum, o qual deve ser acompanhado de sinais de alegria e não com "rostos tristes" para que as pessoas percebam que estamos jejuando.

Sim, a Quaresma não é um período em que nos torturamos, nem que nos castigamos, tão pouco se trata de "pagar" nossas dívidas para com Deus. A Quaresma é o período no qual predomina o amor fraterno, e o sentido de amor a Deus e à Luz que Ele nos concedeu. O jejum é o período no qual nos enchemos da Graça Divina derramada em nossos corações e nos alegramos com a presença da Graça em nós, a tal ponto que "nos esquecemos de comer nosso pão" - Salmo 101(102):4. A Quaresma é o período no qual não vivemos competindo por um pedaço de pão; é o período em que "o pão nosso de cada dia" se converte no pão dos anjos - quer dizer, louvor - e também em dar de comer ao próximo - quer dizer, amor.

Assim nos exorta o Ofício de Vésperas celebrado neste domingo à tarde:

"Iniciemos o período do jejum com alegria, 
Livremente desejando percorrer pela via do combate espiritual;
Purifiquemos nossa alma, purifiquemos nosso corpo,
Jejuando das paixões tal como jejuaremos dos alimentos.
Gozemos, pois, das virtudes do Espírito."

Eis aqui um tempo oportuno, eis aqui o período do arrependimento, o qual poderemos iniciar com uma frase: "Perdoa-me, meu irmão" - e, assim, iniciar juntamente com nosso próximo, a Grande Quaresma com o beijo da paz. Amém

Metropolita Chrysóstomos,
Igreja Ortodoxa Grega (GOC),
Metrópole Autônoma do Equador e América Latina